No decorrer do ano de 2020, várias falas como eu essas eu pude ouvir:
“Você viu que tá rolando uma festa “x”?”
“O que você acha das festas clandestinas?”
“Eu estou 8 meses sem trabalhar, e tem um monte de gente indo em festa clandestina.”
“Como faço para ganhar dinheiro? Não tenho outra forma para ganhar dinheiro?”
E por aí vai uma dezena de questões nesse sentido.
Então, entramos com o “Feliz 2021” na passagem do calendário, nessa mudança de 0 para 1 e partimos do princípio da renovação de esperança, das perspectivas, da fé e da vontade do que aconteceu em 2020 não se repetir, que no campo de eventos, a maior classe profissional prejudicada pela pandemia, estamos ainda com todas as mazelas, dores, dúvidas e, principalmente, discussões a respeito do assunto, principalmente ao tratar sobre festas clandestinas.
Ao iniciar essa leitura, e ao invés de convencer sobre o tema, ou de que linha de raciocínio que devemos seguir, me esvazio de qualquer opinião, ou de qualquer julgamento; meu objetivo aqui nesse passo inicial de 2021 é fazer uma análise ampla, genérica e sem partidos, para que todos nós possamos compreender em torno do assunto. Nessa mesma coluna, coloquei alguns pontos, a respeito do profissionalismo, diante não somente de uma profissão, mas para todos os profissionais que trabalham no setor, desde uma pessoa da limpeza ao produtor, desde o segurança ao artista, enfim, todos.
Para falar a respeito de uma festa ou evento, seja clandestino ou não, precisamos compreender sobre as necessidades do evento, e fazendo uma análise bem superficial, vemos que para acontecer, precisa-se dos seguintes profissionais: produtor, artistas, seguranças, profissionais de palco, de limpeza e mais um bocado de pessoas que fazem acontecer um evento. Esse é o ponto onde, se não pensarmos que estamos diante de uma pandemia, são dezenas de pessoas e porque não centenas de pessoas, que têm seus trabalhos em dia. Porém, como estamos diante de uma pandemia mundial, onde já mencionado, somos o setor profissional mais impactado, percebemos que essas pessoas todas estão prejudicadas, e pensando num âmbito nacional, politicamente e economicamente é ainda pior, visto que a maior parte desses profissionais, são ou estão na informalidade. Se pararmos para fazer uma análise sóbria e sem intenção alguma, nosso país já sofre por questões econômicas e políticas muito antes da pandemia, o que agrava muito mais a situação dessas pessoas. Por isso, ao pensar sobre o acontecimento de eventos/festas “clandestinas” e afins, precisamos analisar pelo cenário interno, onde caso não houvesse a pandemia, qual seria a maneira como o profissional estaria agindo? Como o consumidor do evento estaria agindo?
O que quero posicionar com essas indagações, é em primeiro lugar, a falta de solidariedade e de cumplicidade da classe, ora se somos do mesmo ramo, ou classe profissional, por que ao agir seja ao criticar uma festa ou seja realizar uma festa, o por que não é aberta uma discussão para reivindicação de direitos e de ações para a melhoria da classe? Por que não unimos forças para nos tornarmos mais responsáveis e dignos de direitos.
Ao longo desse ano pandêmico, críticas foram feitas duramente, seja pelo fato de frequentar, produzir ou até trabalhar numa festa ou seja por acreditar que o ideal era ficar confinado respeitando as determinações dos órgãos responsáveis.
Aqui fica minha profunda tristeza, porque a discussão a respeito do assunto é infindável e nada conclusiva, principalmente porque não coloco a minha visão individual, escreveria por minutos e horas a fio para não concluir, porque cada um de nós tem uma opinião formada sobre o tema. Ao invés de nesse momento, “colocar mais lenha na fogueira”, convido você a se colocar diante das barbáries que aconteceram: chegamos a mais de 200.000 mortos diante de uma doença que assolou o mundo, tivemos milhares de pessoas que desenvolveram doenças psíquicas e até patológicas pela ausência de trabalho, e também da ausência de familiares e amigos. Será que esse não seria o momento de utilizarmos a voz que cada um tem para gerar auxílio, gerar cooperação, gerar união para que no fim de tudo, possamos resgatar direitos? Ouvi muito durante esses meses todos, muitas pessoas se posicionarem sobre direitos, volto a dizer, que o intuito nesse momento é abrirmos uma discussão mais transparente sobre as reais necessidades dos profissionais, seja o que realiza uma festa clandestina ou o que está há muitos meses sem trabalho. Aos que frequentaram festas/eventos, você chegou a se perguntar se ao invés de olhar para sua individualidade, tivesse respeitado os órgãos governamentais e sanitários, não teríamos já minimizado alguns problemas, e estaríamos mais acessíveis?
Acredito que o ponto de fala e de escuta é sempre importante para fortalecer ou desmitificar uma ideia, o único ponto que o escritor aqui colocará é que ao invés de posicionar sua crítica seja para construir ou destruir, seja para sua opinião a respeito de cada profissional seja ele produtor, DJ etc. Sejamos analíticos ao identificar o quanto estou atuando para que não seja um peixe fora do aquário? Ou quanto estou atuante para reivindicar direitos políticos e econômicos diante de como estamos vivendo? Quanto você se solidarizou pelos seus pares, colegas que ficaram impossibilitados? Ou quanto você se colocou no lugar daquele que desrespeitou as regras, mas por necessidades? Ou simplesmente para aqueles que desrespeitaram?
O cancelamento é a cultura que estamos empregando da facilidade das redes sociais, ora porque todes temos vozes, ora porque pode fazer algum sentido, mas seria mesmo o cancelamento a melhor saída para aplicar para ambos os lados? Cancelar é o resultado? Discutir para somar não seria a solução?
Então como meta, como desejo, como fé para 2021, projeto os seguintes desejos:
– União entre os profissionais do setor;
– Desenvolvimento de políticas para os profissionais do setor;
– Profissionalização para as pessoas coerentes com as necessidades do mercado;
– Sair da informalidade;
– Sucesso;
– Festas
– Eventos
– Saúde
E o mais importante: a vacinação e uma campanha ágil, concreta e acessível a todos.
Feliz 2021!