Alguma vez você já se perguntou qual a sua melhor versão?
Neste mês de maio a Colors DJ Magazine entrevistou a DJ Revelação Kiara Felippe para saber mais sobre sua trajetória, conquistas, dificuldades e planos para o futuro.
Nascida em São Paulo, moradora da Zona Oeste, adorava curtir baladas da Rua Augusta, como a festa pop chamada Nêga. Começou a receber convites para performar e pouco tempo depois foi se interessando e aprendendo a tocar sozinha, olhando como os outros DJs faziam, começando sua carreira no estilo Pop.
“ACREDITEM NO SEU AXÉ, pois um dia você pode “tá” olhando a Beyoncé na TV e no outro saindo na campanha da marca dela. Bom, aconteceu comigo.” – Kiara Felippe
Inspiração e conquista é o que podemos acompanhar na história de Kiara Felippe. DJ
residente da Batekoo, que, com a festa, já fez tour em diversas cidades do Brasil, assim como em cidades de outros países como Nova Iorque. Acompanhe agora nossa entrevista com a DJ Revelação da Colors DJ do mês de maio.
Conte-nos um pouco sobre a sua história.
Desde pequena estou imersa na arte. Comecei aos 7 anos na música, em um
coral, onde aprendi rítmica, tocar instrumentos e técnica vocal. Desde sempre fui muito criativa e curiosa. Fiquei no coral até meus 16 anos e também, na adolescência, tive uma passagem rápida pelo teatro. Aos 20 anos transicionei e aí começa uma outra história de descobertas sobre quem eu era, quem eu sou e quem eu queria ser. Nesse período fui parada no metrô e convidada a fazer um casting para um filme, passei, e a partir daí começa minha história como atriz e cantora.
Logo em seguida, meu nome foi tomando uma proporção bacana, pois estava no início da discussão sobre gênero e eu era uma figura presente nessa cena e, com isso, vieram os convites para fotografar, participar de clipes e afins.
Como foi o seu início de carreira como DJ?
Sempre morei em São Paulo, na Zona Oeste e quando comecei minha transição de gênero estava trabalhando na Forever 21, da Oscar Freire.
Sempre que terminava o turno, nos fins de semana, saia com os meus amigos para curtir na Augusta e existia uma festa pop chamada Nêga. Nela fui convidada para performar como drag, pois ainda naquele momento não tinha muita representatividade de drags negras. Então, por sempre ter tido um lado artístico muito forte, comecei a minha curta história como drag que durou uns 3 meses, pois já estava no início da transição, e vi que, por mais que amasse essa arte drag, eu queria cada vez mais ser mulher 24 horas por dia.
Comecei a aprender a tocar sozinha, olhando como os DJs faziam, qual botão apertavam e tudo mais, tocando Pop que era o auge do momento. Porém surgiu na noite paulistana uma balada que prometia mudar as estruturas, que vinha da Bahia, chamada Batekoo, me apaixonei de primeira.
Por ser uma frequentadora assídua e ter passado minha transição participando da festa, me convidaram para tocar e ser uma voz ativa representando o movimento trans. Até hoje sou DJ residente e faço parte do coletivo.
Como foi a sua trajetória?
Minha trajetória enquanto DJ se fixou na festa Batekoo e toda a minha técnica foi desenvolvida na prática, pois até um certo tempo não havia feito cursos e tudo que aprendia era com a troca entre os DJs da festa. O meu nome crescia cada vez mais pelo espaço que ocupava e o movimento que representava, pois antes de ser festa a Batekoo sempre foi um movimento social e potência para uma geração negra, jovem, periférica, gorda, trans e travestis, além de outras intersecções. Como acabei tendo contato com muitos DJs, produtores da área musical, acabei tendo algumas ajudas sobre como mexer e montar equipamentos, sobre BPM, uso do Rekordbox, além de outros softwares que DJs usam. Assim, passei a ter uma técnica mais refinada na minha forma de tocar. Sendo residente da Batekoo, visitei diversas cidades do Brasil e do mundo. Também fui, por 1 ano, DJ da cantora Urias, onde tive uma experiência maravilhosa por ela ser minha amiga e uma profissional maravilhosa.
Lembro-me a primeira vez que toquei para um público gigantesco, que foi no Hopi Pride. Mesmo assim, um dos maiores impactos na minha vida e carreira como DJ, foi quando fui pra Nova Iorque para tocar pela Batekoo no Afropunk, o maior festival negro do mundo. Foi um impacto cultural e profissional que considero o auge da minha carreira, até então.
“Hoje eu me vejo como uma Multiartista e cada vez mais curiosa.” – Kiara Felippe.
De que forma o seu trabalho como DJ foi afetado pela pandemia?
Meu trabalho como DJ foi afetado muito pela pandemia. No início, conseguia fazer ainda algumas lives, inclusive mês passado fiz uma para Vevo, mas, como a festa Batekoo é uma composição de sentimentos e presença física, corpo no corpo, tato, sarrada e tudo mais, entendemos que não “rolava” fazer online, e também não faríamos festa presencial enquanto a vacina não chega para todes. Como não pude exercer meu lado DJ, que enquanto profissão era meu carro chefe, comecei a estudar mais sobre internet e até fiz um curso de marketing digital.
Sendo uma Multiartista e muito curiosa, sigo me desenvolvendo em outras áreas, trabalhando já há algum tempo com a internet, como influencer e creator tendo um projeto pessoal que surgiu na quarentena de Podcast, em que eu e um amigo apresentamos o: É sobre isso, que possui o selo NINJACast do Mídia NINJA que fala de tudo, e que já tem 2
temporadas com mais de 10 episódios bem divertidos, didáticos, informativos e com muito entretenimento.
Então com essa pandemia o que dificultou foi ser DJ no geral, pois sem festa não há DJ “rs”, porém me deu oportunidade de explorar outras coisas, algumas que já fazia e outras que tinha vontade de fazer e estudar. Hoje, como DJ, estou fazendo um curso para aprender técnicas e a estrutura do eletrônico, tenho feito de tudo. Recentemente fiz uma campanha da Brastemp, exercendo assim meu lado atriz/modelo.
Além de DJ, quem é a artista Kiara Felippe?
Hoje eu me vejo como uma Multiartista e cada vez mais curiosa. Eu não consigo ficar parada no mesmo, na rotina, e sempre me pego fazendo outras coisas. Já apresentei programas onlines na pandemia, me tornei Podcaster, fiz uma série de 5 episódios como atriz, lancei esse ano um remix de uma música minha e a minha página no Spotify já conta com 3 músicas. Fiz também, esse ano, a campanha global da Ivy Park e Adidas pela Batekoo, (fomos os únicos representantes do Brasil) e toquei na live da Vevo (a única brasileira).
Estou sempre me reinventando sendo todas essas “Kiaras” em uma só e me sinto viva dessa forma.
Quais são suas prospecções como DJ?
Quero voltar a tocar e continuar com o meu projeto de ir pra fora do Brasil, desenvolver, cada vez mais, a minha pesquisa de música negra pelo mundo como o funk, dancehall, vogue, afrohouse, kuduro, além de outros ritmos que vieram dos negros e da periferia que, infelizmente, cada vez mais vem sendo apropriado.
Estou estudando para voltar mais profissional e qualificada e tenho a vontade de trazer um projeto que junta música com mixagem.
Para finalizar, temos esse espaço livre para aquilo que gostaria de escrever, deixar uma mensagem, inspirar… é o espaço Kiara Felippe mandando recado:
O recado que eu queria deixar é que somos capazes de tudo!
Eu sendo uma trava preta que vim da periferia de Carapicuíba alcancei e ainda vou alcançar tudo o que eu quero porque sempre acreditei em mim, mesmo a sociedade dizendo que eu não era capaz.
“ACREDITEM NO SEU AXÉ, pois um dia você pode “tá” olhando a Beyoncé na TV e no outro saindo na campanha da marca dela. Bom, aconteceu comigo!”.
Crédito foto de capa: @ernnacost