Um fenômeno vem ocorrendo na música pop mundial como não vemos há muito tempo; dois grupos, BTS e BLACKPINK, vêm alcançando o topo das paradas da Billboard e quebrando todos os recordes nas mais diversas plataformas digitais. Com formações que, respectivamente, podem remeter aos Backstreet Boys e às Little Mix, o pódio que antes pertencia majoritariamente aos artistas americanos agora dá espaço para comportar artistas sul coreanos, pertencentes ao gênero K-Pop.
K-Pop é uma sigla para korean pop, ou pop coreano. Ele faz parte de um dos gêneros musicais da Coréia do Sul bem como o rock, hip hop e o trot, um dos mais tradicionais do país.
Praticamente todos concordam que 2020 foi um ano de recessão em diversos setores da economia global, muito por conta da triste pandemia que ainda está presente, porém parece que o K-Pop andou na contramão desta maré.
BTS, por exemplo, vem divulgando seu estrondoso single ‘Dynamite’ nos talk shows mais populares do mundo, como o do Jimmy Fallon, e seu clipe conta com quase 450 milhões de visualizações em apenas 1 mês.
Mas como explicar esta revolução musical que o K-Pop vem trazendo?
Histórico
No século XX, a Coréia do Sul viveu uma ditadura militar que perdurou no país por cerca de 26 anos, gerando altos índices de insatisfação na população por conta da repressão e censura, incluindo as produções culturais, que foram “podadas” pela avaliação do governo e se viram isoladas mundialmente de outras referências mundiais. Ao final do período ditatorial, programas nacionalistas e de incentivo culturais foram ampliados, porém apenas após a redemocratização do país pôde-se sentir os efeitos da chamada Onda Coreana, também conhecida como hallyu.
O hallyu foi o nome dado para o alto crescimento e destaque da Coréia do Sul na economia asiática devido a um conjunto de políticas de investimentos locais. Setores como os de telenovelas, cinematográfico, fashion, beleza, comida e música foram os principais contemplados, originando o K-Pop em meados da década de 90.
A partir daí os primeiros grupos e os artistas, também conhecidos como idols, começaram a surgir. O primeiro a se destacar neste movimento foi Seo Taiji and Boys, criado em 1992 e liderado pelo cantor Seo Taiji, cuja experimentação musical e a também importação de referências ocidentais remodelou a cena musical sul coreana.
Alguns anos depois, o primeiro grupo feminino de grande sucesso foi formado. Baby V.O.X, como eram conhecidas, foram criadas em 1997 e possuíam inspirações nas Spice Girls, incluindo o número de integrantes em sua formação inicial, alcançando o topo das paradas em solo nacional com o single “Get Up”.
Também foi na década de 90 que os principais selos do K-Pop surgiram, como as gigantes SM Entertainment, YG Entertainment e JYP Entertainment. Elas, juntas com outras gravadoras da época, abriram as portas do mercado asiático e mundial para o K-Pop, através de ousadas estratégias de marketing e promovendo padrões que perduram até os dias de hoje, que vão desde a estética sonora e visual até os polêmicos padrões de beleza dos idols.
Estética e influência das músicas e clipes
A sonoridade do K-Pop se assemelha ao Pop convencional ao seguir tendências e sempre se reinventar a partir de outros ritmos. O pop coreano, além de importar muito dos EUA e Europa, conversa com ritmos orientais como o C-Pop e o J-Pop, respectivamente a música Pop da China e Japão. Muitos artistas solo e grupos acabam por regravar músicas nas línguas destes poderosos e estratégicos mercados de forma a penetrar mais facilmente neles.
As músicas harmonizam diretamente com a identidade do grupo, que pode transitar por mais de um conceito com a finalidade de agregar mais fãs. Geralmente as músicas se dividem nos conceitos: alto impacto, sexy, fofo, urban e, um em ascenção nas girlgroups, empoderamento.
A partir do conceito consolidado, toda a estética da música e clipes é formado. Isto vai desde a harmonização, passando pelas mensagens, fotografia do clipe, cenários, figurino e até as famosas coreografias muito bem ensaiadas.
As gravadoras não economizam na produção de conteúdo de um idol, contando com algumas das mais requisitadas equipes de engenharia, produtores, escritores e DJs do planeta, o que reflete numa qualidade quase sobre-humana do pacote completo que o K-Pop vende ao seu público. Personalidades como Will.i.am, David Guetta e Pharrel Williams são alguns dos muitos exemplos de grandes contribuintes desta indústria.
Como são e como se formam os grupos
Para ter o famoso debut, ou grande estreia, é necessário um árduo trabalho físico e mental. As grandes empresas de entretenimento trabalham com audições periódicas e uma constante busca por jovens talentosos, semelhante com o método dos ídolos da Disney. Os selecionados viram trainees da empresa, período preparatório e intensivo para tentarem vagas nos projetos internos das empresas. Com rotinas de ensaios e treinos, além da escola regular, muitos candidatos passam a viver em alojamentos até a seleção final.
Ao ser escolhido para debutar, os idols passam a conviver com seus companheiros de grupo, passando tendo ensaios exclusivos e, inclusive morando juntos, o que acaba construindo relações fraternas e de companheirismo, mas também podendo provocar atritos. A partir daí diversas ações de marketing são adicionadas a já pesada rotina até a sonhada grande estreia.
Os grupos ou bands, são projetos pertencentes às agências, podendo ela substituir um ou mais integrantes e manter o projeto em amplo funcionamento. Além disto, cada trainee acumula dívidas referentes aos custos de todos os investimentos feitos pela empresa, e são nos primeiros anos de faturamento dos grupos que os idols têm a oportunidade de pagar esta dívida.
Durante ou até após a escalação dos integrantes das bands, eles são submetidos a rígidos contratos de exclusividade, confidencialidade e compromisso, onde alguns podem proibir até relacionamentos amorosos de qualquer natureza. E o que dizer das grandes mudanças estéticas dos idols? Muitos questionam se as rápidas mudanças nos corpos dos ex-trainees além das cirurgias plásticas são incentivadas para sustentar os padrões de beleza de um verdadeiro astro.
Com relação ao perfil dos integrantes de um projeto, cada integrante costuma se destacar por alguma habilidade, seja dança, potência vocal, habilidade em rimas ou até liderança, que são complementares no final das contas.
A rotina de um idol pós debut é praticamente construída e, por muitas das vezes, exaustiva. Além de uma rotina de alto resultado para um artista do mundo da música, os integrantes precisam enfrentar desafios, por vezes cruéis, de aparições públicas e campanhas publicitárias, o que pode levar a um alto stress mental e até grave adoecimento de muitos dos que passam por esta indústria.
A relação com os fãs
Não é novidade que os grupos de K-Pop são construídos para agradar nichos de fãs, seja pelo estilo de vida mostrado pelos idols, seja pela relação de certa intimidade que eles possuem com suas fanbases, que recebem nomes personalizados de acordo com cada artista. São fãs, em geral, muitos fiéis e acalorados, mas com uma capacidade de união capaz de realizar feitos literalmente históricos.
No mês de junho, o esvaziamento proposital de um estádio provocado por fãs de K-Pop, onde ocorreria um discurso do Presidente Americano Donald Trump, foi notícia no mundo inteiro. Eles retiraram grandes quantidades de ingressos para o evento, que era gratuito, e não compareceram. A última ação de destaque foi a arrecadação de 37 mil reais para Organizações que combateram o incêndio no Pantanal alavancada pelos Armys, fanbase do grupo BTS.
Para estreitar a relação com os admiradores, os grupos, se utilizando dos seus conceitos predefinidos, realizam grandiosas turnês ao longo do continente asiático com tudo organizado nos mínimos detalhes para proporcionar a melhor experiência para seus fãs. As interações nas redes sociais muitas das vezes estão sujeitas às regras da agência e podem ser restritas apenas a elevar o engajamento do projeto.
Da primeira à quarta geração
As gerações do K-Pop são eras onde os artistas possuíam perfis e estratégias de acordo com sua época.
Primeira Geração
Os pioneiros da indústria do K-Pop, conhecidos por refrãos cativantes e grupos sem muitos padrões predefinidos e com alta influência do gênero oriental trot e do pop americano.
Principais nomes:
– Seo Taiji & Boys
– H.O.T.
– Baby V.O.X.
– Fin.K.L.
Segunda Geração
Aposta em cantores solo, estratégias de expansão no mercado asiático e padronização de formação de grupos com o surgimento do período trainee. Surgimento projetos voltados exclusivamente para os fãs, como o Super Junior, que entrou para o Guiness Book como o grupo com maior número de integrantes do planeta.
Principais nomes:
– BoA
– Rain
– TVXQ
– Super Junior
– Girls Generation
– Brown Eyed Girls
– Wonder Girls
– PSY
– KARA
Terceira Geração
Surgimento de grupos que promoviam a desconstrução de padrões, com alta influência na moda oriental, exploração de novos estilos (como o trap, dubstep, disco e a eurodance), além de promoverem a primeira grande massa de exportação para o mercado musical global.
Principais nomes:
– 2NE1
– 4Minute
– SHINee
– BIGBANG
– f(x)
– Orange Caramel
Quarta Geração
Promovida pelo smash hit ‘Gangnam Style’, do já conhecido da Coréia do Sul PSY, houve uma onda de ocidentalização nos novos projetos, com produções na língua inglesa e estratégias voltadas para a participação ativa do K-Pop no mercado mundial.
Principais nomes:
– BTS
– EXO
– Red Velvet
– MAMAMOO
– B.A.P.
Quinta Geração
A atual geração é marcada pela consolidação da participação do K-Pop nas paradas mundiais, feats. com artistas americanos, uma maior diversidade étnica entre os integrantes dos grupos e a volta do investimento em artistas solo.
Principais nomes:
– Blackpink
– Twice
– Monsta X
– LOONA
– Chung Há
– KARD
– (G)I-DLE
O K-Pop hoje em dia
Com a disseminação do pop sul coreano mundo afora, muita coisa começou a mudar e tomar rumos diferentes do dito tradicional.
Apresentações que antigamente se limitavam ao território asiático começaram a se expandir mundialmente, inclusive no Brasil. Em 2014, diversos artistas da terceira e quartas gerações do K-Pop se apresentaram no Festival Music Bank em São Paulo.
E por falar em outro grande feito, Blackpink foi a primeira girlband oriental a se apresentar no Festival Coachella 2019, nos Estados Unidos.
A diversidade começou a ser levada a sério e as agências, que costumavam formar exclusivamente boybands ou girlbands passou também a investir na formação de grupos mistos, como o KARD, que já veio ao Brasil.
Somado a isto, as companhias passaram a visar uma maior diversidade étnico-racial de seus membros. Como exemplo, temos a integrante Lisa do Blackpink, que é tailandesa, além do recente debut de Black Swan, girlgroup que conta com a primeira integrante brasileira e uma integrante senegalesa.
Por fim, é notório que temas antigamente considerados tabus, como o debate à saúde mental na indústria da música e a inclusão de artistas mais velhos começaram a ser postos a provas, principalmente pela mídia internacional. Movimentos mundiais começaram a pressionar as gigantes do K-Pop sobre os recentes casos de suicídio envolvendo ex-membros como os do SHINee e f(x) e estimular o debate sobre depressão dentro do mundo da música.
Já o carismático PSY fundou em 2019 a empresa P Nation, acolhendo conhecidos artistas rejeitados por sua idade ou por questionarem os métodos controversos de grandes agências, considerados por muitos injustos ou irreais à sociedade contemporânea.
O K-Pop veio, de uma vez por todas, para impactar e revolucionar a cultura mundial. Na era da inovação e da tecnologia, nada mais justo que incorporarmos ao nosso dia a dia artistas que pertencem não apenas a uma nação, mas a um coletivo de sonhadores com muito talento e paixão de sobra, unindo o ocidente ao oriente num caminho sem volta.
Referências:
– Cho, Chung-un (23 de março de 2012). «K-pop still feels impact of Seo Taiji & Boys». The Korea Herald. Consultado em 12 de abril de 2016.
https://ask.fm/cheonsaBrazil/answers/141709843359
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https://aminoapps.com/c/kpoppt/page/blog/entenda-mais-sobre-periodo-trainee/31zR_JVcBuGKPqgwr5eZZ2dNMMwd6Yn1oJ
https://www.midiorama.com/geracoes-do-k-pop-parte-1-1a-e-2a-geracao
https://www.midiorama.com/geracoes-do-k-pop-parte-2-3a-4a-e-5a-geracao