Fala Colors! Vamos conversar hoje sobre algo que tem dividido opiniões nos últimos dois anos no mundo da música eletrônica. Uma variante da House Music que surgiu no final dos anos 80 e início dos anos 90, com ênfase em percussões intensas e ritmos africanos, o Tribal House. Este gênero surgiu nos Estados Unidos, com raízes profundas nas cenas de clubes de Nova York e Miami. A fusão de ritmos percussivos com a House Music tradicional criou um subgênero energético e envolvente que rapidamente ganhou popularidade e influenciou a música eletrônica globalmente.
Desde sua ascensão nas pistas de dança, o Tribal House é um gênero icônico da música eletrônica, que evoca um senso de ancestralidade e conexão com ritmos primitivos e que ecoam através dos corpos de quem se entrega à pista de dança. No centro desse movimento musical vibrante estão suas diversas vertentes, cada uma oferecendo uma experiência única para os ouvintes e frequentadores de festas.
No vibrar das batidas tribais, encontramos uma riqueza de sonoridades que ecoam além dos limites do tempo e do espaço. No universo do Tribal House, uma multiplicidade de estilos e abordagens florescem, refletindo a diversidade de expressão encontrada dentro da música eletrônica.
Entre os artistas e DJs mais influentes no desenvolvimento e ascensão do Tribal House global, destacam-se nomes como Danny Tenaglia, Junior Vasquez, Deep Dish, Erick Kupper, Oscar G, Ralph Falcon, Peter Rauhofer, Master At Work, DJ Paulo, a dupla Rosabel (Ralphi Rosario e Abel Aguilera), Tony Moran, o duo Thunderpuss (Chris Cox e Barry Harris), Antoine Clamaran, dentre outros, sendo pioneiros em incorporar ritmos tribais em suas produções e sets.
Seguindo a tendência global, o Tribal House encontrou um terreno fértil em países de língua latina, onde a música tradicional e os ritmos folclóricos já desempenhavam um papel importante na cultura musical. Países como Brasil, Espanha e partes da América Central e do Sul começaram a abraçar esse novo som, incorporando elementos de suas próprias tradições musicais.
DJs e produtores brasileiros contribuíram significativamente para a popularização e o início do Tribal House no país, bem como foram responsáveis por tocarem em eventos, clubes e também produzirem faixas originais que se espalharam mundo afora. Para citar alguns, temos: Felipe Venâncio, DJ Memê, Mauro Borges, Robson Mouse, Marcelo Talandré, Marcos Carnaval, a dupla Altar (Macau e VMC), Will Beats, FC Nond, Ana Paula, MVee, Demu, Gustavo Scorpio, Robix, Rafael Lelis, Filipe Guerra, Grá Ferreira, Tommy Love, Breno Barreto, DJ Morais, Edson Pride, Las Bibas From Vizcaya, dentre outros.
É bem verdade que o Tribal House produzido na atualidade é bem diferente do que era consumido há 10 anos. Atualmente, com suas batidas percussivas ainda intensas e ritmos energéticos, se encaixa perfeitamente no ambiente vibrante e dinâmico das festas Circuit. O Circuit Music refere-se a um estilo de vida e uma série de festas e festivais direcionados principalmente para a comunidade LGBTQIAPN+, caracterizados por eventos grandiosos e produções de alta qualidade.
Porém, é fascinante observar como DJs dentro da mesma vertente, como o Tribal House, podem explorar sonoridades tão diversas. Hoje em dia temos os que optam por um som vulgarmente denominado pelo público LGBTQIAPN+ de mais “fino”, com batidas sutis e melodias envolventes que convidam os ouvintes a uma jornada sonora transcendental. Por outro lado, há os adeptos do som “panelada”, como também se referem a certos estilos do Tribal atualmente. Esse último, apresenta batidas poderosas e percussão intensa, geralmente cercada de mashups e bootlegs produzidos “fora do tom” e que geralmente trazem múltiplos vocais e referências em uma única faixa.
Essa nova característica do Tribal House divide opiniões do público: para uns, o som mais sujo dificulta a harmonia da pista para um ritmo mais coeso e elaborado; para outros, encaram a nova tendência como parte essencial do som atual e preferem dançar um ritmo carregado de percussões, chicotes e efeitos sonoros de leques que emitem uma energia explosiva. E ainda, surpreendentemente para muitos públicos, até mesmo o estilo “forró” encontra seu lugar nas mãos de alguns DJs habilidosos, que adicionam pitadas do folclore regional e ritmos tradicionais à essa mistura.
Essa variedade de abordagens no Tribal House é um reflexo da riqueza da cena musical eletrônica como um todo. A diversidade cabe em todos os lugares, e a música é uma expressão poderosa dessa diversidade. Em um mundo onde o novo tempo toca todas as melodias, é essencial abrir nossas mentes para aceitar e apreciar novos estilos e sonoridades.
É importante reconhecer que a cena musical está em constante evolução, e isso não difere do Tribal House. Embora alguns possam argumentar que o gênero está passando por mudanças significativas, a verdade é que o espírito do Tribal House continua vivo e pulsante. As festas ainda são espaços onde todas as sonoridades são bem-vindas, desde as mais sutis até as mais intensas, satisfazendo os mais variados gostos.
O Tribal House não está morrendo, apenas diversificou e expandiu seu público. De dois anos para cá, o Tribal House começou a se fundir com elementos de músicas africanas em low bpm (batidas por minuto em baixa frequência), dando origem ao Afro House. Essa transição foi marcada pela incorporação de ritmos ainda mais variados e uma maior ênfase em elementos orgânicos e vocais da cultura africana.
O Afro House mantém a essência percussiva do Tribal House, mas com uma abordagem mais diversificada, limpa, simples e lenta, que reflete a rica tapeçaria de culturas e tradições musicais africanas. Artistas como Black Coffee da África do Sul e Djeff da Angola são exemplos de produtores que levam o Afro House a novos patamares, conquistando audiências globais e expandindo ainda mais os limites do que começou como uma variação percussiva da House Music.
Portais de música como Beatport dedica uma presença significativa ao Afro House. É como um lembrete de que a música é uma força dinâmica que transcende categorias e rótulos, e que o verdadeiro poder da música está em sua capacidade de unir pessoas e criar momentos de alegria e celebração.
Portanto, que possamos celebrar a diversidade sonora do Tribal House ao Afro House e de todas as suas vertentes que fazem com que o público reconheça que há espaço para todos na pista de dança e na cena musical eletrônica do Brasil e do Mundo.
Texto por: Cássio Rocha e DJ Macau
Colaboração: Orly Fernandes