MATÉRIA | Ícone do techno do Brasil e Rainha do Underground

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“Desde quando ceis nem era nascido a Andrea Gram já estava Desviando por aí.”  Como ela mesmo descreve em sua fanpage do Facebook, é aquela que agita todas as pistas de dança por onde passa.

Brasileira de ascendência romena, ela começou profissionalmente nas pistas em 1992, ou seja, 28 anos dedicada ao techno, house e seus subgêneros que ela gosta de tocar.
Não é à toa que é considerada a Rainha do Underground.

“Sempre fui aficionada por música, além de estar muito presente nas festas familiares regadas à swing jazz. Quando adolescente, em meados dos 80, era comum a troca de informações musicais entre os amigos. Virou uma paixão e uma coleção de raridades. Por acaso, bem nessa época tive o prazer de vivenciar em Londres o início da acid house que foi o boom para descobrir o que eu queria da vida. Voltei para o Brasil e virei DJ.”, conta Andrea.

Ela merece muito destaque e homenagem por sua trajetória e a história que construiu como a mulher pioneira do techno no Brasil. 
Foi residente do Hell’s Club no final dos anos 90, o primeiro afterhours do Brasil. O lendário clube onde marcou toda uma geração clubber e Andrea estava lá.

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Cartaz do Hell´s Club, em São Paulo (SP).

Também fez história com sua festa Club Alien, onde rolava um techno dentro de um teatro, assim ela foi conquistando seus fãs com sua música. 

“Foi um momento histórico incrível. Existia o clube Columbia, do nosso querido Angelo Leuzzi, na Rua Estados Unidos com Augusta em SP, e foi para mim um marco, pois foi lá a minha primeira GIG oficial, numa terça feira ao lado dos consagrados DJs Renato Lopes e Marquinhos MS. Ao longo do tempo, o clube e as noites foram se expandindo, dai surgiu o 1º after do Brasil, no porão do clube. Lembro que sábado das 11 as 4:00 a.m. pegava fogo o Sub Club e na sequência montavam outro ambiente musical chamado Hell´s Club.

Fui residente mensal a convite do DJ Mau Mau e do mentor Pil Marques, uma das melhores pistas de São Paulo, só novidades musicais, o techno.
Tem uma história engraçada: depois de tocar, clube lotado, escuro e com muita fumaça, consegui chegar até a saída. Detalhe: carregando o meu case mega pesado de vinil, eis que perco a chave do meu carro! E por muita sorte, ao voltar, logo na entrada, o segurança estava com ela em mãos, Ufa!”, lembra Andrea quando começou era novidade ser DJ e mais ainda DJ Mulher.

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Cartaz do clube Columbia, em São Paulo (SP).


Ela teve a oportunidade de participar de TV e rádios onde contou para todo público que no Brasil estava se fundindo um novo gênero musical eletrônico e era convidada frequentemente pelas mídias. 


No início Andrea passou por muitas situações onde, como mulher, nas festas algumas pessoas esperavam só um erro para poder falar, mas claro que isso não acontecia, pois o seu triunfo é tocar bem. Rainha, né mores?!  

“Nos anos 90 era meio proibitivo falar desse assunto ou assumir a existência, passei por várias, mas sempre mantive aquela calma, simpatia e educação de sempre, firmando uma postura mais dura através do som, no caso, eu tocava um techno pra lá de pesado, como escudo, pra espantar mesmo o front! Felizmente estamos batalhando para que isso seja coisa do passado. Uma luta literalmente.”, reflete.

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Andrea no clube Jerome, em São Paulo (SP).

Além de tocar muito, Andrea também gostar de estar do outro lado da cabine, fervendo e dançando nas pistas, gosta de ouvir um som alto e ver a reações das pessoas, além de usar esse momento para conhecer pessoas interessantes onde conseguia muita informação musical diferente da dela. 
Para ela, é fundamental estar aberta a vários tipos de sons, porque ajuda a definir quais as tendências e também acompanhar o trabalho artístico do DJ.

Entrar realmente no mundo do artista é quase um estudo antropológico.

Com o tempo, muitas coisas mudam e a gente acompanha essas mudanças e crescimentos. Como foi para Andrea, que marcou uma geração clubber de São Paulo vendo essas mudanças. Para ela, o importante é respeitar e aceitar o que vem de novo como tendência e aproveitar o que cada geração tem para oferecer. Em suas palavras: “As vezes me pego analisando mesmo, penso que passei já por umas 5 gerações. A X, que foi nos 80; depois a cena 90; a de 2000, com as raves, agências e grandes clubes, rua Augusta em SP; 2010, com a chegada das festas de rua mais libertárias e politicamente inclusivas – entre elas a Voodoohop, Mamba Negra, Capslock e Dsviante – essa última fui produtora e DJ residente. Em geral, procurávamos espaços públicos, e fazíamos ocupações artísticas. Nos últimos tempos, as festa migraram para as warehouses ou fábricas com a mesma necessidade autoral: tudo pela festa, pela música e todos envolvidos nela.
Já estamos na geração Y, cria desse comportamento, então para mim o importante é respeitar, saber aceitar o novo como tendência e parar de reclamar achando que tal época era melhor. Acho meio ridículo ter a cabeça fechada porque todas as épocas foram boas, a meu ver. Tem que se sentir representada, só isso! Assim como na música, óbvio, temos que sempre estar repaginando, pegando velhas referencias e aplicando com um novo teor, e acompanhando a evolução também política e reflexiva na música.” Nos contou Andrea.

Ultimamente nessa pandemia a Rainha do Underground anda fazendo muito after com ela mesma, no Zoom, na TR e nas lives.

“Estou me preservando ao máximo evitando reuniões com mais de 4 pessoas. Não é brincadeira o que a humanidade está passando, mas nada impede de aproveitar esse momento sinistro e produzir, se autoconhecer e tal. Sobre projetos, vou andando conforme a música, rs. Adoro viajar, ir em festivais e turistar, não vejo a hora.”, finaliza.

Depois de anos de festas e afters, essa mulher continua com uma energia incrível e estamos esperando ansiosos para ver esse ícone tocando nas pistas novamente.

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