COLUNA | Trans(“formar”)

Atualmente vemos que a definição de sexualidade está em alta. Muitos dizem que é errado, mas não se esforçam nem um pouco em entender a dor do outro. Levam consigo dogmas e definições pré-estabelecidas de instituições que por anos julgaram e apontaram como erro aquilo que é inerente ao ser humano. E que, muito embora muitas pessoas já reconheçam que a sexualidade não é uma escolha, mas uma parte da essência individual de cada ser humano, a porcentagem que insiste em julgar e se prender a dogmas já provados “errados”, é exorbitante.

E temos ainda, o fato que que o entendimento para a maioria das pessoas é quase impossível, devido a nomenclaturas, dadas exatamente para tentar facilitar o entendimento das várias nuances da sexualidade do ser humano; o que ainda causa confusão, mas que vemos a necessidade de ter essa nomenclatura, dado o grau da complexidade do assunto. Antigamente tínhamos apenas dois sexos: o feminino e o masculino. Isso não mudou, continuamos tendo masculino e feminino, porém temos que vincular a mente e o corpo a essa sexualidade, quando isso ocorre, temos o que chamamos atualmente de sexualidade “cis”. Homens e mulheres cis, são as pessoas que associam sua sexualidade de corpo e mente, aceitando sua situação biológica. Quando não acontece, temos o que chamamos de transexualidade, ou seja, temos um corpo com sexo Y mas a mente não se reconhece ali dentro, ela se reconhece no sexo X, eis o que causa o estranhamento na maioria das pessoas, que é quando se descobre isso, que a pessoa procura artefatos para que possa se identificar como sexo X; isso pode ser apenas por roupas, maquiagem, ou mudanças mais severas, como operações no próprio corpo, para tirar aquilo que não lhe agrada.

Por exemplo, em uma mulher [usemos o termo biológico neste exemplo], uma rinoplastia é mais bem vista do que uma mastopexia? Ora é simples. A rinoplastia vai deixar o corpo mais dentro dos moldes femininos pré definidos que já comentamos anteriormente, enquanto que a mastopexia, vai subtrair um fator essencial para a imagem feminina, assim como os cabelos, por exemplo. Porque o preconceito com cabelos curtos em mulheres? Pelo mesmo motivo que acabamos de citar. Enquanto um cabelo longo traz feminilidade, sexualidade, a sensação de uma mulher submissa, o cabelo curto trás o oposto, traz a masculinização, a imagem de uma mulher dura e difícil, que impõe as próprias opiniões.

 Mas aí vem outra pergunta: como se descobre trans? A resposta pode não ser tão simples. Não nos descobrimos trans. Somos trans. O que descobrimos é a maneira de chegar até o ponto em que ficamos felizes em ser o que somos, como somos, mentalmente e fisicamente. Até lá, é um longo caminho. Temos que entender o que se passa com nossa mente, e o nosso corpo, e alinhar as duas coisas. Para entender o corpo, temos a biologia e seus estudos, aprendemos na escola as formas clássicas, é até fácil assimilar o básico. A questão é a mente; absorver e combinar os conhecimentos. Se pra quem é transsexual, não é fácil, imagina pra quem não tem a menor ideia do que se passa com essa pessoa. Tem gente que diz que é frescura, que é desculpa para se meter naquilo que “não é certo”, porém os maiores casos de violência que vemos envolvendo transsexuais, sabemos quem é culpado, não é mesmo? Mas não é essa questão que viemos trabalhar aqui.

Aqui viemos falar sobre como é a transmutação da mente, da evolução e da descoberta. Ué, mas não haviam dito que não é descoberta? Veja bem, não é uma descoberta do desconhecido, mas do conhecido, do interior, do que não querem que saibam, sobre o próprio ser humano. Sabemos que no reino animal é possível a homossexualidade, vemos isso em vídeos de humor o tempo todo em enxurradas de piadas pejorativas o tempo todo, porém a transexualidade também não é exclusivo dos seres humanos. Vemos isso em espécies que chamamos hermafroditas. Não é a mesma coisa, porém vemos a mutação de sexo biológico para reprodução, por exemplo. Não que isso seja uma comparação justa, mas é um exemplo de que existe sim, a transição sexual em espécies que não os seres humanos, embora, apenas nos seres humanos essa transformação seja feita por causa da não aceitação do próprio corpo. E isso não tem nada que ver com felicidade, gratidão, nem nada religioso, apenas bem estar, que é importantíssimo para qualquer ser humano.

O reconhecimento dessa fase é marcado por inseguranças, de negações, de experiências não agradáveis da pessoa para com ela mesma. Coisa que já não é fácil para um adolescente no início da puberdade, torna-se ainda mais difícil para alguém com problemas com o próprio corpo desde sempre. Enquanto na adolescência lidamos com questões como excesso de hormônios, mudança de voz, menstruação etc… Imagine-se sendo um homem simplesmente não aceitando a voz grave que está surgindo, ou uma mulher não aceitando o formato do corpo, com as curvas que estão nascendo?  Parece fácil vendo de fora, mas tente se colocar no lugar desse adolescente, desse adulto, dessa criança. Digo isso pois nunca sabemos a idade com que essa ficha vai cair, nunca sabemos qual será o tempo que nos será dado para expor tais sentimentos. Essa transição, que deveria ser algo “fácil” assim como a puberdade que nos é dado todo o apoio, na questão da menstruação para o feminino, na questão dos pelos e da voz, para o masculino, porque não podemos dar voz para a transição sexual? Por que insistimos em achar que isso é um transtorno, um erro, uma aberração, quando no íntimo, sabemos que não é? Pensemos que não é fácil não aceitar o próprio corpo, vamos nos colocar no lugar dessas pessoas e ter um pouco mais de empatia e dar o apoio necessário.

Vamos RESPEITAR todos, todas e todes.

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