Bárbara Anastácio

COLUNA | Sem juridiquês: A importância da inclusão e diversidade.

 

É a diferença que traz a beleza. Uma paisagem idêntica é monótona. O deserto ganha beleza quando temos nuances e variações na areia. Nos polos, o gelo contínuo tem beleza em um primeiro momento, mas depois o cenário é de monotonia. A beleza brota da diversidade. – Cortella, “A Diversidade: Aprendendo a ser humano”.

A coluna desta edição é um pouco diferente das demais.  Não estou tratando de um assunto voltado apenas para o meio musical.

É uma pauta que se adéqua a qualquer modelo de negócio.

Hoje a diversidade e inclusão é extremamente importante para o mercado, em vários aspectos.

O mercado cobra a empatia pelo público.

Não basta ser apenas estratégia de marketing! A diversidade e inclusão deve estar enraizada na cultura de uma empresa ou do próprio artista que as pregam, protegendo o coletivo, o que traz a ideia de ética bem definida.

Segundo Vernã Myers, VP de inclusão da NETFLIX, “Diversidade é convidar para a festa. Inclusão é chamar para dançar.”

 

Daí vem, também, o poder da representatividade.

 

A relação interpessoal tem que ser regida pela decência como princípio (ponto de partida) e meta (ponto de chegada), no intuito de buscar uma vida coletiva que reconheça a beleza na diversidade, a complementaridade na diferença, a riqueza na pluralidade. – Cortella, “A Diversidade: Aprendendo a ser humano.”

Em relação à comunidade LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays (homens), Bissexuais, Trans, Queer, Intersex, Assexuados, e o + são as demais denominações) vemos muitas peculiaridades. A própria sigla, que está sempre em mutação, nos remete à proteção de uma diversidade incrível, não sendo possível tratar as questões que envolvem a referida comunidade de maneira generalizada.

Isso porque em algumas letras da aludida sigla nos referimos à orientação sexual e outras ao gênero, com situações específicas.

Trata-se, portanto, de uma comunidade inclusiva.

Segundo Cortella, em “A Diversidade: Aprendendo a ser humano”, na comunidade os indivíduos possuem objetivos compartilhados, mecanismos de autoproteção e de preservação recíproca, como se fosse uma família. Ainda afirma que, se há confronto, assume-se a diversidade como desigualdade e anula o outro, por este não ser considerado um igual.

Na comunidade todos estão no mesmo barco.

Quando o indivíduo é acolhido, dentro da sua diversidade, anula-se a possibilidade do preconceito, e é essa cultura que se busca no mercado hoje, assim como na sociedade de uma forma geral.

A diversidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho, por exemplo, é um assunto tratado há anos por especialistas, existindo ainda bastantes barreiras a serem rompidas.

Tem-se comprovado, através de estudos, que a diversidade traz mais lucratividade, produtividade e vantagem competitiva.[1] A comunidade deve ser representada também pelos gestores, a fim de se ter uma liderança que se identifique com a diversidade.

Na realidade corporativa fala-se muito, atualmente, em compliance[1] focado em Diversidade e Inclusão, por meio de políticas inclusivas, uma vez que é extremamente importante para o mercado entender o conceito da empresa e como essa age diante desse ponto.

 

Isso porque a empresa possui um papel transformador, através da cultura que ela prega na sociedade, observando o seu lugar de fala.

Tanto o lugar de fala quanto a identificação de seu viés inconsciente merecem uma explicação mais clara. O lugar de fala leva em consideração quem você é, com quem você se identifica na sociedade e, obviamente, quais as experiências que levaram você a ter os conceitos e princípios atuais.
(…)
Certamente é uma hipocrisia uma empresa ter entre os seus valores “fazemos sempre o certo” ou “combatemos a discriminação” e deferir uma candidate trans ou homo em uma vaga simplesmente por serem quem elas são, racionalizando muitas vezes aspectos subjetivos pra desclassificá-las. [2]

O compliance tem criado canais de denúncias dentro das empresas para evitar comportamentos preconceituosos e de assédio, combatendo qualquer postura contrária à inclusão e diversidade.

Esse raciocínio deve ser considerado em qualquer situação, inclusive no que se refere ao estilo musical – MÚSICA DE GAY? -.

Esse cuidado em relação à diversidade é uma dica que eu dou para o mercado da música: “abrace e acolha o público!”

Tanto é verdade que, atualmente, nos deparamos com uma situação no reality show Big Brother Brasil 21, na qual o participante Lucas, após assumir a sua sexualidade em uma festa que ocorreu nesta edição, foi rechaçado por alguns participantes que se autodenominavam bissexuais.

Tal comportamento destes que, ao invés de acolhê-lo, o julgou e humilhou, foi extremamente criticado e repudiado pelo público.

Daí vem o chamado “cancelamento” destes participantes, em virtude dessa postura.

Esse episódio do BBB21 é muito interessante. Primeiro porque, nem os bissexuais acolheram aquele com quem se identificam – dizendo que este queria apenas aparecer para o público, uma vez que nunca havia comentado sobre a sua orientação sexual -; segundo porque esfrega na cara da sociedade que, ninguém é obrigado a declarar a sua orientação sexual, para ser considerado bissexual ou qualquer outro rótulo.

A naturalidade em relação ao assunto, tão buscada por todos, acaba virando um tabu, a essa altura.

O mesmo eu digo, quando assumo o meu lugar de fala em relação ao feminismo. Apontar o dedo não é a melhor estratégia.

Por isso o rompimento de rótulos é tão importante.

Não basta dizer que é algo se, quando a vida lhe cobra ação, você age de forma contrária ao que prega. Isso se chama hipocrisia.

 

Não faça isso pensando apenas no retorno financeiro – no caso da comunidade LGBTQIA+, o famoso “Pink Money”-, haja vista que é uma questão que envolve, acima de tudo, ética e empatia.

[1] NEW STUDY SHOWS LGBT LEADERSHIP HAS POSITIVE IMPACT ON MILWAUKEE BUSINESS PERFORMANCE – “Overall, organizations with one or more LGBT people in senior leadership positions perform better than other organizations,” added Rae. “This study helps reinforce our commitment to helping ‘break the rainbow ceiling’ and get more LGBT people in senior leadership roles. When LGBT people are present in leadership roles, businesses do better.”- Milwaukee Independent – acesso em 25/02/2021

[2] “Primeiro, vamos explicar o significado da palavra compliance. Ela vem do verbo inglês “to comply”, que significa estar de acordo, se comprometer e estar submetido a uma regra ou pedido. Neste sentido, o substantivo compliance pode ser entendido como complacência, conformidade. (…) “ – O QUE É COMPLIANCE? TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER! – COMPLIANCE – acesso em 25/02/2021

 

[3] RODRIGUES, Juliana. FARIA, Felipe. PERES, Marisa. MAROTTA, Thais Arruda. “Compliance além do manual”, Capítulo 12. Vol 2. LEC Editora. São Paulo/SP. 2020

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