A incrível ascensão da DJ Van Muller e seu som Tribal House que vem conquistado o mundo
Desde os primeiros acordes no violão na infância até dominar as pistas de dança com Tribal House, a trajetória musical dessa artista que vamos entrevistar hoje, tem sido uma jornada repleta de paixão e descobertas. Tudo começou lá na era do Orkut e aposto que muitos de vocês, só tenham ouvido falar. E foi vasculhando comunidades e criando coletâneas musicais para ouvir com seus pais. Mas foi em 2005, nas festas LGBTQIAPN+ de Salvador, que ela se apaixonou pelo Tribal House, seguindo o talentoso DJ Oliver Jack, foi onde começou a mergulhar cada vez mais nesse universo.
Sem nunca ter planejado ser DJ, a música a levou a um novo rumo. De contadora a formadora de opinião em uma revista de música eletrônica, foi convidada por Oliver a aprender a tocar e, desde então, nunca mais parou. O apoio dos seus pais foi fundamental para as mudanças de cidade e desafios enfrentados ao longo desses 14 anos. Inspirada por ícones como Madonna e DJs renomados, realizou o sonho de tocar nas principais festas e festivais do Brasil e começou a expandir sua carreira internacionalmente.
Sua maior conquista é a transformação que a música trouxe à sua vida, levando sua energia para diversos países e se permitindo ajudar sua família e investindo em autoconhecimento. Então, Colors estamos falando da talentosíssima DJ Van Muller e te convidamos a ler essa super entrevista de DESTAQUE que ela nos concedeu. Vem com a gente conferir!
“Quero cada vez mais inspirar pessoas, potencializar a voz feminina para que outras mulheres possam alcançar lugares sendo elas mesmas, autênticas, reconhecidas pelo que são, sem precisar se encaixar para poder caber em lugares que não são seus.” – VAN MULLER.
De onde veio sua paixão pela música? Houve alguma influência familiar ou evento na sua vida que despertou esse interesse? Pode nos contar como você deu os primeiros passos na sua carreira?
Minha relação com a música iniciou desde criança. Aprendi a tocar violão cedo e desde a época do Orkut, já vasculhava as comunidades em busca de músicas e criava as coletâneas para ouvir junto com meus pais em casa.
A paixão pelo Tribal House nasceu em 2005, quando comecei a sair para as festas LGBTQIAPN+ em Salvador. Me tornei fã de um DJ chamado Oliver Jack e passei a segui-lo em muitas de suas apresentações na cidade. Nos tornamos amigos ao longo dos anos, meu interesse pelo Tribal House foi se tornando mais forte e me tornei uma pesquisadora da vertente, ao ponto de identificar o que os DJs estavam tocando na noite. Com isso, acabou surgindo o convite para ser formadora de opinião em uma revista de música eletrônica em Salvador e consequentemente, durante as reuniões de pauta, fui convidada pelo Oliver para aprender a tocar com ele e tomei essa decisão com o objetivo de agregar mais conhecimento aos meus textos. Passei 6 a 7 meses no laboratório tocando e na época, o Oliver tinha um selo chamado Fever, no extinto Off Club em Salvador, no qual dava oportunidade para DJs iniciantes tocarem fazendo warm-up. Foi aí que comecei a tocar e não parei mais. Nunca tinha pensado em ser DJ. Curtia pesquisar música e estava estudando contábeis para seguir na área de Controladoria.
Em que momento da sua vida você percebeu que seguiria na carreira de DJ? Como foi esse processo? E teve o apoio de seus pais?
Isso é muito doido porque assim como não decidi ser DJ, acabei não “decidindo” também por seguir na carreira. Eu conciliava a profissão de Contadora com a de DJ por 10 anos. Estava num pico de burnout na empresa em que trabalhava e resolvi pedir demissão para poder descansar em uma espécie de período sabático. Daí veio a pandemia na sequência. Tinha me dado 6 meses nesse período sabático e quando me vi na oportunidade de voltar para o escritório, já não sentia mais tesão em atuar na profissão. Meus pais sempre me apoiaram muito em todas as minhas decisões, por acompanhar minha dedicação e seriedade em tudo que me proponho a fazer, um exemplo foram as mudanças de cidade para Curitiba e São Paulo (atualmente). Eles acreditam muito em mim e isso é lindo, fez e faz toda a diferença.
Ao longo desses 14 anos, como a DJ Van Muller conseguiu chegar até aqui? Pode descrever um momento em sua carreira que considerou o mais difícil e como conseguiu superá-lo?
Com muito trabalho, estudo, dedicação e persistência. O momento mais difícil acredito que foi a minha primeira mudança, de Salvador para Curitiba. Tinha pedido demissão da empresa que trabalhava em Salvador, para poder investir na minha projeção nacional como DJ, e também, buscar uma oportunidade de salário melhor na área de Contábeis. Durante os meus primeiros dois anos morando em Curitiba, foram muitos os perrengues. Arrumei emprego no último mês da minha reserva financeira, dinheiro contado, tinha que vestir 3 camisas para dar conta do frio, às vezes tinha só o dinheiro da passagem de ida e precisei lidar com retaliação de alguns produtores que faziam festa na cidade na época.
Existe alguma festa ou selo onde você ainda não se apresentou, mas sonha em tocar?
Aqui no Brasil, tive a alegria de fazer parte de todas as festas, clubes e festivais que sonhei tocar então seguindo o meu plano de carreira, os selos Internacionais como: Circuit Festival em Barcelona, We Party em Madrid, Alegria em NYC e as festas na Ásia que tem produções lindíssimas.
Conseguir tocar fora do Brasil é um marco na carreira de qualquer DJ. Como você iniciou a sua carreira internacional? E como você vê essa expansão da música brasileira no circuito internacional? Você acha importante também o DJ investir em outro idioma?
Minha primeira GIG Internacional foi no Chile, em 2018. Estamos vivendo nos últimos anos uma ótima safra da música brasileira na cena internacional e há uma grande predominância de DJs brasileiros nos grandes festivais do circuito mundial. Com isso, vemos a conexão Internacional de novos nomes saindo daqui para tocar lá fora, justamente porque o terreno foi muito bem sedimentado por quem veio antes e abriu caminho para que cada vez mais, a nossa música alcance outros países. O lance de poder viver as experiências em outro país, é estar preparado também para poder não só tocar, mas para fazer relacionamentos, criar novos vínculos com o público, contratantes e DJs. Muitas vezes é necessário investir em um idioma. Ao longo dos anos fui dedicando tempo para incluir isso dentro da minha rotina porque não sabia falar inglês e nem espanhol. É importante para nós saber falar pelo menos falar uma das duas línguas, até para que a experiência da viagem seja mais completa. A Internet e o tempo vêm nos ajudando a entender que a geografia não manda em nós.
Como você enxerga a evolução da sua carreira e quais são os principais objetivos que você pretende alcançar nos próximos anos, tanto no Brasil quanto no cenário internacional?
Ao longo desses 14 anos de carreira vejo que cada virada de chave vem uma nova fase, um novo desafio que me coloca num lugar de renovação e mudanças. Não consigo enxergar uma trajetória final, já que os sonhos se realizam e renovam. Mas meu objetivo é trabalhar muito para manter o que foi conquistado aqui no Brasil e alcançar novos lugares, principalmente em se tratando da carreira internacional que tem sido um dos meus focos nos últimos anos. Paralelo a isso, penso no meu papel como artista que vai além do play e como mulher lésbica. Quero cada vez mais inspirar pessoas, potencializar a voz feminina para que outras mulheres possam alcançar lugares sendo elas mesmas, autênticas, reconhecidas pelo que são, sem precisar se encaixar para poder caber em lugares que não são seus. Penso que, como artistas, temos essa missão de deixarmos nossa marca no mundo de um jeito especial na vida das pessoas.
Qual foi a sua maior conquista?
Caramba, a música me trouxe muitas conquistas. Ficaria até difícil dizer qual foi a maior porque todas tem um valor gigante para mim. Pude conhecer 22 Estados do Brasil, morar em duas novas cidades, tocar nos principais clubes, festas e festivais do Brasil, levar minha energia para 6 países: Chile, México, Espanha, Austrália, Suíça, Portugal, e uma Pride Internacional em Maspallomas. Além de poder ajudar em casa, ter um canto confortável com tudo aquilo que quero, investindo em autoconhecimento, saúde mental e conhecimento. Me sinto vencedora demais.
Hoje, qual é o seu maior sonho?
Sem dúvidas, dar vida às minhas ideias na música e chegar na sonoridade que acredito.
Quais os próximos projetos para sua carreira?
Vem lançamento do novo Shooting 2024/2025, comemoração dos meus 14 anos de carreira na High Club, em uma noite pensada pra ser um ambiente democrático, acolhedor, trazendo muita representatividade e toda diversidade e potência que evidenciam as cores da nossa bandeira LGBTQIAPN+, voltar às aulas de produção e dar vida às minhas ideias para poder levar muitas novidades para as pistas. Continuar ampliando alcance e trabalhando com diversos públicos na cena Tribal e House. Acredito muito no Tribal House democrático em que posso dialogar com várias tribos sem perder a minha essência com um som dançante, percussivo, resgatando clássicos em novas roupagens e mesclando com hits do momento.
Reportagem: Fernanda Rodrigues
Chefe de Reportagem: Cássio Rocha
Editores: Orly Fernandes e Di Aganetti