No último censo em 2018, 79,1% das casas brasileiras possuíam internet. (Confira pesquisa). O tempo excessivo na frente das telas fez com que a criação de uma persona online fosse inevitável. Todos passam não somente a consumir conteúdos da internet, mas querem ser parte dela, existir, ter seu local de destaque. E daí surgiu a necessidade das opiniões… E pior, a polarização delas. As constantes discussões político-ideológicas nas redes sociais nos últimos anos nos fez entender que nos tornamos um ser que tem uma vida offline, mas que opina e se posiciona online. A nossa mente e memórias se tornaram objeto de interesse não só de amigos próximos, mas de pessoas que mal nos conhecem.
Sob a égide da alegria das curtidas e visualizações, os pensamentos são sintetizados em textões pessoais, viagens revividas e expostas em eternos TBTs, cotidianos que exaltam uma perfeição ilusória recheada de consequências que intimamente já sabemos ter e não conseguimos evitar.
Depois de assistir ao documentário “Dilema das Redes” fica ainda mais claro o momento de polarização de opiniões e eterna caçada das empresas pela atenção do internauta, a fim de vender os seus produtos. Mas então.. Como ficamos nós, artistas, mais especificamente DJs, em meio a esta enxurrada? Qual postura ter: Adotar uma neutralidade convenientemente confortável e segura ou usar a sua voz para se posicionar e arrancar suspiros do público que te vê como herói?
A resposta não é simples.
Se posicionar sobre assuntos relevantes traz identificação. Hoje as pessoas gostam de ídolos reais, pessoas que tem dores e que lutam por elas. Se posicionar sobre um assunto transforma o DJ não somente num lutador de causas pessoais, mas em alguém que trabalhará no campo da representatividade. Ele é quem carrega uma bandeira de uma causa e dá ao público uma proximidade tendo ela como interseção. Quem não se sente mais íntimo-fã-amigo da Xuxa por ela apoiar os direitos LGBTQIA+?
Além disso, posicionamentos online trazem um forte engajamento. Quanto mais relevante e polêmico, maior o número de comentários. Todo mundo gosta de dar opinião no post alheio e mostrar como pensa. Além de criar intimidade e proximidade com o público, posicionar-se sobre um tema polêmico pode se revelar uma excelente forma de chamar atenção online e subir o algoritmo. Há quem crie polêmicas antes de lançar um single novo, não é mesmo?
O medo, entretanto, reside no receio de que sua opinião não agrade a maioria e você sofra as consequencias do linchamento virtual por apenas discordar de algo. Estamos sempre encarnando a máxima de que como artistas devemos mostrar parte do nosso interior e não um boneco fake imerso em mentiras. Afinal, mentira tem perna curta… Quem aguenta viver encarnando um personagem? As opiniões vem de dentro e o público precisa sentir essa verdade. Mas o que fazer para ter opinião sempre sem sofrer com os julgamentos?
Podemos simplesmente passar a agir como uma empresa, que não se posiciona aleatoriamente, nem de forma impensada. Como artistas, devemos mesclar nossas opiniões e gostos internos com um estudo meticuloso do que pensa e necessita o público e como você deve como empresa se envolver nas causas. É um risco calculado; o mesmo que certamente o corpo de marketing da Natura pensou que a marca correria ao criar uma campanha de dia dos pais que figurou, entre outros pais, o Thammy Miranda. E se este case servir aos mais tradicionais como exemplo de como comercialmente os posicionamentos são importantes para a empresa, a Natura teve 6,7% de aumento do valor das suas ações por conta desta campanha (https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/07/30/apos-campanha-de-dia-dos-pais-acoes-da-natura-sobem-6-7-e-lideram-ibovespa).
A questão é: posicionar-se é correr riscos. Você está disposto a corrê-los? Você está preparado para suas consequências?