Abrace os seus sentimentos. Existem cheiros que você nunca sentiu, dores que nunca teve, coisas que nunca viu, pensamentos que nunca imaginou.
Se você se abrir pra vulnerabilidade, perceberá a grandeza do mundo e, consequentemente, da compaixão, mas, é importante entender que a nossa vida é um mundo incerto e não uma casinha segura onde dá para se esconder. Ela é impermanente e o que traz o sofrimento é justamente essa sensação de controle que achamos que podemos ter. Aí, você pode acrescentar nossas projeções, expectativas, sonhos que podem não se concretizar e, quando não acontecem, viram frustrações.
Nós temos uma tendência a achar que o sofrimento é causado pelas experiências externas, então tentamos resolver esses acontecimentos e nunca se resolvem. Tudo bem que várias situações dão para aclarar: você está sujo e vai tomar banho. Você resolve. Entretanto, várias situações no meio da vida não se desenrolam, você não sabe se vai demorar uma semana ou dez anos e, se a gente tentar resolver o tempo todo, nunca teremos paz. Curar seria reconhecer isso e fazer as pazes com a impermanência das coisas.
Quando estamos em sofrimento, estamos sempre em busca de nos proteger dele e aí criamos um muro que pode ser a raiva, o ressentimento, a mágoa, os ciúmes, a tristeza, mas o amor é uma brecha neste muro. E se abrirmos essa brecha, vem a libertação.
A maioria das emoções a gente nem mesmo percebe e as ações mais comuns que tomamos são:
A indiferença – simplesmente desconsideramos o que estamos sentindo;
A aversão – ressentimos as emoções e geramos raiva por elas existirem;
O apego – nos agarramos nas emoções e ficamos revivendo elas em nossas mentes.
Quando você está presente na hora do sofrimento, você nem fica indiferente, nem rejeita, nem segue em frente como se ele não existisse; você enxerga a emoção e relaxa nela. Ok, ela existe, está aqui, vamos lidar com ela. E quando você percebe, transforma a emoção em compaixão. Em amor.
Não estou dizendo para chamar o sofrimento, a vida já traz ele naturalmente, porém que fique registrado que ela não é só sofrimento, mas sim pra você enxergar que você está se fechando ao que está chegando até você. A vida está atravessando a gente e se abrir é uma aventura, porque ela é muito múltipla e a gente tenta tirar uma parte dela – o sofrimento – como se ele não fosse te tocar, mas se você se abrir, você também se abre para a sabedoria.
Investigue-se! De onde vem o sofrimento? Como você se fecha?
Se você se livra da aversão, você já está aberto para lidar com aquilo e aí você relaxa.
Não existe jeito certo de fazer isso. Que alívio, não? Existe o seu jeito de fazer isso. Confie na vida, porque ela tem uma bondade para te ajudar nisso naturalmente. Abra-se para a vida. Quanto mais você estiver disposto a sair da sua zona de conforto, mais confortável você ficará. E mais importante do que fazer isso é entender o processo. Quanto mais você entender como você sofre ou não sofre, mais você navega na vida.
Outra coisa é você perceber que todo sofrimento que você está sentindo, existem vários seres que estão sofrendo disso também, então quando você se tira da situação, você não está mais só. E se você perguntar pra essa pessoa por que ela está sofrendo, ela vai responder: “eu estou tentando ser feliz”. Todos os seres querem a mesma coisa: ser feliz. Mas é justamente esse nosso jeito torto de buscar a felicidade que gera o sofrimento. E se não existe perfeição, não existe vida sem sofrimento.
Por fim, fica a reflexão: você não gostaria de deixar de sentir qualquer coisa que te traga algum tipo de dor, ficar apenas anestesiado a tudo que te cerca, gostaria? Deixe que seu coração se parta, existe muito aprendizado nisso.