COLUNA | Abertura da 2ª Parada Virtual LGBTQIA+ de BH, by @bsurda e @fanfarra3.0

No último mês de junho o mundo inteiro estava iluminado pelas cores do arco-íris. Em meio à multidão de manifestações de amor, aceitação e posicionamento de resistência, venho destacar aqui a abertura da 2ª edição da Parada Virtual LGBTQIA+ de BH, realizada pelo coletivo local @bsurda, contando com a participação de quase 100 pessoas e realizou palestras, conversas, oficinas, shows, games e festas. O evento virtual, além de integrar a comunidade como um todo, tinha como objetivo reverter apoio para a ONG Transvest, de Belo Horizonte e durou 11 dias, de 17 a 27/06. A  ideia é continuar nos próximos anos.

Especialmente no dia 18, ao início dos trabalhos sob o comando da @fanfarra3.0 tivemos uma série de entrevistas, manifestações de orgulho e muita música boa! Sediada na cidade de Vitória-ES, a @fanfarra3.0 convidou duas importantes mulheres inseridas no contexto político do estado: Carla Coser (PT) e Camila Valadão (PSOL), ambas vereadoras numa conversa ao mesmo tempo séria e descontraída com a super show girl da Fanfarra, Samantha Brocks.

“O som é algo surreal que quando tocado e produzido de forma verdadeira, pode despertar sinestesia e te fazer sentir-se muito bem.” – Paolla B.

Logo após, tivemos uma super festa que contou com os DJ Cax (SP), Nath Leles (MG), Green Grass, Paolla B e este que vos escreve. Nas linhas abaixo, eu converso um pouco com cada um desses super artistas, contando um pouquinho de suas histórias e projeções de futuro. Confira!

CAX
Cax
Nos conte mais um pouco sobre você. Quem é a CAX?

Cax é o projeto de house idealizado por Caroline Cagnin. Sou fã de música eletrônica desde o primeiro contato com o renomado Skrillex. Eu demorei a descobrir o house, mas foi nele que me encontrei. Passei por todas as sub vertentes do house, mas o house clássico foi o que mais me encantou e sigo tocando essa linha.

Como tem se dado a experiência de ser DJ durante a pandemia?

A minha experiência DJ começou de fato durante a pandemia. Antes eu já curtia estudar e realizar minhas produções, mas me motivei a tocar durante o isolamento. Comprei uma controladora e comecei a estudar por conta própria.

O que importa mais, uma pista cheia ou uma pista conectada com a sua vibe?

Apesar de ainda não ter tido a experiência em uma festa presencial, eu creio que prefiro uma pista que esteja conectada com meu som. Faço música com amor e para ver as pessoas envolvidas e fritando com ela. Prefiro que tenha 5 pessoas na pista envolvidas de verdade do que a casa cheia e as pessoas distraídas conversando, como se nada estivesse acontecendo ali.

Como foi participar do rolê virtual da @bsurda? 

Foi muito louco! Acabei preparando as coisas de última hora e como foi oficialmente o primeiro rolê online, gerou bastante expectativa. Mas foi muito bom, fiquei bastante feliz com o apoio. Tinha muito mais gente online do que eu esperava e os meus amigos compareceram em peso. Foi gratificante!

Quais as suas expectativas para quando esse distanciamento social for apenas uma lembrança triste?

Festa, festa, festa e mais festa! (risos) Acho que é a expectativa de todos.

Você conseguiu trabalhar algo novo em você durante esse tempo de isolamento? Desenvolveu alguma nova habilidade, cuidou do espiritual, da mente, do corpo? Conte-nos um pouquinho.

Esse período de distanciamento social, apesar de difícil, foi muito importante. Amo sair, mas também não tenho problema de estar em casa. Mas nesse momento de distanciamento social consegui investir bastante em meu próprio desenvolvimento. Aprendi a tocar, cuidei melhor do corpo, da alimentação, me desafiei a fazer coisas novas, passei a cuidar melhor do meu próprio espaço. É sobre isso, conseguir aproveitar momentos difíceis ao meu próprio favor foi muito enriquecedor para mim.

Qual o recado que você manda pros leitores da revista Colors DJ Magazine?

Quem quiser apreciar o trabalho, pode me seguir nas redes sociais. estarei postando não somente DJ sets, mas também produções autorais. Podem me seguir no Instagram, Soundcloud e acompanhar as novidades que virão! Um grande abraço a todos!

Instagram

SoundCloud

Pessoal, Breno é meu amigo há anos e está começando a trilhar esse caminho de comandar os decks! Conte um pouco sobre você para o nosso público da Colors!

Primeiramente gostaria de agradecer a Colors DJ por esse convite!  

Me chamo Breno Patrocínio, produtor de eventos na cidade de Vitória-ES, estudante de gastronomia e agora também DJ, com o projeto Green Grass. Esse nome faz referência à canção London London que Caetano Veloso lançou quando estava exilado em Londres, falando de como ele via os campos verdes e tinha saudades de quando ele estava nas ruas de sua terra. 

O projeto nasceu durante o período de distanciamento social, e que também é o primeiro residente do nascimento da @fanfarra3.0. Inclusive teremos uma live de aniversário de 1 ano do Green Grass que já está sendo preparada.

Como tem se dado a experiência de ser DJ durante a pandemia?

Busco sempre estar conectado com as boas novidades do momento, mas busco explorar tendências e estilos que já fizeram o momento das pistas das décadas passadas. A pandemia tem sido um momento de grande oportunidade de destaque para desenvolver sua própria marca, e hoje com o advento das mídias sociais para se vender seu peixe sem a necessidade do jabá das mídias tradicionais.

Acredito também que o pós-pandemia dará um boom ainda maior, revelando um leque de novos DJ e produtores. Como ainda não apresentei o projeto Green Grass presencialmente, em virtude da situação que vivemos, vou aproveitar para veicular meus conteúdos através das minhas redes sociais.

O que importa mais, uma pista cheia ou conectada com a sua vibe?

Acredito que não tem nada melhor do que uma pista conectada no seu som com o público acompanhando o groove, o bass e toda a experiência que o DJ quer passar através do som.  É a sintonia que nós DJ buscamos  transmitir através da música eletrônica. Há várias formas de sentir a vibe independente de uma festa cheia ou não, o importante sempre é valorizar a sua audiência, antes de mais nada. 

Como foi participar do rolê virtual da @bsurda? 

Foi uma experiência incrível! @bsurda party deu um show representando com todos os rolês virtuais que foram realizados, desde as festas às oficinas e lives, com representações da nossa sociedade. Fiz um set totalmente especial com referências pop, disco, house, com uma pitada de techno, misturando o mundo do pop cantado com as batidas do mundo eletrônico. 

Quais as suas expectativas para quando esse distanciamento social for apenas uma lembrança triste?

Será uma explosão de coisas, vejo muita festividade para o nosso cenário! Não vejo a hora desse momento chegar de forma segura, sem colocar vidas em risco ou ajudar com a disseminação do vírus. Creio que o único jeito certo disso tudo acabar é quando a população estiver imunizada. 

Sabemos que você é residente e co-produtor da festa @fanfarra3.0. Conte-nos brevemente a proposta da sua festa. Identidade, sonoridade, público-alvo e como ela está inserida no contexto da sua cidade.

Fanfarra foi uma festa que iniciou-se no ano de 2012 e vem passando por mudanças e transformações. Ela encerrou as atividades em 2015 e entendemos que aquele ciclo havia acabado.

No ano de 2019 já estava sendo criado o projeto 3.0, que foi a combinação perfeita para a proposta deste novo ciclo da Fanfarra, na terceira década do século XXI. Vamos unir o mundo pop com o eletrônico, explorando mais vertentes como minimal, house, break, funky, disco, tech house, techno, entre outras sonoridades experimentais. Será totalmente voltada para o público alternativo e LGBTQIA+ da cidade de Vitória, buscando ser diferente, inclusiva e sempre alegre.  A Fanfarra 3.0  fará um verdadeiro rondevu na cidade de Vitória. 

Você conseguiu trabalhar algo novo em você durante esse tempo de isolamento? Desenvolveu alguma nova habilidade, cuidou do espiritual, da mente, do corpo? Conte-nos um pouquinho.

Durante este período de isolamento social, tivemos momentos de explosões, criatividade e de reflexões. Também foi o tempo certo para finalizar criteriosamente o projeto FUTURE F3.0, uma super produção que mostrará nossa nova coleção de roupas, já com toda a estética Fanfarra 3.0, feita pelo estilista Heberth Portilla de forma exclusiva para nós. Vale lembrar que Heberth é capixaba e já vestiu artistas como Ludmilla, Anitta, Pabllo Vittar, Pocah, Lexa, Iza, Gloria Groove, entre outras grandes artistas do nosso Brasilzão. Em breve toda a coleção FUTURE F3.0 será lançada em nossas redes sociais. Em paralelo, tenho estudado muito, fiz muitos cursos online e me joguei no aprendizado. Aprendi a separar tempo no dia para fazer exercícios em casa, que têm me dado bastante disposição, buscando sempre estar o mais saudável possível.

Qual o recado que você manda para os leitores da revista Colors DJ?

Bom galera, falta pouco para podermos estar juntos. Enquanto isso vamos manter todas as medidas necessárias para que isso tudo passe, respeitando o distanciamento social, fazendo uso de todas as profilaxias de higienização e saindo de casa somente se for necessário, mesmo quem já foi vacinado! Em breve poderemos estar todos juntos na pista, nos abraçando sem risco algum.

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Paolla, seja bem vinda! Conte para o nosso público da Colors um pouquinho sobre sua trajetória: o que te agrada sobre música, como se apaixonou pela música eletrônica? 

Escuto música eletrônica desde os meus 5 anos de idade, porque minha mãe me colocava para desfilar, eu participei de agências de modelo e as músicas que tocavam na passarela eram os electro dos anos 2000. Eu cresci escutando música eletrônica, então eu sempre fui apaixonada. Nas viagens de carro que eu fazia com a minha família, eu que escolhia as músicas e meus pais adoravam. 

O que mais me agrada na música é o poder que ela tem de cura, limpeza, de despertar emoções, lembranças e de conectar as pessoas, além disso… o som é algo surreal que quando tocado e produzido de forma verdadeira, pode despertar sinestesia e te fazer sentir-se muito bem.  

Como tem se dado a experiência de ser DJ durante a pandemia? 

Muito difícil, mas sempre aprendendo com os desafios que estamos passando. Na pandemia eu pude tocar em festas online, que foi uma nova experiência e além disso comecei os estudos na produção musical. Mesmo assim, é complicado ficar longe do que eu mais amo fazer, que é tocar. Sinto falta de poder sentir a música enquanto toco e sinto muita falta de me conectar com o público. 

O que importa mais, uma pista cheia ou conectada com a sua vibe? 

Uma pista conectada com a minha vibe, com toda certeza.

Mas melhor do que isso, uma pista cheia que se conecta com a minha vibe. 

Como foi participar do rolê virtual da @bsurda?  

Foi muito legal, porque consegui me conectar com pessoas de fora do meu estado, e sempre é uma experiência ótima poder levar o meu som para outros públicos, além do capixaba. 

Quais as suas expectativas para quando esse distanciamento social for apenas uma lembrança triste? 

Espero de verdade poder voltar a tocar bastante, fora do ES e fora do país. Quero muito poder voltar a produzir a minha festa (Fluido), quero muito poder viajar e levar o meu som para outros lugares, conhecer pessoas e novos lugares, lançar minhas músicas e poder compartilhar com o mundo. 

Eu acompanho seu trabalho desde a festa Sedna, e sua evolução como artista é grandiosa! Foi sua primeira festa? Se não, nos conte como começou e o que mudou de lá pra cá na sua opinião. 

Que feliz de ler isso! <3 Obrigada por me acompanhar e por perceber a evolução. A minha primeira festa foi a Lightless na Move, que era uma label do RJ e logo depois foi a Sedna. A Sedna foi uma grande oportunidade para eu poder me aprofundar na música, na mixagem e começar a entender o público de uma festa eletrônica. Muita coisa mudou dentro de mim desde lá. Comecei a estudar música, escutar muitos artistas, assistir muitos vídeos de eventos, fui em vários festivais de música eletrônica no Brasil, fora do país, busquei escutar músicas que eu me identificava, sempre procurei músicas mais ricas em detalhes e elementos. Me considero uma artista muito versátil e que busca a todo tempo evoluir musicalmente. 

Sabemos que você tem uma larga experiência e se apresentou em muitas gigs de respeito, sempre com muita qualidade musical e grande carisma com a pista. Tem alguma festa que foi marcante pra você? Gostaria de nos contar a respeito? 

Eu tive a oportunidade de compartilhar o palco com muitos artistas renomados na cena brasileira e mundial. Tenho alguns eventos marcantes na minha carreira, um deles foi poder tocar no Universo Paralello, que foi algo grandioso tanto como artista e tanto como pessoa. Outros eventos que me marcaram foi poder tocar na Inglaterra, em várias festas do Warung e poder ter compartilhado o palco com o Claptone.  

Você conseguiu trabalhar algo novo em você durante esse tempo de isolamento? Desenvolveu alguma nova habilidade, cuidou do espiritual, da mente, do corpo? Conte-nos um pouquinho. 

Isso foi o que mais busquei na pandemia. Voltei a pintar, que sempre foi algo que eu gosto, mas que com a correria dos dias acabava não praticando muito. Li alguns livros que se conectam com a espiritualidade, assisti muitos documentários sobre outras espécies de vida fora da Terra, que é algo que eu me identifico muito, passei um tempo na minha casa de praia, me conectando com a natureza. Participei de aulas de dança intuitiva que me ajudaram a curar feridas internas e estudei sobre as frequências sonoras. 

Qual o recado que você manda pros leitores da revista Colors DJ Magazine? 

Espero que vocês tenham gostado de ler um pouquinho sobre mim e que em breve possamos nos encontrar nas pistas. <3 

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Nath Leles
Foto Divulgação

Nos conte mais um pouco sobre você. Quem é a Nath, o que te agrada sobre música em geral e como se apaixonou pela música eletrônica?

Sou uma pessoa de muitas pessoas. Faço amizade com facilidade e observo os detalhes ao meu redor. Isso sempre me deu espaço para conviver em grupos de diversas tribos desde a minha infância até hoje.

E eu consegui trazer essa diversidade musical, como uma DJ Open Format.

A música pra mim é a maneira na qual me encontro em minha essência mais pura como pessoa. Música é expressão, é sentimento, é alma, é onde meus pensamentos e tormentos fluem e se encaixam! 

A música eletrônica “apareceu” pra mim de uma forma intuitiva. Desde os 8 anos quando ganhei meu primeiro tecladinho infantil eu já fazia música. Fiz aula de piano ainda adolescente e ganhei um teclado para treinar em casa. Daí pra frente eu já fazia e estudava música eletrônica e suas vertentes.

Hoje, produzindo minhas primeiras tracks, me sinto a mesma Nath criança, maravilhada com as batidas e melodias amadoras criadas por uma criança, mas com a maturidade e com sentimento de pertencimento!

Como tem se dado a experiência de ser DJ durante a pandemia?

No período longe das pistas presenciais, as festas virtuais me deram outra percepção sobre a música e sobre como ela tem seu peso na vida das pessoas, em suas casas e cotidianos. 

Aprofundei meus estudos e pude abranger os horizontes, conhecendo novos coletivos, artistas, públicos e com isso ampliei meus contatos e tem sido muito foda!

Ter força e dedicação em meio ao caos é transformador e uma forma de não pirar pela falta de socialização presencial!

O que importa mais, uma pista cheia ou uma pista conectada com a sua vibe?

Pra mim, não existe a pista sem conexão! 

Se eu fizer uma pessoa embarcar na mesma vibe da minha proposta com uma track, meu papel ali tá sendo executado!

Como foi participar do rolê virtual da @bsurda? 

Ser hoje uma DJ residente da festa @bsurda, é pra mim um avanço em minha carreira de enorme valor e peso. Representar toda uma história de acolhimento, identidade, diversidade e união é o que todo musicista busca! E tem sido uma experiência incrível participar das festas online e poder trabalhar essa diversidade nos meus sets, além de levar a pista pra casa de cada pessoa que se permitiu vivenciar esse formato de festa!

Quais as suas expectativas para quando esse distanciamento social for apenas uma lembrança triste?

A minha expectativa para o nosso retorno é que a valorização dos artistas, equipes, produções e demais bastidores, seja realmente avaliada. 

O entretenimento para o ser humano é essencial e faz parte da alegria que buscamos para aliviar nossas frustrações, interação e sociabilidade.

Conte-nos um pouco da sua experiência com os decks! Alguma gig marcante, alguma experiência inusitada… Enfim, algo que será lembrado por toda a sua carreira.

Eu não consigo destacar uma gig tão marcante, pois todas são e têm particularidades. Sou muito ligada nos detalhes e creio que cada momento nos decks, cada gig tem seus pontos marcantes, assim como seus altos e baixos. Vai ver ainda está por vir! 

Você conseguiu trabalhar algo novo em você durante esse tempo de isolamento? Desenvolveu alguma nova habilidade, cuidou do espiritual, da mente, do corpo? Conte-nos um pouquinho.

Eu sou uma pessoa muito agitada e intensa. Acredito que vivi umas 3 vidas durante o isolamento! 

De reformar todo meu apartamento junto com minha esposa, ingressar em mais uma especialização musical, produzir minhas tracks, além de dedicar mais tempo à minha saúde e mente! 

Qual o recado que você manda pros leitores da revista Colors DJ Magazine?

Estejam abertos à diversidade musical. Valorem a música brasileira e todas as suas vertentes! Te encontro na pista! <3

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Tudo sobre Nath Leles  

Masterização do set: IMW Mastering.

Samantha Brocks
Foto Divulgação

Capixaba, 27 anos, ator, produtor e articulador cultural, DJ, conselheiro de cultura de Vitória-ES, coordenador da Frente Capixaba de Artistas e Produtores culturais (FCAPCULT), fundador do maior bloco de carnaval do Espírito Santo (Puta Bloco), Felipe começou sua paixão com a arte da discotecagem e a música, de uma maneira nem um pouco profissional: brincava em casa com o virtual DJ no computador.

“Lembro de um aniversário de 15 anos de uma amiga quando eu me responsabilizei por tocar, e saí de casa cedo carregando caixa de som, gabinete e aquelas telas de computador de tubo gigantes para a festa. Também nessa época já produzia algumas pequenas festas e realizava excursões para as ‘Paradas LGBTQIA+‘, mas tudo isso de uma forma bem informal como um garoto de 15 anos. Não imaginava que um dia iria trabalhar com isso”, conta.

O talentoso Felipe passou a considerar toda essa diversão como trabalho apenas depois de dar voz ao seu potente alter-ego feminino Samantha Brocks, e ele nos conta um pouco desse início abaixo:

“Eu morava próximo a ‘boate da Chica-Chiclete’ (a maior drag do ES e um dos ícones nacionais), e foi lá que conheci a cena drag, porém ainda apenas como público.

Passado o tempo a boate fechou, e com isso a cena drag capixaba meio que havia adormecido – as outras casas não contratavam drags para sua programação e os frequentadores também não tinham interesse pelo mundo drag.

Tudo mudou com o surgimento do Reality Show americano Rupaul’s Drag Race. Nessa época eu e alguns amigos já falávamos sempre de sair montados para uma festa, mas isso nunca acontecia.

Até que um dia uma casa de Vitória liberou uma festa chamada Destruidora, cuja descrição do evento online incentivava usar e abusar dos looks: plumas, paetês, saltos…

Chamei meus amigos e em uma semana todos já havíamos providenciado nossos looks.

A make ficou por conta de um dos meus amigos que era profissional.”

Primeira montagem de Samantha - Foto: Acervo pessoal.

“Chegando na porta da boate com todos meus amigos não pudemos entrar porque a casa estava lotada. Alguns amigos voltaram para casa ou foram beber em outro lugar, mas eu revoltado falei: eu não corri atrás disso a semana inteira e passei horas me arrumando para não entrar! Fiquei na porta da boate esperando que alguém saísse para que eu conseguisse poder entrar.

Até que o Rike (dono da produtora) passou por mim e perguntou porque eu estava lá fora. Disse que a casa estava lotada. Nisso ele me puxou pelo braço e disse: vem! Você vai entrar como minha convidada, as pessoas precisam ver você!

Desse dia em diante a Samantha começou a tomar conta de quase toda a vida do Felipe.”

E de onde veio esse nome maravilhoso? Você mesmo que se batizou?

“Logo que me montei, meu nome era “Suellen Brocks”. Uma vez na boate da Chica, ao subir no palco em uma das interações com o público, ela rogou a praga: disse que se eu quisesse me montar, ela costurava uma roupa pra mim e me emprestava uma peruca, e que meu nome seria Suellen. Só que um dia indo para boate de táxi (já como DJ atração da noite), o taxista me pergunta qual meu nome. Eu olhando para ele perguntei qual nome ele achava que era o meu? Ele me disse: SAMANTHA!

Eu amei tanto que já cheguei na boate respondendo que meu nome era Samantha Brocks, e quando cheguei em casa corri para criar as minhas redes sociais com o nome de Samantha. Desde então, tudo que para o Felipe era brincadeira foi virando profissão. Comecei a trabalhar cada vez mais como Drag DJ. Adotei várias gays que queriam se montar mas não tinham onde. Levei para minha casa umas 15. Era ótimo!

Com o tempo, a Samantha começou a explorar outros caminhos: fundei um bloco de carnaval LGBTQIA+, que se tornou hoje o maior bloco do carnaval de Vitória. Comecei a entender a Samantha como um personagem além do entretenimento, mas como um corpo também político, de um ator negro, periférico, gay, afeminado e usar bastante dela para dar voz às causas que acredito. 

Puxei e organizei manifestações de liberdade de gênero, encarnei Samantha nas redes sociais durante a última eleição presidencial para tentar informar as pessoas sobre o risco que se apresentava a opção Bolsonaro. Inclusive puxei todos os atos contra ele que aconteceram em Vitória durante as eleições.”

Samantha, com todo seu glamour, também demonstrou seu posicionamento entrevistando as vereadoras capixabas Carla Coser (PT) e Camila Valadão (PSOL) no evento virtual, e conta abaixo como foi a experiência.

Camila e Karla são as poucas vozes políticas que temos dentro da câmara de vereadores de Vitória atualmente, e apesar de todos os ataques que elas vêm sofrendo dentro da casa estão fazendo um ótimo trabalho. Bater esse papo com as duas acima de tudo me trouxe esperança e força para seguir firme na luta, por ver nelas essa representação de força e luta.

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Bem, galera… essa série de entrevistas conta um pouquinho de pessoas que estão envolvidas não só com a arte e a música, mas valorizam a causa do amor e respeito. Eu não tenho como entrevistar a mim mesmo, mas falo um pouquinho a meu respeito:

Trabalho com governança de TI e estudo ciência da computação, sou músico (um pouco enferrujado por falta de tempo). Sou DJ há 9 anos, tenho feito apresentações majoritariamente na cena psytrance e no nicho mais underground – o dark psytrance e suas variações. 

Estou feliz de ter recebido o convite para a Colors e agora, sendo este meu 3º texto, posso falar de orgulho! Sim, finalmente escolhi deixar de lado o medo e a incerteza e cravar minha letra B – de bissexual aqui pra vocês, publicamente. Só eu sei quanto foi difícil alcançar essa clareza tendo sido uma pessoa de orientação religiosa evangélica durante a adolescência. Mas é uma puta vitória conseguir encarar os fatos e ver que não posso ser um inimigo de mim mesmo. Estou nesse processo e apesar de achar algo bem pessoal, resolvi escrever para que outras pessoas que também como eu sofreram ou sofrem por anos com a auto-homofobia, (ou auto-bifobia, se é que podemos chamar assim), tenham também a chance de se libertar. Não me considero um exemplo, mas um amigo e uma voz prometo ser. E se o caminho é longo, melhor que seja percorrido de forma leve, não é, amores? 

Beijos no coração de todos e até nosso próximo encontro.

Em memória de Rike Sick, que em vida batalhou pela liberdade de tantos que hoje podem falar desse orgulho aqui em Vitória-ES.

Masterização do set: IMW Mastering.

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