Você se lembra como foi a sua primeira vez? Pode parecer um pouco vaga essa pergunta, já que provavelmente você já teve mais de uma “primeira vez”, mas com certeza, se você parar agora e fechar os olhos assim que terminar esse parágrafo e se conectar com alguma memória do tipo, vai se recordar das sensações que teve naquele dia… Ou noite…
A primeira palavra dita quando bebê, o primeiro dia na escola, o primeiro beijo, o primeiro namoro, o primeiro emprego, a primeira apresentação como DJ, a primeira viagem… Durante toda a nossa vida, passamos e iremos passar pela sensação de viver algo que nunca foi vivido antes. E se prestarmos mais atenção e nos conectarmos mais, vamos ver que todo dia passamos por isso ao acordar. Já parou pra pensar nisso? Por mais que tenhamos uma rotina não sabemos exatamente o que irá acontecer, já que a cada segundo estamos vivendo como se fosse a primeira vez. Agora mesmo, ao terminar de ler essa palavra, você está passando por essa palavra pela primeira vez.
Eu me lembro do meu primeiro encontro com a CDJ. Estava no meu primeiro dia de curso, na sala apenas eu e mais quatro alunos e o instrutor, e ainda assim minhas mãos tremiam, meu organismo dava sinais de que eu precisaria ir ao banheiro em breve e a voz gaguejava quando fazia uma das várias perguntas naquela aula. Era medo? Não! Mas uma mistura, ou melhor, um mix de ansiedade e empolgação pra sair apertando aqueles botões e dominar com maturidade os equipamentos a ponto de subir num palco preparado para fazer um set que fizesse as pessoas dançarem muito… Aliás, essa sensação me acompanhou na primeira vez que estive nessa posição. Se você que estiver lendo essas linhas, e for DJ, vai saber do que estou falando.
Aquela hora em que as pernas não respondem muito bem aos movimentos, o sorriso vem e volta em meio ao nervosismo e concentração para que tudo saia de maneira profissional, sem errar a virada e manter a energia da pista, tudo isso buscando passar tranquilidade e serenidade para a pista. E essa sensação me acompanhou por muito tempo, mas ao poucos fui aprendendo a lidar com ela e a tornei minha melhor amiga, a ponto dela me acompanhar até o primeiro play e depois sumir já que daquele momento em diante seriamos só eu, o equipamento, a música e o público (ok, no meio disso tudo pode aparecer um imprevisto, o som parar, alguém aparecer e pedir uma música, mas isso eu deixo para outra edição).
Eu poderia começar escrevendo essa coluna dizendo o quão incrível e per-fei-to foram as minhas primeiras vezes como DJ, mas isso iria contra o que eu acredito e o que aprendi com a noite e com a vida de um modelo geral. Acontece que, com o passar do tempo e das experiências, fui me familiarizando com tudo isso que nos cerca e também com os processos de autoconhecimento que passava. É isso: É sobre processos.
Ninguém nasce sabendo e desde pequenos estamos em uma grande escola que nos traz ensinamentos todos os dias. As vezes aprendemos por conta própria, outras precisamos de uma ajudinha, em outras aprendemos de maneira fácil e outras nem tanto…, mas o importante aqui é aprender. Tanto com os acertos, quanto com os erros, sabendo ouvir os comentários e filtrando aquilo que te serve (que nem sempre serve para todos, ok?) e aproveitando para amadurecer como pessoa e profissional.
E escrever dessa maneira, me abrindo para essas memórias e minhas vulnerabilidades, é pra te ajudar a lembrar que somos humanos acima de qualquer coisa. Somos movidos a emoções e principalmente por sonhos que merecem ser vividos. E mais: Se eles se realizarem e em algum determinado ponto da sua vida você perceber que aquele sonho foi vivido e não faz mais sentido pra você, tenha maturidade e gratidão pelas experiências que foram vividas… Os minutos não voltam atrás. E mesmo que a gente toque uma música por diversas vezes, ela nunca será a mesma…
Isso é um recado da vida pra nos lembrar de dançar e se divertir, se abrir para as experiências e oportunidades que nos são dadas sem nos cobrar tanto! Não deixe que a pressão imposta pelos outros de “ter que ter ou ser alguém” estrague sua festa.
Eu não sei quais são os seus sonhos, mas sei que todos eles podem ser realizados. Se você me perguntar como fazer para que eles saiam do papel, talvez eu possa trocar algumas ideias contigo (minha caixa de e-mail está aberta para ajudar, ok?) e então você encontrar os caminhos para isso. Mas de antemão eu posso te falar que não há nada mais bonito do que a coragem de viver uma primeira vez. Viver experiências que podem ser muito incríveis, ou às vezes nem tanto. Viver de maneira original e autêntica, da nossa forma, buscando para mostrar pro mundo nossa verdade compartilhando com os outros aquilo de mais bonito existe dentro da gente que vai surgindo com o passar do tempo (basta se permitir). Viver como se fosse a primeira vez (de maneira sábia e responsável, claro) aproveitando o presente sem se importar com julgamentos, ou se vão rir ou criticar algo. Tenha certeza que muitos daqueles que já riram de alguém lá no fundo gostariam de ter a coragem e a beleza que só quem faz coisas pela primeira (ou segunda, terceira, quarta…) tem.
Essa é minha primeira vez escrevendo numa coluna de uma revista e é certo que o nervosismo bateu e por alguns segundos me lembrei de uma das maiores lições que minha carreira me trouxe: A gente se perde de nós mesmos quando tenta agradar a todo mundo. É claro que queremos ver uma satisfação geral e que tudo seja um grande sucesso, mas o mistério do fracasso é tentar agradar a todos.
Muito obrigado por você ter chegado até aqui e espero, de verdade, que algumas dessas palavras possam ter te feito bem.
Um beijo grande…
Mas antes de ir eu quero deixar um trecho de um livro que li outro dia:
“Eu quero que você me prometa que, na próxima vez em que tiver uma entrevista de emprego ou uma reunião importante para apresentar um projeto, ou até mesmo um date com aquele crush do aplicativo que você ainda não conhece, seja lá o que for, você vai olhar no espelho e vai dizer: Eu espero que eu goste deles. E não: Eu espero que eles gostem de mim”.