COLUNA | Cores e Música: Impressionismo – Parte 2

Os caminhos que o impressionismo levava a música no final do século XIX para o XX, junto com o movimento programático, já eram as primeiras pegadas da música moderna e contemporânea, que com a ebulição social, econômica e política, aliada às novas invenções da época (lâmpada, telégrafo, automóvel, telefone, avião etc.), tornavam as mentes criadoras cada vez mais livres das amarras acadêmicas. 

Todo esse tornado cultural virando o século só aguçou a sede artística e intelectual, na qual os experimentos, experimentalismos e alquimias se faziam realidade nas artes, e obviamente na música, que iniciava a sua modernidade. Assim como no passado recente, o classicismo e o barroco valorizavam a estética e o romantismo valorizava a expressão de sentimento através da tonalidade, além do Modernismo, que valorizava especialmente a inovação e as percepções sensoriais e abstratas.

Os compositores em geral não estavam livres das novas idéias, muito menos aqueles que pertenciam a classe erudita, que se tornava cada vez mais definida e formatada, pois a música popular era uma realidade palpável, tendo em vista a possibilidade crescente de um artista se tornar conhecido através do rádio e da imprensa (mídia!). 

Talvez a característica mais saliente da música erudita durante o século XX seja o uso cada vez mais frequente da dissonância. Diversos compositores continuaram a trabalhar em formas derivadas do século XIX, entretanto a música moderna tornou-se cada vez mais proeminente e relevante. Os impressionistas procuraram novas texturas e abandonaram as formas tradicionais, enquanto mantinham progressões harmônicas mais tradicionais. Debussy inclusive cita que “(…) O século do avião merece a sua própria música“. 

Compositores como George Gershwin combinaram a música erudita com o jazz. Alguns compositores foram capazes de trabalhar em ambos os gêneros, como o próprio Gershwin e Leonard Bernstein. Outros como Prokofiev e o nosso Villa-Lobos ampliaram a paleta erudita para incluir elementos mais dissonantes. Mas era unânime em todas as áreas, o desejo de expandir essas experiências globalmente; crescia então a Pop Art, consequentemente a música popular.

 

Quando o som chegou ao cinema, não havia mais a necessidade de músico ou músicos presentes na sala de projeção, mas havia a necessidade cada vez mais proeminente que a trilha seguisse e ajudasse a parte dramática; um reforço ao roteiro, à interpretação, ao estado de espírito e até mesmo a personalidade do filme. Prato cheio aos músicos impressionistas, agora vanguardistas, agora modernistas, agora populares.

O cinema, e depois a televisão, passaram a ser veículos mistos das artes em geral, e cada vez mais havia necessidade de trilhas que costurassem os sentimentos e atmosferas; a música impressionista voltava furiosa, nos beijos, nos socos, no sangue, nos risos e nas lágrimas.

Faz mais sentido agora porque pessoas pelo mundo choravam no final de La Traviata de Verdi, sem saber italiano (Uma Linda Mulher…!); faz mais sentido agora o impacto depressivo no início de Tristão e Isolda de Wagner, e depois, a sensação de vazio (Melancolia…!); faz mais sentido agora a luz do sol no meu quarto, quando eu “franzia” os olhos, diante do quadro de Monet, enquanto chovia lá fora.

E talvez faça mais sentido agora aqueles que choram ouvindo a trilha de Em Algum Lugar No Passado sem ter visto o filme.

Referências:

– O Impressionismo na Música – Gyovana Carneiro

– O Classicismo e o Romantismo na Música – Mo. Ricardo Rocha

– Pluralia Tantum: Reflexões Sobre a Música Contemporânea – Fernando Lewis de Mattos 

– História Da Música Ocidental – Jean Rigitte Massin

– Trilha Sonora: O Cinema e Seus Sons – Bernardo Marquez Alves

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