O duo Tegron é formado por Jorge Domingos e Natan Amboni, ambos de Blumenau, Santa Catarina. A dupla é uma das grandes revelações do techno dos últimos tempos. Desenvolvendo um trabalho de altíssima qualidade através do coletivo Phobia, que abrange a marca de roupas, a festa e um podcast.
"Os nossos primeiros contatos juntos com a música ocorreram em festas/festivais de Screamo, Metal Core, Hard Core e afins que aconteciam na época dos anos 2005 a 2008. Frequentamos esses eventos tanto por nosso gosto musical, quanto por serem os únicos espaços “livres de preconceito” na época”
- Tegron.
Eles toparam conversar com a Colors DJ e falaram sobre todos os projetos que compõem suas carreiras que, apesar do pouco tempo, vem chamando muita atenção em meio a cena underground. Confira agora esse bate-papo que o duo Tegron teve conosco:
Vocês se conhecem há bastante tempo, como foi o primeiro contato de vocês com a música? E foi através da música que se conheceram ou não?
Nosso primeiro contato aconteceu pela rede social MySpace, muito utilizada na época para compartilhamento de gostos musicais, então, podemos dizer que sim: nos conhecemos através da música, mesmo que indiretamente.
Os nossos primeiros contatos juntos com a música ocorreram em festas/festivais de Screamo, Metal Core, Hard Core e afins que aconteciam na época dos anos 2005 a 2008. Frequentamos esses eventos tanto por nosso gosto musical, quanto por serem os únicos espaços “livres de preconceito” na época.
Nos sentíamos muito livres e pertencentes aquela cena nessa época, pois fora desse ambiente, toda a esfera social que nos rodeava era extremamente nociva e contrária aos nossos pensamentos, valores e forma de viver.
Toda essa cena criada por essa onda que aconteceu aqui no Brasil nessa época, junto com o movimento Emo/Gótico era algo com o qual nos identificávamos muito. Sentimos que nossa veia artística/cultural e comportamental começou a tomar forma nesse momento.
Éramos parte íntegra daquilo e queríamos viver isso cada vez mais intensamente.
“Observar como toda a cena em si se movimenta, tendo um olhar que valoriza as novas gerações está em nosso mais alto pilar de importância” – Tegron.
É impressionante a qualidade artística que vocês apresentam em todas as frentes que envolvem o núcleo Phobia, como é todo o processo de criação desses pilares?
O núcleo Phobia Project surgiu a partir da união de nós dois e mais duas amigas/sócias com o objetivo da disseminação artística que envolve a cena techno.
Todos nós somos apaixonados por toda essa cultura e sentimos uma enorme carência aqui na região com algo relacionado a esse tipo de arte, foi de onde tomamos a decisão de agir.
Os quatro fundadores deste núcleo são artistas e, por incrível que pareça, com quatro personalidades e “olhares para a arte” totalmente diferentes uns dos outros, o que faz o processo criativo e de desenvolvimento ainda mais interessante e rico.
O processo de criação de todo esse movimento artístico de eventos e coleções tem consigo uma mescla dos olhares dos quatro integrantes e mais todo o upgrade que temos vindo de fora.
Observar como toda a cena em si se movimenta, tendo um olhar que valoriza as novas gerações está em nosso mais alto pilar de importância para que continuemos desenvolvendo um conteúdo que seja apresentado de forma atualizada e que esse conteúdo impacte e conquiste o maior número de pessoas.
Qual projeto surgiu primeiro o Tegron ou o Phobia?
O Tegron surgiu aproximadamente 2 meses antes do surgimento do Phobia Project. A criação de um ambiente onde pudéssemos apresentar nossa arte de forma livre foi um dos principais motivos pelo qual nós dois também embarcamos nessa empreitada com nossas amigas/sócias.
Recentemente, ambos completaram seus 3 anos de existência e isso nos enche de orgulho, todo esse legado criado até então é algo muito inspirador para todos nós.
Contudo, podemos dizer que ambos tiveram seu nascimento praticamente juntos.
“Esse método de pesquisa musical faz com que estejamos sempre em movimento, um aprendendo com as diferenças do outro e vice-versa” – Tegron.
No Tegron, na hora de fazer a pesquisa musical, vocês se entendem facilmente ou rolam muitas diferenças?
Nós dois temos gostos semelhantes, porém com intensidades e pesos diferentes, o que dificultaria uma pesquisa exatamente “lado a lado” em frente a tela de um computador.
Devido a isso, desenvolvemos pesquisas distintas, onde cada um adquire novas faixas independentemente do outro e por fim, antes de cada apresentação, sentamos lado a lado para decidir todo o desenrolar da história que será contada aos espectadores.
Dessa forma, conseguimos mesclar os dois pontos de vista e conseguimos criar algo que seja inesperado e engrandecedor tanto para quem estiver nos assistindo, como um para o outro.
Esse método de pesquisa musical faz com que estejamos sempre em movimento, um aprendendo com as diferenças do outro e vice-versa.
Falem agora um pouco sobre as dificuldades que enfrentam ao conduzir um projeto de Techno pesado no Brasil?
Acreditamos que em sua maioria, artistas de techno que estejam desenvolvendo sua carreira em território brasileiro, enfrentam uma série de dificuldades.
Mas, falando sobre a nossa área de atuação, sentimos dificuldades geradas pelo não conhecimento/falta de informação do público com relação a essa identidade sonora.
Acabam surgindo preconceitos “bobos”, digamos assim, com relação à intensidade, velocidade e estética de toda essa cena Hard/Hardcore/Industrial em que estamos inclusos.
Isso acaba fazendo com que toda a inserção dessa arte acabe se tornando mais lenta e necessitando de uma dose extra de paciência para que todo esse conceito seja apresentado e reapresentado, dessa forma conquistando e se tornando algo acessível e não mais “tão assustador”.
Embora a listagem de dificuldades para inserção de toda essa “cena hard” sejam inúmeras, enxergamos um grande avanço e desenvolvimento dela nos últimos tempos, o que nos motiva e nos faz crer que haverá um futuro incrível para esse formato de arte.
E os locais em que o Tegron já se apresentou? Fale mais sobre eles? Quais mais marcaram o duo?
Na listagem de lugares pelos quais já nos apresentamos, todos possuem um lugar muito especial em nossa memória e nos registros que acumulamos nesses momentos. Seja pela energia do público, estrutura do local, reação da pista à cada track, mas alguns conseguiram nos marcar com maior “profundidade”, digamos assim. Seguem abaixo algumas destas gigs memoráveis:
Coletivo Colmeia: É um coletivo multicultural, que uma vez ao ano ocupa todas as salas do Teatro Carlos Gomes, aqui na cidade de Blumenau, com intuito de proporcionar arte de forma gratuita e de todas as formas para todo e qualquer indivíduo. Poder apresentar nossa arte, em um ambiente altamente artístico, de forma aberta e gratuita para tantas pessoas foi algo incrível.
Tríade: É a união dos núcleos Phobia Project, Ciclo Coletivo e Castle Hard Party, que desenvolveram um evento altamente artístico e obscuro na cidade de Curitiba. Acreditamos que nesta noite, foi onde alcançamos nosso maior público concentrado no mesmo local. Foi uma experiência intensa e marcante, a energia que envolveu a todos nessa noite poderia mover montanhas, com certeza.
Club Vibe (Zians & Pulse T): Nosso debut no tão Famoso Club Vibe, como headliners em um showcase dos núcleos Zians e Pulse T nos deixou absolutamente extasiados. Com certeza, foi uma das nossas apresentações, sonoramente falando, mais massivas e intensas e todo o público, além de mergulhar com força em toda essa intensidade, vibrou conosco do início ao fim da nossa apresentação. Foi algo indescritível!
Weiter: É um selo que desenvolve eventos de música eletrônica em locais públicos da cidade de Blumenau e, nesta edição em que nos apresentamos, o local foi um túnel, que passa por baixo de uma rodovia altamente movimentada aqui da cidade. Até o momento, esta foi nossa última apresentação e mais uma vez, poder levar nossa arte de forma aberta e gratuita a inúmeras pessoas, que, talvez tenha sido a primeira vez que ouviram esse estilo musical, é algo emocionante.
Hoje quais são seus DJs e produtores favoritos?
- Rebekah
- Perc
- SNTS
- Cassie Raptor
- IIIIIII/8
- Vivay
- Utro6
- Sub Imperium
- Kahan
- Cekta
- Alod
- Draag
- Slime Coca
- Dostroic
- Kill Your Idols
Como é o processo de criação da marca de roupa de vocês?
Todo o processo de criação das peças/estampas da nossa fashion brand Tegron Clothing acontece em forma conjunta, unindo uma pesquisa minuciosa e referências que temos em outras marcas tanto da cena techno, como do universo fashion num todo.
A união dessas duas artes, música e a moda, tão contagiantes é algo que nos deixa extasiados. Como um dos principais pilares da marca, a agressão visual, seguimos fiéis a todo esse impacto que precisa ocorrer em seu primeiro contato com uma de nossas peças.
Estampas altamente detalhadas somadas a um conceito rico e direcionado fazem com que todo esse movimento atinja em cheio o nosso público alvo. O repasse de toda a intensidade sonora do projeto Tegron para nossas coleções é algo que prezamos.
“Ver o público crescendo a cada apresentação do nosso projeto Tegron e/ou a cada edição do Phobia Project é algo encantador” – Tegron.
Com esses 3 anos de Tegron e Phobia, vocês notam mudanças na cena local causadas pela influência de ambos projetos?
Sim. Desde as pessoas que nos relatam nunca sequer terem tido qualquer contato com o techno, e após essa experiência se tornarem seguidores/as ativos/as de todo o movimento, até quem por algum motivo qualquer tinha algum preconceito ou resistência com essa cultura e, após a primeira vez, se apaixonou por toda essa cena.
Ver o público crescendo a cada apresentação do nosso projeto Tegron e/ou a cada edição do Phobia Project é algo encantador, principalmente se nos atermos aos detalhes, como por exemplo: a mudança na estética que ocorre no público, o estilo de dançar, cada vez mais livre sem medo de opiniões alheias, o envolvimento e comprometimento com a divulgação do evento, entre outros.
Fazer parte de um movimento tão novo e, ao mesmo tempo, tão artístico e singular no país em que vivemos é algo que nos motiva diariamente e nos enche de orgulho.
Atualmente, quais são as ambições do Tegron para o futuro?
Nossas ambições são muitas, afinal, todo o universo que envolve o projeto Tegron, tem cada dia mais se tornado um de nossos maiores objetivos, envolvendo alta dedicação e empenho diários.
Estamos trabalhando duro para ter nosso trabalho e nome reconhecidos, tanto em território nacional, como internacional. Sabemos o quão isso é difícil devido a essa cena ainda não ter um desenvolvimento amplo dentro do Brasil, mas estamos dispostos a seguir com todo esse movimento.
O estabelecimento de nossa carreira de forma global é o ponto mais alto de todas as nossas ambições. Para isso, já estamos trabalhando em vários pontos estratégicos que servem de degrau para toda essa caminhada.
Dentre aos nossos próximos passos, em busca de todo esse contexto, podemos citar alguns pontos em que já estão em processo de desenvolvimento: Debut em turnê internacional em território europeu e na América do Sul; Lançamento da segunda coleção da Tegron Clothing; Debut em algumas cidades de SC e outras fora do estado; Lançamento do vídeo da nossa apresentação na Tríade.
Levar nossa arte ao maior número de pessoas com certeza vai ser algo que nos trará todo esse reconhecimento almejado, mas para isso temos muito trabalho ainda pela frente.
Tiago Jerônimo
Equipe I.D. Clubber, Chefe de Reportagem da Cena Clubber, Colunista e Repórter