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ENTREVISTA | “Toda música eletrônica vem das periferias”: Às vésperas de trazer Kush Jones ao Brasil, Akilez fala sobre a criação da Tijolo Records

Contestadora e autêntica, label baseada entre SP e NYC recebe ícones como Kush Jones, BADSISTA e DJ Nyack neste sábado (08), na capital paulista

Forjado nos bailes black que propulsionaram o hip-hop no Brasil, o DJ e produtor Akilez (também conhecido como sixx4sixx) tem mais de 30 anos de uma carreira dedicada à música como forma de expressão política e contestação social.

Depois de uma crise em 2018, largou tudo e mudou-se para Nova Iorque com a ideia de mudar de profissão, mas não teve jeito: a arte chamou de novo. Logo, fundava a Tijolo Records, label multidisciplinar que tem como propósito valorizar a linguagem e a cultura das ruas, em uma curiosa conexão entre duas grandes metrópoles de continentes distintos.

Na ativa há mais de quatro anos, a Tijolo estabeleceu vínculos profundos com expoentes do underground eletrônico do Brasil (como CESRV, RHR, Naiche, Suelen Mesmo e BADSISTA, que até foi capa da Veja SP ostentando camiseta da gravadora) e dos EUA, como SWISHA, OSSX e Kush Jones — DJ nova-iorquino que estreia no Brasil neste sábado (07), no centro de São Paulo, em um dos eventos mais importantes já realizados pelo selo (veja mais informações abaixo).

Para entender melhor a história e a essência da Tijolo Records, conversamos com seu fundador, em um breve papo que você pode ler abaixo.

Quem é e qual a trajetória do DJ e produtor Akilez?

Eu comecei a discotecar com 12 anos na zona leste de SP, em 1990. Trabalhava como office boy e, nas andanças pelo centro, tive contato com a São Bento [estação de metrô onde rolaram bailes black que influenciaram ícones do rap paulistano], onde me interessei pelo som que tocava nas rodas de break. 

Comecei a comprar discos compulsivamente e, consequentemente, me chamavam para tocar nos bairros da periferia. Era uma cultura nova, existiam apenas três coletâneas e poucos discos nacionais. Eu não tinha equipamento, então tocava com dois toca-discos em um — o sistema popular da época.

Assim, minha criação veio junto do surgimento do hip-hop em São Paulo, com os bailes de periferia, pixação… Cultura de rua é intrínseca com minha história de moleque periférico. Agora, faz 30 anos que estou envolvido com música, em diferentes setores: produção, DJ, músico, articulador, etc.

Como e por que você decidiu fundar a Tijolo? De onde surgiu a ideia de estabelecer um selo que conectasse São Paulo e Nova Iorque?

Vim para NYC depois de uma crise com bandas e projetos que liderava há 20 anos no Brasil. Tinha decidido parar com a música, mas não teve jeito, ela voltou. Fui convidado a trabalhar em um estúdio no Brooklyn que me deu o visto e, depois de um ano, montei Tijolo Records.

A princípio, queria ficar nos bastidores, conectar pessoas, fazer algo que tivesse essa identidade periférica, que tem a ver com minha experiência dos bailes antigos fora do centro, onde tocava rap, jungle e house, e que fugisse um pouco dessa estética europeia. Buscar as raízes mesmo.

E como vocês conseguem estabelecer, com naturalidade, um encaixe entre estilos como house e techno com essa estética urbana e periférica — sobretudo no Brasil, onde ela é menos óbvia?

Toda música eletrônica vem das periferias: surgiu da falta, da escassez. As drum machines que valem uma fortuna hoje, eram instrumentos de estudo, sem valor comercial. Com o apagão de 1977, em Nova Iorque, esses instrumentos foram parar nos guetos, por conta dos saques às lojas. Daí emergiu toda a cultura hip-hop, que para mim, se resume à arte da invenção com o que se tem na mão.

Quando você entende isso, vê que tudo vem da mesma fonte. É político, é contracultura! Mas se o artista não tem essa finalidade, vira líquido, artificial. Estamos interessados na primeira opção: aprofundar e mergulhar cada vez mais na contestação e na ocupação dos espaços pelos corpos sempre negligenciados.

Até por isso, essa ocupação de um palacete no centro decadente tem sua simbologia para mim, que viajava duas horas de ônibus lotado, de Itaquera ao centro, desde criança. Marco zero!

Kush Jones

Seja em seus releases ou em seus eventos, a Tijolo já mostra vínculos mais profundos com artistas do Brasil e dos EUA . Além deles, BADSISTA saiu em capa da Veja com uma camiseta da label. Como esses vínculos foram formados?

Essa é a base, pois funciono só com algo afetivo — preciso de um vínculo com a pessoa ou com o que ela transmite. Com muitos dos residentes, tenho uma história e compatibilidade. Alguns conheço há mais tempo que outros, mas a conexão tem que existir.

E acredito no novo também, no emergente. Não curto coisas já formatadas e óbvias. Gosto do desafio!

Quais os atributos que um DJ ou produtor musical precisa ter para se conectar e ganhar oportunidades com a label?

Boa visão de mundo, vivência e contestação, pois acredito que boa música e expressão é o resultado disso.

E quais os principais objetivos da Tijolo para 2023?

Gravar mais discos, conectar mais pessoas e fazer mais festas e festivais. Estamos só no começo, Tijolo por Tijolo.

Texto de Lau Ferreira

Serviço

Tijolo Records apresenta Kush Jones

Local: R. Roberto Simonsen, 87 – Se, São Paulo – SP

Data: 08 de abril (sábado)

Horário: A partir das 21h

Atrações: Kush Jones, BADSISTA, CESRV, DJ Nyack, ERAM, KENYA20Hz, Kontronatura B2B RHR, Suelen Mesmo e Young Clubber; Negro MIA (visuais)

Ingressos: Último lote por R$80,00 via Shotgun

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