A DJ Flavia Xexeo é reconhecida Brasil afora como um grande nome dentro do Hip Hop por causa da sua qualidade técnica, das mixagens impecáveis e dos sets diferenciados.
“Não adianta dizer que existem as panelas se antes disso você não fizer o dever de casa.” Flavia Xexeo
Ela tem dezessete anos de carreira e hoje ajuda a formar novos DJs e produtores na academia de DJs Eletrobase, no Rio de Janeiro.
Confira agora a entrevista completa com essa grande profissional:
Conta pra gente um pouco mais sobre você e a sua vida, como foi seu primeiro contato com a música e a importância dele na sua vida?
Contato com a música vem desde dentro da barriga da minha mãe hehehe, ela é musicista e multi instrumentista – sempre cantou e colocou músicas pra gente ouvir. Na adolescência, com as influências das amizades e do meu primo, que era amigo de infância do DJ Pachu, fui tendo mais contato com Miami Bass e o Hip Ho.
Em 1998 meu irmão foi morar em Los Angeles e sempre me enviava CDs dos Rappers de lá. Naquela época não havia essa tecnologia onde você consegue tudo em segundos… era tudo muito orgânico – as pesquisas, o conhecimento, o acesso.. outra parada – aí eu comecei a ter meus acervos com esses CDs.
Nos anos 2000 nosso bonde era muito do hip hop, lembro tanto dos amigos sempre colocando os CDs nos carros, apresentando as novidades, e a galera das festas, sempre fez parte do meu ciclo de amizades… DJ Lulinha e DJ Dadu foram os DJs da festa de 15 anos da minha irmã… eu sempre estive no metiê.
Você sempre sonhou em seguir uma carreira que estivesse de alguma forma ligada à música?
Não imaginava que seguiria na música… a pressão que você tem aos 17 anos escolher a carreira da sua vida – eu não sabia ao certo o que queria, fiquei na dúvida entre Educação Física e Veterinária – escolhi Educação Física – me formei no final de 2007.
No início de qualquer carreira sempre enfrentamos desafios e dificuldades. Quais a maiores barreiras que teve que enfrentar quando começou a tocar?
Olha, sempre que me fazem essa pergunta, percebo o quanto fui e sou privilegiada – não tive nenhuma dificuldade no universo dos DJs.
Eu fazia faculdade, trabalhava com meu pai no Xexeu (Inaugurou em 1999) e aos finais de semana eu tocava.
Minha mãe pode me adiantar os equipamentos necessários para que pudesse treinar – paguei a ela com o retorno nas gigs.
Meus amigos produziam as festas e, após começar a ser reconhecida pelo meu trabalho, era sempre muito requisitada por ser praticamente a unica mulher DJ de Hip Hop nas festas da Zona Sul – eu acabava que era o diferencial no line up que só tinha homem.
Hoje você é uma profissional reconhecida e muito respeitada dentro da sua área. Como foi pra você se profissionalizar como DJ?
Enquanto fazia faculdade e trabalhava com meu pai entre 2003 e 2007 – eu levava mais como um complemento na minha vida, encarava como trabalho e não hobby, mas não tinha noção do que estava acontecendo, do que aquele sucesso que estava acontecendo podia me levar. Eu terminei a facul e passei 1 ano em Los Angeles com meu irmão. Quando retornei, em 2009, que foi o divisor de águas da minha carreira – escolhi não exercer a Educação Física e me dedicar 100% a vida de DJ – ai foi meu boom!!
Investir nos equipamentos, aprendi a tocar de Vinil, tive aulas com outros DJs, chamei uma amiga pra ser minha manager, fiz meu primeiro ensaio fotográfico profissional…
Entendi que havia uma popstar ali.
“Um bom DJ é aquele que toca o que você quer ouvir, um ótimo DJ é aquele que toca o que você não imaginava que iria querer ouvir” Flavia Xexeo
Você já teve a oportunidade de rodar grande parte do Brasil e do mundo com a suas apresentações. Como é pra você levar o seu som para esses lugares diferentes? E como é a recepção do público?
É sempre desafiador, o frio na barriga nunca deixou de se apresentar, mas quando você estuda, treina, faz o dever de casa, não tem erro. Os anos de estrada são muito importante pra você adquirir o famoso “feeling de pista”; isso você não aprende em cursos, mas sim na escola da vida, nos erros e acertos, praticando e criando.
Eu sempre me destaquei por ter esse feeling apurado e saber resolver o que tiver que ser resolvido. Faço o público sentir isso, sempre pensando naquela frase: “Um bom DJ é aquele que toca o que você quer ouvir, um ótimo DJ é aquele que toca o que você não imaginava que iria querer ouvir. – Essa sou eu hahaha…
Como é pra você, mulher, trabalhar num nicho onde esse espaço que você ocupa é majoritariamente ocupado por DJs/produtores/professores homens?
Eu nunca tive problemas com isso… muito pelo contrário.
O que você pode aconselhar para as DJs mulheres iniciantes que estão apenas começando o seu caminho na profissão?
Investir em algum equipamento para que possa criar seu diferencial com seus sets, se possível também em algum curso, fazer muitas pesquisas musicais e de outros artistas. O conselho é de vida: para qualquer área, nunca devemos parar de estudar, estar sempre antenado e saber se relacionar, trabalhar sua rede de contatos, juntar esses pontos chaves e se dedicar, diariamente, algumas horinhas. E se perguntar sempre: “você está produzindo ou se ocupando?”
Não adianta dizer que existem as panelas, se antes disso você não fizer o dever de casa.
“…uma tentativa, por mais difícil que seja, de levar mais profissionalismo para o mercado. Mercado esse que é encarado pela sociedade como lazer e amadorismo.” Flavia Xexeo
Quando surgiu a vontade de dar aulas e passar todo esse seu conhecimento adiante? Qual a sensação de ver um aluno ou ex aluno da Eletrobase tocando em algum evento que está, ou até dividindo com ele o line up de algum evento?
Começar a dar aula foi e é algo que sempre esteve dentro de mim, mas pensava mais em dar aulas em projetos sociais, sempre quis poder contribuir com essa minha arte para crianças, mas até hoje não foi possível realizar esse sonho. Em 2014, meu marido, DJ Saci, iniciou o projeto Eletrobase Academia de DJs com o DJ Lulinha e eu acabei entrando nessa história. Formamos mais de 400 alunos e muitos estão aí nas pistas e tantos outros fizeram por hobby ou por curiosidade.
É uma honra poder ser chamada de Mestra e também contribuir com a cena – uma tentativa, por mais difícil que seja, de levar mais profissionalismo para o mercado.
Mercado esse que é encarado pela sociedade como lazer e amadorismo.
Como você faz para conciliar todas essas profissões? Você precisa priorizar uma ou a outra? E como você faz para que conseguir tanto sucesso em todas elas?
Como disse antes, meu início como DJ foi em outra época, na qual não existia redes sociais no nível que é hoje (esse julgamento desenfreado e viral), que você precisa gerar mais conteúdo, fazer network, posar, ser influencer, comprar Ivy Park e Adidas, se não você não tá no hype nem no game… o DJ que quiser trabalhar no mainstream TEM QUE TER uma série de coisas… e as menos importantes são o profissionalismo e a técnica. Isso é cruel!
Meu boom foi antes dessa loucura, mas continuo no jogo. Procuro me manter atualizada, faço o game necessário, trabalho em projetos paralelos e vivo mais focada no agora, no que tenho que prestar atenção HOJE. Sem essa busca maluca por propósito. Prestar atenção no que você faz hoje te levará pro caminho.
Por causa da pandemia, eventos e vários outros projetos foram cancelados ou adiados. Como está sendo pra você lidar com isso tudo? E o que podemos esperar de novidades para o pós pandemia?
Sem eventos e nossa principal fonte de renda, eu e Saci lançamos o @daXexeo, que são quitutes congelados e saudáveis – tenho esse meu lado gastronômico bem forte, desde 2015 venho mudando minha alimentação – fiz um curso de funcional chef e vários workshops, essa é uma novidade bastante inusitada para uma DJ. hehe… Por hora estou bastante focada em fazer o “DaXexeo” chegar a casa de todos aqueles que querem ter prazer com sabor e saúde.
Em paralelo, sigo fazendo lives para marcas e projetos na Twitch.TV. Estou na Rádio Mix, às quintas, na Festa Mix, eventos particulares, mas nada clandestino rsrs.
E assim finalizamos este papo delicioso com essa DJ, que vai das pick ups aos quitutes, sempre deixando sua marca registrada.
Aftermovie