COLUNA | Até quando?

Sempre que algum assunto vem à tona nos veículos, inevitavelmente, acabo fazendo uma reflexão e, em alguns casos, faço questão de dividir com vocês o meu olhar.

Vivemos numa sociedade doente – homofóbica, preconceituosa, opressora, machista – por herança cultural, mas isso não quer dizer que devemos nos apoiar na inércia e aceitar isso como imutável ou, ainda pior, normatizar algumas atitudes baseados em um passado que não deveria ser motivo de orgulho.

Sim, estou me referindo aos discursos recentemente proferidos no BBB. Foram tantos e tão absurdos, que eu precisaria de um texto gigantesco para retratar minha indignação, então vou tentar ser sucinto.

A necessidade de serem ouvidos, tanto Juliette, quanto Lucas, foi a primeira coisa que me chamou a atenção. E não propriamente o intuito deles, mas a falta de interesse de todos os outros em ouvir. Este foi o ponto. Ambos são de origens diferentes, com histórias e cicatrizes muito desiguais, mas com lutas bem semelhantes. Lutas contra desigualdade, contra preconceito, contra injustiça e por aí vai. 

Acontece que seus colegas preferiram julgar, a ouvir o que eles de fato tinham para dividir. Por natureza, a gente tem o hábito de apontar o dedo e criticar. É mais fácil!

É mais fácil ignorar do que reconhecer falhas e refletir e mudar algo que você sempre teve contigo, entretanto, o fato de sempre estar ali não significa que esteja certo ou que seja bom. O discurso de ambos mostrava sempre uma fragilidade que talvez ninguém ali estivesse pronto para lidar. Estou tentando ser otimista para não ter que reconhecer que alguns são realmente podres e sem a mínima vontade de se tornar melhor.

Na sequência vem a dúvida da sexualidade, novamente, do Lucas. Como se isso fosse mudar a vida de qualquer um ali. O pior foi ver pessoas assumidamente gays ou bissexuais fazerem o questionamento, e isso mais uma vez apenas para apontar e criticar.

Eu nem vou comentar das ações criminosas de alguns participantes em relação à tortura psicológica direcionadas a ele e a Juliette. Foi nojento!

E quando nós achamos que teríamos paz, vem as falas sobre as roupas do Fiuk e do cabelo do João.

Eu estou usando os exemplos do BBB, mas isso tudo é muito mais comum aqui fora, ok?

Não consigo admitir que o racismo ainda seja tão presente no nosso cotidiano.

Não dá para aceitar que as desculpas “meu avô era negro, então não sou racista”, “o meu cabelo também não é tão bonito” (oi? – essa ainda é pior porque além do preconceito, tem o julgamento pessoal do que é bonito), “eu tenho amigos pretos”. Bicho, acredite você ou não, esse tipo de justificativa, às vezes, machuca mais do que o fato em si.

“Mas eu sempre disse expressões racistas e ninguém nunca falou nada, é muito mimimi”. Devo te informar que você sempre esteve errado e se no passado ninguém te falou, agora tem uma infinidade de artigos e discussões que podem te informar.

Quanto ao seu conceito de mimimi, toda vez que seu “radar” apitar como mimimi, é sinal que você deve prestar atenção no assunto e se informar. Enquanto você pensar dessa forma, tem coisa para aprender sobre este assunto, ok?

Estou acostumado a ler muita babaquice nas redes sociais, principalmente agora que as pessoas perderam o filtro por se esconderem atrás de um perfil, mas discriminação e preconceito eu, de verdade, não consigo digerir. Já passou da hora de mudar esse discurso.

Como já nos ensinou Gabriel, o pensador: “E de pai para filho o racismo passa, em formas de piada que teriam bem mais graça se não fosse o retrato da nossa ignorância, transmitindo a discriminação desde a infância. E o que as crianças aprendem brincando é nada mais, nada menos que a estupidez se propagando. Qualquer tipo de racismo não se justifica, ninguém explica! https://www.youtube.com/watch?v=vr_k6GURTm8

Para finalizar, porque já estou me alongando, vem a questão do vestido do Fiuk. Olha, dá vontade de mandar viver com a Damares, para ser educado.

Um dia as pessoas vão aprender que ninguém é igual a ninguém, que todos têm suas particularidades, e que você não tem que se preocupar com a aparência de ninguém, com a orientação sexual de ninguém, com a etnia de ninguém, de que parte do país o sujeito tem sua origem, nem com a forma como fulano ou sicrano se porta ou se veste, mas tem por OBRIGAÇÃO respeitar todos. Gaste seu tempo e seu discurso com isso.

Ainda vai ter aquele que vai dizer que eu não poderia estar tratando de temas como racismo porque sou branco. De fato, eu não consigo saber com exatidão o tamanho das feridas e a intensidade da dor neste assunto, mas felizmente eu tenho empatia e tenho interesse em me tornar uma pessoa cada dia melhor. Isso me faz pesquisar e estudar. É simples!

Além disso, posso não sofrer preconceito racial (entendo meu lugar de privilégio, neste sentido), mas sou gay, umbandista, estou ficando calvo e sou pobre e filho de uma diarista aposentada e de um eletricista, então sei bem o que é ouvir piadinhas e comentários maldosos. Conheço essa dor, infelizmente.

Faça um favor para você: respeite o próximo!

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