O conteúdo deste artigo está relacionado ao tema projeto de vida que venho abordando nas colunas anteriores: “Você tem um projeto de vida?”, “Projeto de vida e identidades” e “O bom trabalho”. Eu escolhi escrever sobre ser artista, para isso, vou pedir licença para você, leitor, porque vou contar um pouco da minha história de vida.
Quando eu era uma criança, eu tinha fascinação pelo mundo da televisão. Eu era um assíduo telespectador, até porque era praticamente o único meio de entretenimento que a gente tinha fácil acesso em Marialva, que é uma típica cidade pequena do interior do Paraná, isso quer dizer, uma vida cultural restrita, bem restrita. Enfim, voltando ao causo, eu acompanhava diariamente as telenovelas, me vinculava facilmente às suas histórias, me imaginava nelas, além de também produzi-las e reproduzi-las no meu imaginário criativo. Eu era fã de programas e dos apresentadores, claro, Maria da Graça Xuxa Meneguel era a minha musa icônica master. A programação televisiva marcou a minha vida profundamente, pois aquele mundo dentro da tela me impulsionava para os meus propósitos de vida. Eu queria ser um deles. Eu me identificava com tudo aquilo e me via fazendo qualquer papel daqueles na TV; eu poderia ser ator, dançarino, apresentador, comediante, repórter, enfim, qualquer um deles, por causa disso eu fui impulsionado a escrever textos de natureza poética, narrativa, memórias, reflexões, teatro desde os meus 10 anos, além de participar e promover apresentações de teatro e dança na escola onde estudei o ensino fundamental. Eu queria ser artista.
O que, então, eu fiz? Fui atrás de legitimação. O que eu teria que fazer para ser artista? Fui descobrir intuitivamente o que era ser artista, então minha primeira atitude foi escrever uma cartinha para a Rede Globo manifestando o meu desejo de ser artista. Esta carta nunca foi respondida, é claro (risos). Lembro que surgiu a oportunidade de eu fazer um curso profissionalizante de teatro, então eu fiz o curso. Aos 14 anos, eu fiz a minha primeira formação e estreei minha primeira produção de teledramaturgia na rede de TV local. Aos 15 anos fiz um curso de modelo e manequim (na época chamava assim), ingressei num grupo de teatro católico e já acumulava uma coletânea de textos literários autorais de aproximadamente 40 obras. Mesmo assim, eu ainda não me via como artista. Para resolver isso, resolvi fazer uma graduação em Letras, porque, daí eu teria um diploma na área me dando a legitimação que eu queria. Fiquei quatro anos estudando linguística e literatura, fiz a escolha certa, me formei. Sabe o que aconteceu? Continuei não me vendo como artista.
Aos 29 anos decidi me mudar para São Paulo, talvez, com esta mudança, eu poderia me tornar de fato um artista. Cheguei aqui, me estabeleci e não, não era só isso. Faltava algo. Não conseguia me ver como um. Decidi que se eu tivesse um livro publicado fatalmente eu seria um artista. Não teria como negar isso, afinal, um livro é a materialização de um feito artístico. Sabe? Não foi dessa vez.
Neste entremeio, eu conheci uma pessoa muito importante para mim. Ela carregava consigo essa mesma questão. Eu via nela arte. Eu enxergava ela como artista. Bom, tantos papos, reflexões que no fim das contas, eu entendi junto com ela que nós éramos artistas. Por quê?
O fundamento do trabalho artístico é realizar algo desafiador para si e que alcance o outro, de modo novo, diferente. Claro, não somente isso. É necessário, também, colocar ideias em prática. O trabalhar é essencial. Assim como, sair do lugar de acomodação, porque é importante se inovar no modo de pensar e agir. Liderar processos de maneira inventiva, inteligente e talentosa. Ter a imaginação como aliada para criar obras com elevado valor e grau de diferenciação em relação a outras obras. É comum que empreender criativamente surpreenda de modo positivo, pois, geralmente, não se espera algo novo. Criatividade tem a ver com inovação, melhorar algo já criado.
A identidade do artista é criativa. É a capacidade de transformar realidades em arte usando as diferentes linguagens para isso. Basta ter o ímpeto e a atitude para fazer arte. Não existe diplomação. Não existe autorização. Não existe conselho superior que regulamente. A arte é o campo das possibilidades, então, o artista é possível de qualquer forma, qualquer lugar, qualquer trabalho.
O artista expressa sua identidade na sua composição de músicas, de teatro, de poema, de pintura, de arquitetura, de dança, enfim, tantas formas possíveis.
Diante disso, eu pude notar que eu me construo como artista, na mesma proporção que construo meu projeto de vida. Ser artista é mais que um fim, é uma jornada.
Quando o artista compartilha as situações que ocorreram em sua vida e os seus desafios, ele se torna único pois estabelece uma relação de proximidade com o público. A nossa história de artista e as nossas fragilidades geram uma poderosa conexão com as pessoas, fazendo com que as pessoas se identifiquem com a história, vinculando-as ao nosso trabalho.
Hoje sei que sou artista, ainda não sou o artista que quero ser, mas acho que isso é justamente o movimento da identidade do artista, fazer da sua própria vida uma obra de arte, que só acaba quando acaba.
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