COLUNA | Identidade e Personalidade

O que torna um movimento artístico inovador é o que traz de realmente novo, deflagrando processos estéticos totalmente criativos, mas o que os torna realmente fecundos e renovadores é a personalidade de cada artista que deles participam. Sem ela, as ideias novas não produzem resultados significativos.

Na história da arte, cada tendência inovadora que se registra possui características próprias e, consequentemente, resultados artísticos distintos. Isso se deve à influência destas personalidades inovadoras e do contexto histórico em que surgem.

O que faz distinguirmos de cara uma tela de Modigliani? Ou o impacto imediato de um filme de David Lynch? E o reconhecimento imediato quando ouvimos um disco da Bjork ou do Thom Yorke? Esta tentativa de alguns artistas ao redor do globo de criar significativamente uma “impressão digital” em suas obras, uma “íris” inequívoca permanente do que transborda de suas almas, chama-se personalidade.

Quando comecei em estúdio, isso era uma condição sine qua non, muito particular, primeiramente me inspirando em produtores que seguiam esta estrada, como Todd Terry, Armand Van Helden e Peter Rauhofer, tendo mais tarde o privilégio de trabalhar com alguns deles. Com o tempo, percebi que o importante era criar, construir, começar do zero as peças, com os meus “pedacinhos” de personalidade que poderiam gerar semelhanças sonoras nas texturas.

Ainda na faculdade de arquitetura percebi que um dos meus preferidos, Frank Lloyd Wright, sempre tentou imprimir seus temas nos detalhes. Que felicidade ver na mesma década um “pedacinho” de sua criatividade nas paredes do apartamento do policial Deckard em Blade Runner.

Quantos de nós, numa pista de dança, reconhecemos a “mão” de um produtor musical em diversas tracks, de diversos artistas, às vezes em uma só noite?

Isso era totalmente comum e inspirador nos anos 80, 90 e 2000, pelo menos nas pistas LGBTQIA+, que ditavam as inovações. Mas, o que será que aconteceu com som da década de 2000 pra cá? Porque muitos dobraram a esquina lá atrás e a chamada “pista gay” continua na mesma “massa”: uma bateria de escola de samba retrô e olf fashioned. Culpar os “fruity-loops” da vida seria muito fácil (ou justo), mas a questão é simplesmente objetivo e controle.

Inovar é fazer a diferença! É deixar sua marca, sua digital, seu cheiro, para o resto do mundo. O mesmo respeito que louvamos um Di Cavalcanti, uma Tarsila do Amaral, um Ryan Murphy, ou um Djavan, também está dentro de nós, DJs, músicos e produtores de música.

Deflagrar os processos estéticos criativos e se tornar “inovador” é o caminho mais seguro da perpetuação de suas ideias e de torna-las “significativas”, seja nas pistas, nos iPods, ou nos streamings.

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