COLUNA | O que aconteceu com minha voz naquele momento?

Obrigada à revista Colors DJ Magazine por ampliar a minha voz em tempos que estão tentando nos calar, mas não vou entrar muito na questão política e sim na sentimental que eu tenho em relação a minha voz.

Pra quem não me conhece eu sou Tatiana Fernandes, atriz, criadora de conteúdo, e youtuber do canal Tá Entendida.

Hoje eu tenho nome e currículo, mas lembro de no colégio não ter nome.

Eu era Chatiana ao invés de Tatiana, sempre falei alto, extrovertida, amiga de todes, fazia piada de mim antes que fizessem. Eu era uma menina que, junto com minhas amigas, saía pra noitada beijando meninos enquanto sonhava com a “Buffy – A Caça Vampiros” (talvez não seja da sua época, mas é a melhor série de vampiros que já existiu – ou porque eu era apaixonada pela personagem mesmo – … não, não, era a melhor série, sim!).

Eu calava meus desejos, apesar de ter vários pôsteres da atriz no meu quarto.

Eu calava minha autoestima, porque nunca me senti me enquadrando em lugar nenhum (mas que mania a gente tem de querer se encaixar).

Eu calava meu estilo porque tentava me vestir de acordo com as pessoas que estavam ao meu redor. E já fui dormir chorando muitas vezes por beijar e ser quem eu não queria, por calar quem sou.

Eu achava que quando finalmente saísse do armário minha voz se ampliaria, ou ganharia mais personalidade. No entanto, passei 8 anos após me assumir ainda não “tocando no assunto”. Minha mãe teve dificuldades em lidar com isso (papo pra outro dia) mas hoje é daquelas militantes de Facebook que posta todos os memes de arco-íris que existem, então você pensaria que aí sim eu consegui me apropriar da minha voz, certo?!

Foi então que me vi uma vez na depiladora e ela me perguntou como estava meu namorado e eu respondi que ELE estava bem. Por que eu fiz isso? Minha família toda já sabia, eu postava fotos na parada LGBTQIA+ no meu Instagram.

O que aconteceu com minha voz naquele momento?

Estamos tão habituades a falar baixo, a soltar a mão da namorada na rua por medo, a internalizar que o que fazemos é errado, esperando sempre o julgamento do outro que mesmo quando achamos que nossa voz ganhou peso, ela enfraquece.

Não, ela não pode enfraquecer! Nossas vozes precisam ser ouvidas de megafone. Nossos corações batem como escolas de samba quando estamos apaixonades. Também sofremos por amor. Também pagamos conta. Compramos roupas e até fogão pra casa nova, veja bem. Acredita que pagamos imposto como todo cidadão? (Nem todes pagam, mas aí é outra história, né?).

Parece algo simples esse negócio de voz, mas não é porque fomos ensinades a replicar a mesma voz com a mesma entonação. Somos um coro de vacas repetindo a mesma coisa da mesma forma. Mas isso está mudando (amém) e cada vez mais ouvimos não só vozes como gritos por aí. Gritos por liberdade e por igualdade.

Então grite!!!! Ainda que você só consiga fazer isso sozinhe em casa. Grite, ainda que seja só com sua terapeuta ou em dias de parada LGBTQIA+. Exercite suas cordas vocais, descubra até que frequência ela vai, qual sua cor (sim cor), qual sua sonoridade e, principalmente, o que ela quer dizer (porque tem certas coisas que é melhor ficar calade mesmo.

É muito bom quem fala o que pensa, mas melhor ainda é quem pensa o que fala). Descubra quem você é e quem você quer ser e fale quando estiver pronte. Eu demorei anos, alguns não demoram tanto, outros demoram mais. Mas o tempo é relativo (papo pra outro dia também) e cada um tem o seu.

Escute muito também. Você não pode querer ser ouvide se não ouvir também. Só não esqueça que dentro de você existe uma potência pronta pra emergir. Você é capaz de mudar mundos. Sua voz deve ser ouvida.

Nossas vozes devem e merecem respeito e liberdade de sermos quem somos!

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