COLUNA | Saulo e Jonas

Ilustração: Renata Palheiros

Olá!

Hoje eu peço a licença para uma pequena introdução.

Na primeira fase de minhas publicações, vocês me acompanharam numa série de três poemas de temas existencialistas, de inclusão na cena LGBTQI+ e a minha percepção da música eletrônica contemporânea. Tanto é que foram muitas as conjugações do verbo ser, não foi mesmo?

Agora, em uma nova etapa, eu trago uma coleção de cinco textos poéticos, com cinco histórias de amor entre personagens de diferentes idades, identidades e gêneros. Tenho a proposta de colorir ainda mais o nosso imaginário através de um universo fantástico inclusivo, cheio de rimas e melodia.

A seguir, no texto de estreia da série, vocês conhecerão a história de Saulo e Jonas numa abordagem infanto-juvenil metafórica e doce.

Então, sem mais me estender, venham comigo e embarquem nesta atmosfera literária de sonhos, rimas e romance. 

Beijos,

Samuel.

Naquela manhã, Saulo acordou na sua conhecida preguiça.
Injustiça! Queria ficar mais tempo enrolado no lençol.
“Não quero, não quero, não quero!”, repetiu para a mãe, enquanto puxava Jonas, o coelho, para um pouco de sol.
O roedor era o seu pelúcia desde o seu aniversário de cinco anos.
Ele tinha o pelo azul e rosa e os redondos olhos pretos jabuticabas.
“Já vou, já vou!”, Saulo gritou como se estivesse numa gruta, cheia de eco…
Então ele desceu e se acomodou ao lado do pai, na mesa de café arrumada.

Saulo tinha doze anos, mas não gostava de ir pra escola. Qual o motivo?
Jonas sabia bem… Eram o Ícaro, o Iago e o Igor, Os Cavaleiros do I.
Meninos de pais mal educados e que maltratavam o Saulinho.
Amarga lembrança, Jonas ainda sentia o cheiro do lixo e os pingos de xixi.

Mas era a educação de Saulo em jogo, e a dupla tinha que vencer.
Então, enquanto a criança chorava o não, o coelho sorria o sim.
E lá iam os dois para a escola, dois companheiros, dois aliados.
Aquela união de dar gosto, aquela amizade que não vemos o fim.

Porém, naquela fatídica sexta-feira, quem na escola já aguardava?
Os imorais e insistentes, os Cavaleiros do I. Ali! Bem feio e de tocaia.
A dupla tentou fugir, mas Ícaro, o grande, puxou o garoto sem dó.
Uma roda de alunos se formou e foram gritos aflitos e vaias.

A mochila voou, o queixo arranhou e Jonas para longe se arrastou.
Os cavaleiros riram enquanto Saulo caía num indefeso desmaio.
Tudo tão rápido, feito a lágrima brilhante na bochecha do menino.
Quando acordou, procurou seu amigo, mas nada encontrou em seu raio.

Então, ainda torto ele se levantou, numa tristeza de encher o peito todo.
“Onde está meu amigo, onde está minha força, onde está o sentido?”
Foi quando um jovem estendeu a mão e disse: “Anda! Vem comigo!”
Ele tinha os cabelos da cor da noite e uma mecha de azul e rosa. Bonito.

E os olhos? Duas jabuticabas grandes, redondas e, digamos, familiares.
Saulo não soube o motivo, mas neste momento sentiu uma timidez.
Não por ter sido flagrado apanhando pela enésima vez, mas sentiu a face vermelha.
Olhou o bordado na jaqueta do novato e… “Peraí’? A letra J é insensatez”

“Jonas, o meu nome? E o seu?”. Saulo preferiu não responder.
Ficou na dúvida se havia viajado para outra dimensão ou caído num portal.
Um novo lugar onde todos os sonhos e contos de fadas eram possíveis.
Mas nada… Aquele adolescente estava ali, podia até beliscar, era real.

“Eu vi o que aconteceu com você, não se preocupe, tenho um plano!”.
De repente, era possível acreditar na luz no final do túnel sombrio.
Se o Jonas garoto tinha uma solução para seu pesadelo, era isso!
Pronto para caminhar e confiar, Saulo parou num súbito vazio.

Uma garotinha abraçava o seu coelho Jonas no auge da alegria.
Ele queria pedi-lo de volta, mas num estalo entendeu o ciclo. Assim…
Jonas a faria feliz… do mesmo jeitinho que o fez por tanto tempo e amou.
Então, enquanto Jonas coelho sorria o sim, Saulo experimentava o sabor doce do…
Fim.

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