O mercado de cursos para DJ nos últimos anos foi uma ótima oportunidade profissional.
Havia muitas pessoas interessadas em aprender e poucos cursos disponíveis.
Quem soube explorar esse mercado teve grande sucesso na época.
Com a pandemia, dar aula passou a ser uma fonte de renda para os DJs, que sem festas acontecendo não tinham como ganhar o seu sustento.
Muitos profissionais começaram a ministrar aulas, o que é super bem vindo: o mercado precisa de novos talentos que sejam qualificados.
Muita gente “virava” DJ da noite para o dia. Aprendiam um pouco aqui, um pouco acolá, aos trancos e barrancos, e sempre tinham deficiência na parte técnica.
Agora estamos observando uma multidão de novos DJs, ávidos por colocar seu público para fritar, assim como fazem seus ídolos.
Pode parecer frustrante, mas na verdade existe um longo caminho até isso acontecer.
Muito provavelmente, quando um DJ iniciante consegue uma data, ele será escalado para o warm up, e aí chegamos ao tema dessa coluna.
Muita coisa passa pela cabeça: “Poxa, eu vou abrir a festa, quase ninguém vai me ver tocar, não vou ter a repercussão que eu esperava“.
Realmente. O povo ainda está chegando na festa, encontrando os amigos, comprando ficha de bebida…
E após conseguir algumas datas, sempre tocando em warm up, bate até um desânimo, pois se só toco no warm up, quando meu som vai chegar a ficar conhecido da maior parte do público?
Tocar fora do warm up é igual procurar por um emprego. Só há vagas para quem já tem experiência, mas se nunca te dão uma chance, quando você vai ter experiência?
E assim fica, nesse círculo vicioso. É o que eu chamo de “Síndrome do DJ Iniciante“.
Pode parecer desanimador, mas calma, jovem. Esse é só o lado negativo.
Vamos agora ao lado positivo.
Primeiramente, você não está tocando apenas para o público que está chegando. Você está tocando também para os produtores do evento, que mesmo que não estejam à sua vista, estão te ouvindo e te avaliando.
Se a apresentação agradar, aumenta a chance de ser chamado de novo, e aí quem sabe na terceira ou quarta vez você não consegue outro horário? O importante é ir mostrando serviço.
Fazer o warm up é maravilhoso! Por incrível que pareça, é o horário onde você terá mais liberdade para criar seu SET.
Pode tocar músicas antigas (conforme comentei na minha coluna do mês passado). Pode transitar por outras vertentes além do Tribal (House Progressivo, Tech House, Tropical House, Deep House). Pode experimentar tracks novas, ou então aquelas que (quase) ninguém toca, testando-as, vendo a reação do público.
Só não deve queimar os principais hits do momento, prejudicando os DJs que vão se apresentar depois.
Trata-se de um erro terrível, que deve ser evitado.
Você não vai pôr o povo pra fritar, talvez só no finalzinho do seu set, nas últimas músicas, se for um warm up de duas horas, mas ainda assim é importante prestar atenção na expressão corporal das pessoas.
Dá pra perceber se elas estão curtindo. Um sorriso aqui, uma pessoa cantarolando acolá, um pezinho batendo…
Esse é o feedback que você recebe e que vai te ajudar a direcionar seu SET até entregar a pista ao segundo DJ.
Algo que não precisaria ser comentado, mas que infelizmente acontece o tempo todo: tocar uma produção do próximo DJ ou de alguém que esteja no line up.
Talvez o outro DJ tivesse a intenção de tocá-la. Se você fosse o produtor, iria gostar que tocassem a sua própria música antes de você?
Claro que não. Nenhuma regra de etiqueta, aliás, precisaria ser escrita se todos se colocassem no lugar do outro. É uma questão de respeito, de ética e de empatia.
Já parou pra pensar também que os últimos DJs do lineup passam horas e horas esperando pra tocar, tendo sempre que ficar atentos ao que está sendo tocado pra não repetir música? Não podem exagerar na bebida, nem curtir muito a festa? E quanto mais fervida está a pista, maior é a responsabilidade de assumir a cabine?
Já você, abriu a festa sem nervosismo, porque a casa ainda estava vazia. Recebeu as pessoas com um low bpm, músicas mais calmas, depois foi aos poucos crescendo seu SET e entregou a pista redondinha, já aquecida para o segundo DJ: missão cumprida com sucesso.
Agora é hora de relaxar, curtir o evento, fazer seu networking, conversar com seus amigos e seu público, tudo na mais absoluta calma.
É só alegria!
Por último e não menos importante, e aqui vai minha visão pessoal: o warm up talvez seja um dos horários mais importantes.
Quando ele é executado com carinho, amor, alegria, técnica e profissionalismo, tudo flui melhor. O SET dos outros DJs flui melhor, a festa tende a ser um sucesso.
Já um warm up equivocado pode ter o efeito reverso: como num efeito dominó, prejudicar os DJs seguintes, que não conseguem se conectar com o público. No final todos vão embora pra casa (ou pro after) com a sensação de que poderia ter sido melhor.
Sejamos francos: todos nós já vimos isso acontecer.
Então, o conselho que eu daria para quem já fez, está fazendo ou pretende fazer o curso de DJ: não foque sua pesquisa musical apenas nas músicas que seu ídolo toca. Pesquise mais, abra seu leque, vá acumulando um bom repertório de warm up, porque mais cedo ou mais tarde você irá precisar.