COLUNA | PULSAR: Encontro de arte, cultura e sustentabilidade

Arte que pulsa a alma.

Hoje, a nave do Papos Psicodélicos vai te levar ao Festival Pulsar.

A pandemia nos últimos dois anos distanciou a comunidade psicodélica de seus encontros, e este ano, em 2022, o Festival Pulsar retornava depois de um longo período de pausa causada pelo isolamento social. Com certeza, é possível dizer que estar todo esse tempo longe das celebrações fez com que a cena tenha enfrentado tempos sombrios no que tange a sustentabilidade e manutenção dessa cultura.

Sim, a nossa cena está em crise.

Mas, resistimos.

O encontro de arte, cultura e sustentabilidade em Cachoeira Alta, Ipoema, foi um ponto de restauração. Foi um momento em que artistas, produtores, artesãos, agitadores culturais, e os amantes dessa cultura puderam se reunir, se reencontrar, reafirmar os votos, celebrar e, então, continuar.

Quando penso no que foi o Festival Pulsar 2022, eu reconheço que foi uma chave para mim – Lui – e para o Papos Psicodélicos, foi um momento de total recarga de energias e inspiração para continuar.

Mas, por que o festival tem esse caráter de tocar tão profundamente o coração e as histórias das pessoas? O quanto o Pulsar influencia na construção da cena psicodélica nacional e internacional?

Essas perguntas são chaves interessantes para que a gente possa compreender o curso que o psy trance trilha atualmente, reconhecer as festas e festivais que contribuem para isso.

O Festival Pulsar acontece, desde 2015, num lugar maravilhoso chamado Cachoeira Alta em Ipoema. O local é muito bonito e é terreno para a incrível cachoeira que possui 110 m de altura e é uma das cachoeiras mais belas de Minas Gerais. O céu nos permite a visão da infinitude de estrelas e o espaço bastante vasto com bastante natureza, árvores e lagos.

Desde a primeira vez que fui, já tinha entendido que o lugar escolhido para acontecer a celebração era de extrema importância para abrir o portal que o Festival Pulsar abre todas as edições. Aquele local específico, reúne as condições naturais básicas para que consigamos estar conectados com nós mesmos e com o ambiente. Cachoeira Alta é realmente especial.

Outra coisa que eu diria que interfere bastante para a abertura desse portal tão potente construído no Pulsar é a curadoria sonora e a atenção que é dada ao palco trance. A curadoria sonora sem dúvidas é um ponto-chave primordial, já que a experiência no psytrance é principalmente comandada pela música. E o festival tem uma grande preocupação na forma como isso acontece, qual a ordem dos artistas, como cada um deles poderá sustentar a força do psytrance e, ainda assim, expressar sua particularidade. Essa atenção fina ao palco trance, seu line up, a disposição das performances e a forma como a tenda é construída: tudo contribui para sentirmos como a pista é levada a sério.

Tanto é que, atualmente, é muito comum ver pistas lotadas de cadeiras, pessoas usando a pista de dança para conversar, flertar e bolar seus cigarros de especiarias, deixando as atrações musicais em segundo plano, e no Pulsar não havia cadeiras, as pessoas pareciam se preocupar com a música com a importância que ela merece. É preciso livrar-se de distrações essencialmente superficiais para permitir, sentir e ser levado por esse portal. É preciso deixar a música guiar e nos direcionar para a experiência.

Neste festival, eu diria que algumas apresentações musicais me fizeram sentir essa sensação de estar sendo guiado a um potente portal sonoro. Lembrando que não consegui assistir todas as apresentações. Vou agora listar nomes de artistas que realmente me marcaram de uma forma muito profunda:

DJ Paula
Whrikk
Tromo
Karavel
Elowinz
Atropp
Groark
Surke
Re-Surge


Tive que me esforçar para realmente escolher aqueles que mais me tocaram e, dificilmente, eu vou conseguir transpor em palavras o que fez com que essas apresentações específicas tenham me guiado para uma verdadeira experiência de pista. Dentre todos esses, vou citar alguns mais detalhadamente.

Live set do Whrikk: é aquela coisa – só quem viveu sabe. O artista holandês sempre foi um dos meus queridinhos por toda a sua inovação sonora. O grande diferencial do artista é que ele se joga e brinca bastante com seus sintetizadores, mesmo no palco. Infelizmente, nessa apresentação ele não estava com todos seus equipamentos sonoros, mas com certeza isso não foi uma limitação, já que a apresentação do artista foi uma intensa jornada musical. Ele passeou por diversos estilos e vertentes diferentes de psytrance, usando melodias do full-on, e até algumas sonoridades que nos lembravam o hard techno e techno. Com altos e baixos, eles nos conduziram para uma atmosfera sonora que rompeu qualquer linearidade naquele line up. O Whrikk, da hora que entrou, saiu e fez seu show à parte. Ele superou minhas expectativas e era, de fato, o artista que eu mais esperava assistir.

E acredita que eu e o pessoal da Psicodelia Coletiva conseguimos entrevistá-lo? Em breve, sai nossa reportagem audiovisual com diversas entrevistas, inclusive essa em nosso youtube.

Os garotos do Psymangue: Groark, Re-Surge e Surke – Nessa ordem, pegaram 6 horas da pista mais cheirosa e respeitada de darkpsy do Brasil e transportaram a gente para uma orquestra orgânica, uma sonoridade com início na live do Groark, continuou com o Re-Surge e finalizou com o Surke. A atmosfera por vezes confundida com pântano, aqui é MANGUE. Todo mundo parecia estar imerso numa textura e densidade que suava como se realmente estivéssemos numa vegetação aquosa, cheia de manguezais. Foi a primeira vez da dupla no palco trance do Pulsar, apresentando seus estudos psicodélicos recifenses para a cena brasileira. Quem ainda não conhece essa turma, deixo aqui o soundcloud deles e garanto: o nordeste tem uma profundidade diferente que se transparece no som que vibra das caixas. 

 

Note que, dos 9 nomes que – na minha opinião – nos conduziram as profundidades do portal do Festival Pulsar, 6 são brasileiros. O que nos mostra a potência desse lugar que se destaca com sua musicalidade e maestria na produção musical. Sem sombra de dúvidas, nós temos os melhores do mundo.

Saindo agora do Cosmic Stage, isto é, o palco principal onde toca psy trance, o Pulsar também nos encanta pelas suas diversas áreas de vivência e descanso. O palco Chillout, chamado Molecular Stage,  estava com uma decoração e estrutura impecáveis e um line up cheio de brasilidades, com artistas de várias regiões. Neste vídeo que fizemos para o instagram, vemos a apresentação do DJ Doidu, também recifense, que assina o coletivo BoiKOT

Neste ano, o festival também contou com as áreas de vivências e oficinas, chamada Espaço Lua e Espaço Supernova – espaços de acolhimento, diálogo e compartilhamento de visões e sabedorias. Nós, do Papos Psicodélicos, tivemos a honra de presenciarmos o espaço da Supernova com uma vivência chamada “O segredo do psy” a qual nós abordamos nossa trajetória acadêmica estudando o psytrance antropologicamente. Foi um bate-papo incrível, pude conhecer várias pessoas e ouvir mais e mais relatos acerca da profunda magia que vibra no universo psytrance. Se você quiser ler um pouco do material que inspirou a nossa vivência, você encontra em nossa biblioteca.
Texto: Nosso artigo acadêmico aqui!

Além disso, nós também exibimos o nosso filme “Coordenadas do Infinito no mesmo espaço, o que foi maravilhoso. 

O Pulsar todos os anos investe na galeria de arte, que esse ano estava lindíssima, reunindo obras de arte de diversos artistas do Brasil. A maior parte das obras eram de Arte Visionária expressas através da pintura, o Fractalien Art, Yago Conca, Gatuno, a Andressa, a Izabela Duprat, Beah e outros artistas visuais exprimiram sua arte no Nebula Stage. Mas, também, tinha filtro dos sonhos super psicodélicos da artista que assina o Filtrando Psicodelia. Tudo muito lindo e com certeza me transportou para uma outra atmosfera da arte psicodélica.

Sem falar no Espaço Netuno, uma feira de marcas independentes, com muito estilo alternativo e moda raver. Eu amo me deliciar com cada obra de arte e pessoa incrível que conheço em cada uma daquelas lojinhas. Além da praça de alimentação, que honra as origens mineiras, viu? É cada lanche que só de lembrar me deu água na boca.

Pulsar Festival. Foto: Reprodução Facebook.

Ah, o Pulsar. Vem logo de novo. Já estou com saudades!

E você? Vai curtir esse baile comigo no próximo ano?

Te espero. Um cheiro,
Lui.

Lui Cavalvante - Papos Psicdelicos

Lui Cavalvante - Papos Psicdelicos

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