Anos 70. Década na qual a moda, estilo de vida e música convergiram no nascimento de um estilo musical grandioso: Disco. Disco vem da abreviação de DISCOTECA; clubes que emergiram rapidamente para este tipo de sonoridade e funcionavam como principal lugar de interação social da galera que queria dançar. A era Disco alavancou a carreira de muitos artistas e lançou luz sobre um novo profissional, o DJ, seu maior porta voz (ou porta-discos rs). Este novo gênero musical deu a luz também a um leque enorme de vertentes da música eletrônica que se popularizaram muito, dentre elas House Music, Techno e Tribal House. A House Music, e posteriormente o Techno, seguindo os passos da mãe Disco, ganharam atenção mundial da mídia e da indústria fonográfica gerando fama e reconhecimento global para os DJs destas vertentes. Já o Tribal House ganhou muita força nas Boates (evolução dos Clubes Disco), principalmente entre a tribo LGBTQIA+, que precisava de um lugar longe da violência e de julgamentos para dançar e ser feliz em segurança. Mas o Tribal, que há décadas embala os sábados de milhares de pessoas ao redor do mundo, ainda está engatinhando em busca de atenção da indústria musical. No Brasil e no mundo existe uma carência enorme de espaço nas rádios, TV e principalmente nas gravadoras para os artistas da Tribal House. Por que isto acontece? Existe um preconceito com a Cena? Com o estilo musical? Com seus Artistas?
Com o passar dos anos, o público gay foi saindo do armário e, consequentemente, os clubes LGBTQIA+ também. As boates, que ainda hoje são o maior palco para o Tribal, já deixaram de ser apenas “guetos” para se consolidarem como grandes empresas de entretenimento. Hoje são engrenagens geradoras de muita receita que estão em contínua expansão através de filiais e/ou da criação de grandes selos de festas itinerantes ou ainda em alguns casos, festivais. No entanto, seus artistas não ocupam os mesmos espaços e não são igualmente valorizados dentro da cena eletrônica brasileira em comparação aos artistas, por exemplo, do Brazilian Bass. Esta vertente que acabou de sair do berço e foi criada por DJs brasileiros que se apresentam para a “cena hétero” vive sua ascensão meteórica no mercado musical nacional e internacional. Quando olhamos para as estruturas de festivais, patrocinadores e principalmente, cachês de artistas, sejam eles DJs ou cantores, o abismo entre o B. B. e o Tribal só aumenta. É impossível não notar a ausência de representantes de Tribal House ou de seus primos como o Progressive House e Circuit, no Line Up de grandes festivais de música eletrônica como Tomorrowland e Ultra Music Festival.
Não podemos esquecer que é natural que todos que gostam de um estilo musical, acabam frequentando os lugares onde ele toca, mas as pessoas não vão mais para uma festa só pela música, elas vão também pela experiência. Há quem diga que o sentimento de pertencimento à uma tribo, que é uma necessidade intrínseca do ser humano, fala mais alto na hora de escolher aonde ir. Se seus amigos, por exemplo, gostam de Tribal House e este estilo toca em uma festa específica, muitas vezes você acaba indo porque quer estar perto deles, certo?
Acompanhando a tendência de crescimento no mercado, as festas de Tribal House tem aberto suas portas para todas as tribos, de todas as sexualidades e já há algum tempo, deixaram de ser frequentadas apenas por pessoas LGBTQIA+. É o caso de Wesley e Kátia, casal que há mais de 5 anos são frequentadores assíduos de festivais do gênero. Segundo eles, o grande diferencial nesses lugares é a verdade e o respeito entre as pessoas e o que os atraiu bastante foi a liberdade de poder ser quem a gente queria ser, sem preconceito, pois preconceito era algo que não gostávamos” e ainda complementam que hoje são pessoas que mais evoluídas, pois enxergam um mundo com mais respeito, graças à cena Tribal House. “Eu mudei o meu jeito de ser pai, de educar nossas 3 filhas. Tenho certeza de que elas serão adultas muito mais completas, porque hoje eu posso transmitir de verdade para elas, a igualdade, liberdade e realidade que aprendi através da Cena Gay. E elas adoram o som”, diz Wesley.
Fábio Costa, DJ e produtor que toca regularmente em casas noturnas para o público hétero, afirma com exatidão que “ o Tribal House é um sucesso entre os frequentadores, principalmente para as mulheres, que gostam do swing do tribal, de suas batidas envolventes, que na maioria das vezes acompanham os vocais mais tocados em festas e boates pelo Brasil afora”. E é categórico em afirmar que mesmo sabendo que DJs de outras vertentes são melhor remunerados, prefere seguir nesta vertente porque “É o som que bate no coração e o sorriso vem no rosto na hora.”
Então, se o Tribal House é um ritmo amado por todas as pessoas, independentemente da sexualidade ou até mesmo da idade (como no caso das filhas de Kátia e Wesley), o que está faltando para o Tribal House sair do armário de vez e estourar nas plataformas de Streaming mundo afora?
Investimento. Segundo o DJ e produtor Edson Pride, que é dono da Epride Music Digital, uma das principais gravadoras de Tribal do Brasil, “o que impera infelizmente é o marketing pago. Hoje pra você ser notado nesse mercado enorme, você precisa ter um bom marketing e isso demanda dinheiro ”. Apesar de ter observado uma mudança nos últimos anos com o surgimento de novas labels, principalmente nacionais, que dão mais visibilidade para quem está começando, reclama que “seria diferente se as grandes gravadoras dessem oportunidade para novos produtores musicais”. Sobre a segmentação do público que ouve o tribal diz que “Tribal House hoje em dia é comprado, tocado e ouvido por todo o público LGBTQIA+ e hétero que gosta do ritmo e da melodia”. Edson tem uma opinião otimista quanto ao futuro da cena quando diz que “cada vez mais estão surgindo novos produtores e por conta disso novas labels estão sendo criadas. O mercado está absorvendo todos e cada um está tendo sua chance de ser visto e ouvido e isso é muito bom, pois sempre estamos escutando e lançando novas sonoridades dentro do segmento” e finaliza “vejo um futuro promissor, com mais qualidade, vida longa ao Tribal House.”
Recentemente, o Tribal House brasileiro deu um passo importante para o estrelato merecido. A Universal Music Group que é líder mundial no mercado da música, fechou parceria com a Headphone Music, uma das agências de DJs pioneiras no Tribal House do Brasil, e a Motion Records, gravadora de música eletrônica, para um projeto chamado BEATLAND. O projeto consiste em uma série de lançamentos de remixes para músicas de artistas de vários gêneros como Malía, Banda Melim, OUTROEU, Priscila Tossan e Jojo Maronttinni, como você pode ver nesta matéria.
Já passou da hora de pararmos de dividir em “cena hétero” ou “cena LGBTQIA+” a música eletrônica no Brasil. Música não tem sexualidade, gênero ou etnia. Música, com sua infinita grandiosidade, é apenas música. Óbvio que é preciso, assim como acontece no Rock e no Reggae, respeitar a história do Tribal House como um gênero que foi ícone de uma tribo e tem uma importância social e política gigantesca para ela. Mas assim como todos os tipos de pessoas (sejam elas pertencentes a uma tribo ou não) devem e PRECISAM ser livres para ocupar todos os espaços do mundo, assim também deve ser com a música que é feita por elas e para elas. Precisamos ver oportunidades maiores para os artistas incríveis deste segmento tão rico e contagiante .
A colorsdj.com tem uma seção especialmente dedicada para lançamentos do gênero e toda sexta-feira tem novidade! Vai lá conferir! E se a lei da oferta e da demanda ainda é uma máxima em qualquer tipo de mercado, sugiro que você vá agora nas plataformas de streaming e dê Play naquela track gostosona que você adora e compartilhe com sua família e todos os seus amigos. Se possível, corra no itunes ou beatport e compre a música do seu DJ favorito. Se a mudança que queremos não está vindo “de cima” , talvez seja lá embaixo, na pista de dança (onde a música eletrônica nasceu) que esteja o poder de isso acontecer.
“Chegou a minha hora
de quebrar a concha
Tenho de gritar
que estou me revelando!”
Já cantava Diana Ross em “I’m Coming out” um dos seus maiores sucessos e grande clássico da Disco Music.