Dharma Lords é um projeto formado pelos DJs Fábio Callai e Jason Vieira, de Brasília. Os Lords se especializaram em técnicas avançadas de mixagem pela Technicals DJ Academy e se formaram pela pela CAL tendo como mentores os DJs Anne Louise e André Baeta.
O Dharma Lords nasceu em Brasília, onde foi convidado a assumir a residência de uma das mais respeitadas festas locais, a “Supervibe“, e se apresenta em grandes selos como a Brave. Os Lords já se apresentaram também na Victoria Haus e na Lahscívia – Brasília, Verdant – Curitiba, Pool das Manas – Belo Horizonte.
Com a proposta de fazer um som tribal/progressivo limpo, variando entre 128 e 132Bpm com vocais marcantes e baselines fortes, eles buscam inspirações em diferentes partes do mundo… Vamos descobrir mais sobre esses novos talentos?
Vocês são casados e parceiros nas cabines, para quem ainda não conhece vocês, como surgiu a ideia de fazer um DUO? Já eram DJs antes de ser um casal ou foi o contrário?
Callai: Foi o contrário, o Dharma Lords veio depois.
Eu já fui DJ há algum tempo atrás, de pop. Estava “aposentado” (rs), mas o Jason me contratou para algumas edições de um selo de pop que ele produzia pelo país. A ideia de nos tornarmos DJs de Tribal veio daí, foi então que resolvemos estudar e na nossa formatura a Anne Louise sugeriu que tocássemos juntos, ela achou que nosso som se complementava.
Nós dois tínhamos gostos distintos um do outro, mas bem diferente do resto da turma e no fim das contas deu certo, a combinação fez com que fôssemos notados pela nossa primeira contratante.
Jason: Eu estava trabalhando como produtor, mas não pensava em ser DJ, a ideia de contratar o Callai foi, num primeiro momento, resgatar a carreira dele no Pop e ter um elo para viajarmos juntos, Fizemos Manaus e Curitiba e decidimos estudar tribal juntos, então já saímos do Curso com o embrião do DUO
Como é conciliar a vida profissional e a vida pessoal? Falem sobre como é conviver juntos, como trabalham no projeto, existem divergências criativas? Como lidam com o assédio?
Callai: No começo era mais difícil, um sempre estava de olho no que o outro estava fazendo, um com o lado artístico mais aflorado, preocupado com aspectos que o outro deixava de lado e por aí vai… somos pessoas muito diferentes, mas aprendemos e nos adaptamos um ao outro o tempo todo, ainda rolam alguns atritos, mas estamos sempre em busca de um equilíbrio.
Para ajudar, estabelecemos algumas regras, por exemplo, cada um faz sua pesquisa, mas para uma música entrar para o repertório, precisa ser aprovada pelos dois.
Divergências criativas ocorrem o tempo todo, isso é normal e até certo ponto saudável, é justamente isso que contribui para o que somos, um puxa a orelha do outro o tempo todo, quando acredita que o caminho que o outro está tomando não vai funcionar, às vezes um quer um figurino mais conceitual e o outro quer ficar mais à vontade; um quer uma “percussão” no meio do set e o outro quer um progressivo “viajante” e por aí vai.
Para que o projeto funcione, devemos trabalhar como iguais, ninguém é “chefe” de ninguém, as coisas são construídas em conjunto, ou um apresenta a ideia e os dois decidem juntos o caminho que aquilo vai tomar – com muita argumentação e convencimento, é claro (rs).
Jason: Eu me formei em Arte Cênicas e penso no trabalho conceitual do DJ, tudo começa pelo som, mas quais as sensações que queremos causar? Qual energia queremos imprimir no palco? Como criar uma linha contínua de ações ao longo da carreira? E o Callai é muito focado na parte técnica, então aprendemos um com o outro e criamos uma sinergia que acaba causando uma conexão muito gostosa com o público.
Callai: Já em relação ao assédio, não tem briga, nós adoramos o carinho do público, somos super acessíveis e não deixaremos de ser, adoramos conversar com as pessoas, até para ter um termômetro da festa. Desde o começo, descobrimos que seríamos assediados, as pessoas tem atração por palco, parece que mais ainda quando tem dois lá em cima e quando descobrem que somos fechados, aí é que ficam mais alvoroçadas mesmo (rs). Eu lido melhor com isso que o Jason, ele às vezes fica muito sério quando o assédio é exacerbado. Já eu levo na brincadeira sempre e com bom humor. No fim das contas ninguém fica sem graça e a pessoa acaba se tornando nossa amiga. O fundamental é não brigarmos por isso, principalmente porque às vezes um é mais assediado que o outro.
“Assim como em uma religião, a ideia é unir as pessoas, em uma mesma “vibe”, no nosso caso, através da música.” – Dharma Lords
Como vocês explicam, o conceito de Dharma vem das religiões asiáticas. De onde surgiu a ideia de trabalharem com um som mais melódico?
Em algumas das religiões asiáticas existe o conceito de reencarnação, onde em cada uma delas, o indivíduo responde pelo que fez no passado, o conceito mais conhecido é o Carma, onde você paga pelos seus pecados. Dharma é o extremo oposto do Carma, é a plenitude do ser.
Assim como em uma religião, a ideia é unir as pessoas, em uma mesma “vibe”, no nosso caso, através da música. A ideia não é misturar religião e música – não nos aprofundamos no budismo e hinduísmo, algumas das religiões que explicam o carma e o dharma – a ideia é apenas trazer o conceito de plenitude. As pessoas estão nas festas para descontrair e se divertirem, deixarem os problemas de lado e por aí vai… e o objetivo do Dharma Lords é: com boas vibrações, trazer boas energias às pessoas.
O Som é energia, é capaz de trazer lembranças, liberar hormônios e fazer com que as pessoas queiram se movimentar, nem que seja um dedinho… dependendo do tipo de som, o comportamento das pessoas pode mudar. Já que a ideia é trazer plenitude, apostamos que o som melódico faça com que nossos cérebros liberem hormônios como Serotonina, Dopamina e Endorfina… hormônios ligados ao prazer e bem estar, além de ser nosso gosto pessoal.
Gostamos muito de usar músicas que despertam a memória sensorial das pessoas, uma grande inspiração é a Madonna, uma expert em trazer isso aos palcos sempre provocativa e desde a década de 80 trabalhando os sincretismos da igreja católica em suas obras. Suas composições não faltam em nossos sets.
Acreditamos que o som melódico nos possibilita transitar por uma maior extensão de energias e criar um desenho sonoro ao longo de cada apresentação.
“Entendemos que há espaço para todo mundo, cabem aos produtores decidirem que identidade sonora querem em suas festas e ao público frequentar os eventos com os quais mais se identifica” – Dharma Lords
A sonoridade de vocês vai na contramão do cenário atual, com o tribal brasileiro atual seguindo uma linha mais percussiva (o chamado bate panela) fazendo tanto sucesso, como vocês enxergam a proposta musical de vocês? Já passaram por alguma dificuldade por fazerem um som mais melódico?
Entendemos que há espaço para todo mundo, cabe aos produtores decidirem que identidade sonora querem em suas festas e ao público frequentar os eventos com os quais mais se identifica. No Brasil, temos o Funk e o Samba, o que justifica essa influência percussiva no nosso Tribal, o brasileiro, por natureza é mais agitado e alegre, mas também há quem prefira cantar junto, ficar abraçado…
Entendemos ainda que uma festa é como uma história, deve ter começo meio e fim, ou seja, devem ter seus momentos, o warm up, o auge e o after se fazem necessários, as pessoas precisam chegar, conversar, comprar bebida, curtirem a festa, depois esfriarem para ir embora.
Não acreditamos que estamos nadando contra a correnteza, mas que, com o som que fazemos, estamos oferecendo mais uma opção ao público e aos produtores. Se todos os DJs estivessem de acordo com a tendência, as festas ficarão monótonas e iguais.
Encontrar uma personalidade e mantê-la não é uma tarefa nada fácil, se tentar agradar todo mundo, não vai funcionar.
O embrião do projeto Dharma Lords foi descobrir um certo grau de originalidade, trazemos produções que possuem muitos sintetizadores, mas priorizamos ritmos dançantes, um pouquinho mais acelerados e alegres que é a pegada do Brasil, este tempero torna a nossa proposta algo diferente do que se tem escutado na cena atual e temos bastante orgulho disso.
Com essa receita, aos poucos temos conquistado nosso público, as pessoas vão nos descobrindo e ficando interessadas em qual próxima festa vamos tocar.
Fazemos som para a noite e ficamos apreensivos quando nos escolhem para o after, mas quase sempre funciona, as pessoas param, olham sem entender, mas começam a se soltar, no fim estão curtindo, dançando e cantando junto com as músicas. Entendemos que existe alguma razão para definirem nossa apresentação neste horário, não devemos ser inflexíveis ou teimosos ao ponto de querer fazer o mesmo som o tempo todo, mas também devemos perseverar e sermos coerentes com a nossa identidade. Além disso, às vezes, é difícil manter a sinergia entre o DJ que vem antes e o que vem depois.
Por pura curiosidade, se pudessem citar alguns nomes nacionais e internacionais que sempre estão presentes em seus sets, quem seriam?
Gostamos de variar, incluir no mínimo uma voz nacional em cada apresentação, Ivete, Claudinha , Lorena Simpson, Nikki Valentine já marcaram presença, mas de fato Madonna é certamente o nome mais carimbado – foi uma das primeiras a enxergar colorido, sempre inovadora e provocativa. Gaga, Cheer e Whitney, Sia, Dua Lipa, também sempre se fazem presentes, além delas Deborah Cox, Nalaya, Beth Sacks, as divas do House tribal, não podem faltar, porém tentamos evitar hits da “modinha”, uma forma de trazer variedade e atingir alguns outros públicos, não só os mais jovens.
Dentre os produtores, somos apaixonados pelo Offer, mas não é sempre que encaixa, diferente do Maycon Reis – somos fãs desse menino – Mor Avrahami, Micky Friedman, Dani Toro, Leanh, Roger Grey, Adrian Dalera, Alan Capetillo, Enzo Dias, João Lemoz, Oscar Velazquez, Filipe Guerra, Allan Natal, Ponzo, Enrico Meloni dentre vários outros..
Em suas apresentações, vocês incorporam o uso da bateria eletrônica ao vivo, enriquecendo mais a musicalidade do set e proporcionando uma performance diferenciada para o público. Vocês acham que a tendência é que os DJs transformem suas apresentações em verdadeiros shows?
Sim, Os DJs saíram do cantinho da boate e hoje em dia precisam se reinventar o tempo todo e acreditamos que o palco é um lugar do extra cotidiano, o público quer ver algo acontecendo, o show já acontece quando a casa contrata dancers, um videomaker para montar uma apresentação no telão, o DJ precisa entender que é o protagonista daquele momento e se incluir neste lugar.
Com a popularização da música eletrônica de forma geral, e grande parte devido aos espetáculos da EDM, as apresentações se tornaram SHOWs. no Tribal não é diferente, as pessoas vão pelas apresentações dos DJs, o brasileiro é caloroso quer interação com o DJ, quer coisas diferentes, quer um live vocal, um instrumentista… o DJ tem que ter um diferencial.
E o que podemos esperar para os próximos passos do DHARMA LORDS?
O The Cure foi o primeiro de 3 SETs. Foi especialmente feito para trazer memórias sensoriais, cada música deste set, pode trazer uma memória ou sentimento diferente ou refletir uma mudança de comportamento que estamos passando durante a pandemia. Esperamos trazer isso também nos outros dois desta trilogia. No terceiro, pretendemos que seja também videoset.
Além disso, estamos estudando produção, pretendemos fazer nossas próprias original mixes, vai demorar um tempinho, mas ideias não faltam. Não podemos encontrar um artista de rua que já dá aquela vontade de se incorporar às apresentações, uma amiga que toca castanhola, uma sobrinha pianista e por aí vai…
Reportagem de Icaro Ian e Monique Pinto