COLUNA | Versatilidade Musical

Logo após que entrevistei a DJ Fracta em outubro, ela me sugeriu essa pauta, topei na hora! Como não sou DJ, então fiz o que adoro fazer por aqui, trazer depoimentos de pessoas do meio, e, olhando para essa pauta com minha ótica, me lembro de uma amiga uma vez falar “Se o DJ toca só um estilo, ele não irá tocar em lugar algum”. Será?

Alguns DJs seguem um nicho específico, definindo o estilo que eles querem abordar em seu projeto e podem até trabalhar com dois projetos distintos para assim poderem tocar diferentes vertentes; enquanto outros dentro de um único projeto, transitam pelas sonoridades. Ser versátil abre um leque de possibilidades que certamente agrega bagagem e habilidades ao artista, o que para alguns, ao trabalhar dessa maneira, o DJ ganha um status de ser um DJ completo, um DJ versátil.

Eu trouxe um depoimento do Bragyptian, DJ egípcio radicado no Brasil. Bragyptian é um DJ que eu diria inquieto quando o assunto é versatilidade, pois se aventura em uma diversidade de vertentes. 

“Tudo começou pela simples pergunta para um clubber: ‘Qual som que você mais gosta?’ Sempre foi difícil pra eu responder essa pergunta, pois quando tentava encaixar as tracks que eu mais gosto dentro de uma vertente, surgiam outras que me conquistavam, que me remetiam à outra vertente. Foi muita reflexão até chegar numa resposta simples: ‘Eu gosto de música de qualidade, independente do gênero.’

Como DJ, acredito que sentir a vibe do público em cada gig, se conectar com a energia da galera e ajustar a sua apresentação conforme, é uma característica essencial de um bom DJ. Claro, isso sem fugir muito da tua identidade sonora e sem tocar um som que não te agrada pessoalmente.”

Crédito: Guto Tarasiuk, @gutotarasiukfotografia

Perguntei a ele sobre como é construir uma identidade tocando diferentes estilos.

Acredito que a identidade sonora é algo que vai mais além de um estilo ou uma vertente musical. Vejo que muitos DJs, por não encontrarem ainda as suas respectivas identidades, acabam definindo um estilo ou gênero como identidade sonora, e isso é um fator limitante. Claro que é mais desafiador fazer um set coerente e manifestar a tua identidade sonora tocando vários estilos.

Por outro lado, vejo que foi formando uma cultura de pista onde vários clubbers querem ouvir X track ou Y estilo ao invés de ouvir de mente aberta e, depois decidir se agrada ou não. Isso foi mais um desafio que decidi encarar porque acredito que depois de atravessar essa barreira, o retorno é grande. DJs mais renomados mundialmente se destacaram pela versatilidade, Carl Cox e Peggy Gou são exemplos. É muito gratificante chegar ao ponto que o seu público vai na gig sem ter ideia de qual estilo você vai tocar, porém confia que vai ser bom!”

Imagem Divulgação

Também conversei com a Fracta, DJ que tive a oportunidade de escrever uma matéria de homenagem ano passado, e que, em mais de 10 anos de carreira, a DJ curitibana explorou uma diversidade de sonoridades.

“Na verdade, não foi bem uma escolha. Eu não gostava de música eletrônica até os meus 14 anos, quando tive meu primeiro contato com o house comercial e o psy que tocavam nas rádios na época, em meados de 2000/2004. A partir daí, percebi que comecei a apreciar inúmeras sonoridades dentro daquele 4×4, nunca me prendi a vertentes. Durante meu curso de produção em 2011, comecei a pesquisar mais a fundo house music, e o verdadeiro aprofundamento e conhecimento de causa surgiu quando me apaixonei por artistas como Trentemoller, Daft Punk e The Prodigy. Identidades musicais totalmente diferentes. Pra mim, música boa não tem estilo ou vertente. Ou a música é boa, ou é ruim. Não me importo se ela vai do Psy ao Deep house.

Eu amo essa versatilidade! Consigo apreciar diferentes artistas em diferentes horas do meu dia. Quem cria a minha identidade é o público que me segue, porque sabe que o que eu entrego está diretamente de acordo com os fatores de cada momento, cada pista e cada público. Eu entrego de acordo com a proposta da festa, e vou levando conforme a resposta de quem está me assistindo. Sem me prender a rótulos, estilos ou vertentes.” 

Bragyptian e Fracta falam sobre como a “boa música” é encontrada em uma diversidade de rótulos e isso faz com que ambos estejam abertos a testar coisas novas. Na minha ótica, um DJ versátil pode ser aquele que dentro de uma vertente explora diferentes possibilidades ou aquele que traz para o seu projeto uma diversidade de estilos e sabe mesclá-los com sutileza.

Foto da capa, crédito: Loiro.

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