Eu frequento eventos de música eletrônica desde 2015, nesse espaço de tempo participei de festas em Clubs, festivais, festas independentes, eventos na rua e em meio a essa diversidade conheci os eventos de pequeno e médio porte. Nesse movimento acabei conhecendo realizadores e fiquei amigo de alguns deles, esses laços de amizade e afinidade musical me levaram a prestigiar seus projetos e conversando com eles fui tomando conhecimento de algumas das dificuldades que essas pessoas enfrentam para fazerem suas festas e fui observando o que esses eventos tem de diferencial em relação a eventos maiores.
Minha primeira experiência com um evento nessa dimensão foi como parte da equipe de divulgação, foi a primeira vez que trabalhei em um evento, uma festa pequena com pouco mais de 100 participantes. A divulgação foi difícil, foi necessário ir atrás do público para vender a festa, já que aquela era a primeira edição até então. No dia do evento notei que aquele ambiente pequeno proporcionava um clima mais intimista entre os participantes, é gostoso você estar em um evento onde existe uma interação com os anfitriões, onde eles podem te receber e te dar toda uma atenção. Você pode vir a conversar com os DJs, o pessoal do bar, aquele clima intimista é super acolhedor. O fator do evento não ser grande possibilita que os produtores consigam selecionar um público mais específico, já ouvi pessoas dizerem que se sentem mais à vontade em pequenos eventos pois quem está ali participando realmente faz parte daquela tribo. Houveram relatos de pessoas que se sentiram mal ou até ofendidas em grandes eventos por conta de haver um público muito diversificado, como dizem “pessoas que não são do rolê”, o que é normal afinal grandes eventos acabam tendo um grande alcance e assim fica bem difícil filtrar o público ou “educá-lo”.
Eu conversei com duas pessoas que fazem parte do coletivo paulistano Vortex 323, os DJs Aline Gaspar aka Lolly Stardusty e Leonardo Vilella, fiz duas perguntas, a primeira foi quais são os desafios ao se fazer um evento desse porte. Segundo a Lolly:
“Ao elaborar um evento é fundamental que haja uma originalidade no projeto, uma característica diferente a oferecer, não adianta quando o embasamento é superficial ou quando o evento é uma cópia de algo que já está sendo feito, ao apresentar esse diferencial o evento irá se sobressair.”
Sobre esse ponto que a Lolly levantou, acredito que a existência de uma identidade própria seja fundamental ao inserir seu projeto em uma cena, não só no caso de uma festa, mas como DJ, produtor musical etc.
Lolly também me relatou sobre o desafio de fidelizar o público, saber como interagir com o pessoal que está ali experienciando sua festa, fazendo com que eles queiram repetir a dose.
Já o Léo Vilella considera um desafio a competição com eventos maiores, conseguir criar um ambiente agradável e atrativo que atraia as pessoas que frequentam festas já consolidadas.
Sobre esse ponto que o Vilella levantou, eu já me vi em situações onde teríamos no mesmo mês eventos de diferentes tamanhos e dei preferência ao evento grande, pela experiência que seria proporcionada ali. Na minha opinião, é um grande desafio você elaborar algo que vá chamar a atenção do público quando se tem um evento grande na mesma data! Vilella ressaltou que em uma situação dessas, a festa pode usar estratégias como trabalhar com preços mais acessíveis tanto no bar como na entrada para poder atrair o público.
A segunda pergunta que fiz aos dois foi o que esses eventos menores têm a oferecer que os maiores não têm. Ambos ressaltaram o ambiente intimista que é proporcionado. Segundo Vilella:
“Você pode ter um público menos diverso e mais específico, onde eles se sintam acolhidos, no caso um público mais composto por minorias, onde elas vão se sentir confortáveis.”
O coletivo Vortex 323 tem pouco tempo de estrada, tive a oportunidade de prestigiar um evento deles um mês antes da Pandemia chegar ao Brasil, foi uma noite bem agradável, a festa aconteceu em uma casa no centro de São Paulo. A Vortex tem como intuito unir diferentes tipos de público e abordar sonoridades obscuras, industriais e ácidas. O núcleo é recente, mas a Lolly Stardusty já atua no mundo dos eventos a um bom tempo participando de eventos com outras propostas. Além da Lolly e do Vilella, o coletivo também conta com os também DJs Pomaro e Katty Dalle.
Eu percebi que existem interações bem interessantes em eventos como esse que abordei aqui, lembro de conversas que tive com outras pessoas que estavam ali participando, conversas em que houve uma “troca de figurinhas” o que agrega muito a minha educação musical. Claro que já houve interações interessantes em eventos grandes, mas vejo que aquele ambiente intimista é mais propício a gerar uma “conversa mais intensa”.
Infelizmente, quando falamos de cultura no Brasil, o governo não presta o apoio necessário, ainda mais no atual momento. Eu penso que nós como público podemos fazer uma diferença a favor desses eventos indo prestigiá-los, assim teremos uma cena cada vez mais diversa e madura, gerando mais oportunidades para os artistas e lazer para os frequentadores.