O retrato do racismo pelos olhos de um homem preto e gay
Uma das lembranças mais antigas sobre o meu despertar como homem preto e gay e da importância de se preservar a vida diariamente veio dos meus pais.
Meu pai dizia: mantenha sempre o cabelo e a barba impecáveis e não tenha medo da polícia, mas esteja sempre atento. Se for parado ou vir uma blitz, abaixe os faróis, os vidros e acenda a luz interna. Se estiver de boné, tire-o.
Já minha mãe, sempre enfatizou: nunca fique nas laterais, sempre no meio. Não se exclua ou deixem te excluir, a cor da sua pele não te faz diferente das outras etnias. Quando assumi minha sexualidade, a preocupação aumentou entre minha família para que eu não sofresse o preconceito duplo: homem preto e gay. Até hoje, os receios da minha mãe e dos meus irmãos é que eu não sofra nenhuma violência física ou verbal por minha sexualidade. Não sei o que é ficar no armário; sempre me vi como uma pessoa comum, só sempre atento. Atenção sempre em evidência: para não se sentir ferido – de qualquer maneira – por preconceituosos e ignorantes que posso cruzar a cada esquina. Vejo que estamos no meio de uma guerra de vozes; algumas para agredir e outras para, enfim, se defender. O momento é de não se calar, de olhar pro lado e ajudar seu igual e também seu diferente. Minha constante atenção nos dias de hoje expandiu para não deixar que soframos mais que já sofremos na vida.
As marcas que trago, são de resistência, luta por direitos igualitários e por um mundo onde o amor seja mais executado do que vidas.