REVELAÇÃO | DA ENFERMAGEM AOS DECKS: A História de Lexie, Uma DJ Movida Pelo Groove

De influências musicais que vão do rock ao techno hipnótico, Lexie transforma paixão e resiliência em uma carreira promissora, conquistando pistas e festivais com sua identidade sonora marcante.

Lexie é a prova de que paixão e determinação podem transformar vidas. Antes de se dedicar à música, ela trabalhava como técnica de enfermagem, mas foi o amor pelos beats que a levou a trocar os plantões pelos decks. Sua jornada reflete coragem, resiliência e uma conexão profunda com a música, tornando-a uma artista singular que transforma experiências em energia para as pistas e festivais onde se apresenta.

Lexie é uma DJ emergente na cena underground brasileira, com foco no techno hipnótico e elementos introspectivos que dominam suas performances. Inspirada por suas raízes no rock, ela traduz essa energia em sets cativantes e atmosferas intensas, conectando-se profundamente com o público nas pistas de dança.

Nessa entrevista, você vai saber a história da música na vida de Lexie, da infância até os dias de hoje, suas influências, mudança de profissão, algumas novidades de futuro, e muito mais. Confira agora mesmo, essa história incrível e exclusiva com nossa REVELAÇÃO:

Crédito imagem: @butosfilms
Você lembra da primeira vez que a música te impactou? Como foi crescer ouvindo influências tão diversas, desde o rock até o new wave que seu pai curtia?

A primeira vez que me recordo do impacto que alguma música teve na minha vida foi quando eu era criança, escutava e cantava com meu pai a música do Eagles – Hotel California. Foi enriquecedor crescer em meio de tantas influências musicais, ter percepção de timbres dos mais clássicos até os mais elaborados e que me trouxe muitas memórias e aprendizados musicais até hoje.

Quais artistas e bandas da sua infância e adolescência mais marcaram você e, de certa forma, abriram portas para sua paixão pela música?

Pink Floyd, pra mim foi a primeira banda que me trouxe a paixão pela música, entender como que uma banda produzia uma música com mais de 10 minutos, com tantos elementos que me remetiam a uma orquestra mais sintetizada. Para além do rock eu escutava muito também Summer Electro Hits e Pop Dance, como Nelly Furtado, Avicii o que me fez cada vez mais ter contato com a música pop eletrônica, fazendo meu amor pela música eletrônica crescer cada dia mais.

Créditos foto: @butosfilms
Houve um momento em que você pensou em seguir um caminho musical mais cedo? Como foi ter uma guitarra na adolescência e explorar seu lado musical?

Não pensava em trabalhar com música até conhecer o cenário eletrônico e começar a frequentar festas. Quando pedi uma guitarra de presente para o meu pai, foi o primeiro movimento que tive com contato direto estudando música, tentando entender as notas para reproduzir o som do que eu escutava nos fones, mas a dificuldade e falta de prática me fez desistir de continuar aprendendo o instrumento e percebi que queria aprender como se fazia música também de outras formas.

Durante a escola, você também se envolveu em dança e teatro. O que esses momentos artísticos significaram pra você e como a música se encaixava neles?

Pra mim tanto no teatro quanto na dança, a música sempre estava presente como uma trilha sonora e não somente nesses cenários artísticos como também nas coreografias e séries que fazia no esporte durante a escola que era a Ginástica Olímpica. 

Me conectei cada vez mais com os sentimentos traduzidos através da música, se transformando muitas vezes em alguma expressão durante as atuações ou até mesmo nas apresentações de dança por movimentos do meu corpo, sempre atenta a princípios básicos de contagem e tempo e entendimento de como a música influenciava em cada processo, para além de me conectar também a partir dessas experiências com outros artistas que trabalham também com a música. 

A arte começou a florear em mim a partir desse movimento como um todo, a partir de muitas conexões com as pessoas e também dessa conexão comigo mesma e de entender qual forma eu queria expressar através da minha arte.

O que despertou seu interesse por discotecar e como foi seu primeiro contato com a DDJ 400?

Meu desejo real de discotecar começou a partir da curiosidade de como mixar duas músicas, criando movimentos diferentes do que apenas tocar música por música. De certa maneira, pensei que seria como fazer uma brincadeira juntando duas músicas que já existem criando uma dinâmica que soasse diferente do seu contexto originalmente falando, podendo criar momentos de tensões e alívios que são sentidos por quem está na pista ouvindo. Quando vi a Daria Kolosova fazendo isso na Tantsa de 2021 foi o auge do momento onde decidi que queria ser realmente uma artista completa. Esse meu primeiro contato com a DDJ 400 foi um tanto quanto cômico, me sentia como uma criança descobrindo algo mágico e novo. Sentindo o flow da música e tentando entender cada função do equipamento.

Você começou a aprender de forma autodidata, se dedicando aos vídeos do Jayboo no YouTube. Como foi essa experiência, principalmente conciliando com o seu trabalho na área da saúde?

Foi um movimento muito complexo, se não um dos mais difíceis da minha vida. Trabalhar na área da saúde me demandava muito tempo e energia, então quando não estava estudando algo sobre a Enfermagem (área que atuava), pesquisava formas e me dedicava a aprender pelas aulas do Jayboo a mixar, isso nos poucos momentos que tinha com o equipamento, já que não era ainda algo tão acessível pra mim. 

Tive pouco contato com o equipamento até o momento da minha primeira apresentação de fato em uma gig. Focava mais em pesquisa musical e organização de playlist principalmente, para além de entender melhor sobre a infinidade de vertentes musicais que temos. 

Também tive anjos maravilhosos na minha vida, como minha amiga Luíza Lauzi, que me ajudou muito nesse processo. Do pouco tempo que tínhamos juntas no início da nossa amizade, foi um movimento muito de parceria de ambas se apoiando e com muitos treinos, Luíza também me ensinou uma infinidade de coisas sobre técnicas de mixagem. Nesta época buscava muita referência de artistas nacionais que desde então admiro muito como a própria Luíza, Betriza, Eli Iwasa, Zora e a Bllack Rose, que diretamente me inspiraram a explorar a música e seguir o meu projeto como artista e ser foda assim como elas.

Em 2022, você criou seu primeiro projeto, KHAOS. Como foi essa transição e como foi tocar pela primeira vez no Transmita Bar, em um evento com line-ups 100% femininos?

Minha primeira apresentação foi um misto de sentimentos, frio na barriga com muitas inseguranças e que no final das contas foi uma delícia. Saí dos decks com o sentimento de que sempre foi isso que queria, a energia de tocar o teu som para o público e ver as pessoas curtindo não tem preço. Fiquei muito feliz com o projeto do Technelas e dele ter sido a minha porta de entrada em uma festa composta por um line 100% feminino, foi um movimento de muita representatividade e inspiração.

Nos conte sobre o processo de mudança de nome para Lexie. O que motivou essa decisão e como você sente que esse nome representa mais sua identidade musical?

Eu desde o princípio queria um nome que me representasse, o nome KHAOS surgiu como uma ideia inicial, mas sentia que ainda sim não casava diretamente com meu projeto.

Meu nome de nascimento é Alexia e assisti muito uma série chamada Grey’s Anatomy onde tinha uma personagem que se chamava “Lexie”, as pessoas me associam muito a personagem pelas características de ser estudiosa, autodidata e personalidade marcante. Foi onde comecei a pensar a partir de uma conversa com uma amiga de que o nome Lexie fazia muito sentido para quem eu sou de fato, um nome para o projeto que remetesse ao meu nome de nascimento e principalmente que tivesse essa energia da personalidade marcante, que é muito o que eu levo para o meu som.

Em que momento você começou a se interessar pela cena underground e como foi conhecer coletivos como a Upload e a Techno Pride?

Já frequentava grandes festivais de EDM, Tech House, Trance e Techno desde 2015, festivais esses como EDC, XXXPERIENCE, Tribe, Elrow, Time Warp, dentre outros. Em 2019 começou a surgir o interesse em conhecer a cena underground, cheguei a conhecer a festa MOND que ocorreu na virada deste mesmo ano. 

A partir daquele momento comecei a me interessar mais em conhecer outros coletivos, mas com a pandemia e também falta de companhias para as festas, só em 2023 tomei o ponta pé inicial de frequentar a cena under começando pela festa Hail the Light que me marcou muito e desde então frequento de forma assídua as festas do núcleo. 

Foi muito interessante ter esse contato com coletivos como a Upload e Technopride, foi identificação sonora desde o primeiro contato. Além de ter aprendido muito sobre a infinidade de vertentes e linhas de som que vários artistas exploram.

Como foi sua primeira gig na Upload e o convite para tocar na Techno Pride com uma pegada mais hipnótica e groovada de techno?

Tocar na Upload foi desafiador. Foi meu primeiro contato da vida com uma CDJ, então tive um mix de sentimentos para me desafiar a fazer acontecer meu trabalho em um equipamento que não tinha conhecimento prático de habilidades para tocar e em contrapartida com a responsabilidade de exercer meu trabalho ali como artista de forma profissional

Desde o princípio tanto da Upload quanto a Techno Pride, senti dos curadores um voto de confiança sobre meu trabalho e me senti motivada a entender muito mais sobre o movimento da cena underground como um todo. Tocar em ambas festas me trouxe um movimento de muita satisfação, apresentando desde as minhas origens no house até o techno mais groovado, ver a galera vibrando com uma linha de som que faz meu corpo pulsar e apresentar de fato quem eu sou e o que me move todos os dias.

A decisão de sair da área da saúde foi um grande passo para focar no seu projeto musical. Como foi esse momento e como ele impactou seu crescimento como DJ?

Eu sempre gostei de cuidar das pessoas, mas percebi nesse movimento com a música que precisava começar a cuidar de mim e daquilo que me move como ser humano no mundo. Percebi que para me dedicar da forma como eu queria para a música seria muito difícil continuar conciliando com os plantões que fazia.

As coisas começaram a tomar outra forma na minha carreira artística a partir da minha saída da área da saúde, tendo mais tempo e energia para me dedicar a música e os movimentos dos convites começaram a acontecer com maior frequência e foi o que me impulsionou a continuar fazendo meu corre artístico.

Como você descreve a sonoridade que você está explorando hoje? Quais elementos e referências continuam sendo fundamentais no seu som?

Sempre gostei muito de elementos percussivos e com groove no meu som. Sempre explorando sonoridades com graves fortes, mas sem perder a essência de sonoridades como House e Detroit.

Meu som explora vertentes hipnóticas e de hard groove, com muitos synths de house, percussão, samples com muito groove e aquele toque dos anos 80/90 e 2000, o que considero como fundamental e que faz muito sentido com a minha identidade. Gosto de trazer a nostalgia dessa época, mas com elementos mais atuais, criando mesclas e texturas durante meus sets. Tenho preferencialmente gostado de desenvolver sets em 3 decks, para criar essas atmosferas e ambiências.

Depois da Upload e Techno Pride, você tocou em coletivos como Hail the Light, Underdivision, e até virou residente na Volt. Como essas experiências em diferentes coletivos e clubs moldaram seu estilo e presença na cena?

Aprender coletivamente o que cada club e festa tem como essência me fez explorar muitas linhas de som, ficando cada dia mais engajada e curiosa para aprender muito mais sobre estilos de músicas que se encaixam na minha linha de som. Isso trouxe pra mim além de identidade sonora uma presença de som diferente do que por costume a maior parte do público escutava nesses locais.

Fui abraçada pelo coletivo Volt como residente, me sentindo completamente em casa, visto que é um coletivo na cena de São Paulo que fomenta a presença do groove e hard em sua essência, o que me fez cada vez mais explorar uma linha de som na qual sentia desde o princípio como identidade e tendo oportunidade de apresentar me sentindo mais segura para o público.

Quais foram os desafios e as vitórias ao se apresentar em clubes icônicos como o D-EDGE e o Club A? Como foi realizar esse sonho?

Foram clubs que marcaram muito a minha carreira artística. Tocar no Club A foi muito massa, poder levar meu som para um local onde o hipnótico e hard groove ainda não era tão explorado, além de desafiador por apresentar algo diferente para o público e que no final das contas foi muito gostoso. Fui abraçada pelo público que curtiu do início ao fim.

Tocar no D-EDGE foi uma realização de um sonho por dois motivos, além de tocar em um dos clubs que mais frequentava eu também estava vivendo o movimento de ser uma das finalistas do contest para tocar no DGTL, um dos festivais que mais amo. Foi marcante poder tocar em um dos lugares que mais sonhava em me apresentar e saber o quanto esse movimento estava sendo importante para a minha carreira artística. Amo poder levar meu som para vários núcleos e clubs que ainda não consomem muito a linha de som que eu toco.

Olhando para o futuro, quais são suas próximas ambições como DJ? Você tem algum projeto ou estilo que quer explorar mais profundamente?

Quero me consolidar não somente aqui no Brasil mas no exterior também, estou explorando o mundo da produção musical e fazendo valer uma vontade minha muito antiga de aprender a fazer música. Meu coração é do groove, sempre foi, então quero cada dia mais explorar vertentes que conversem com o Hard Groove para ter mais referências e daqui um tempo poder apresentar para o público produções próprias do meu projeto como artista.

Como você vê a cena onde você se destaca hoje? O que você acredita que ainda pode conquistar e agregar ao movimento?

Acho que a cena underground tem muito potencial e muitos artistas muito bons que precisam ser explorados por outros núcleos de grandes festivais. Acredito que nos poucos movimentos, por mais simples que eles sejam, de pouco em pouco os artistas e coletivos possam se ajudar. Infelizmente ainda enxergo muito no underground o conflito de interesses em uma cena onde todos poderiam se apoiar. Quero poder incentivar cada vez mais pessoas que tocam a mesma linha de som que a minha, apoiar coletivos que também que abracem o Hard Groove como uma sonoridade relevante, ainda mais em uma cena que atualmente explora muito o Hard Techno, dentre outras vertentes que não são propriamente dito o Hard Groove.

Se você pudesse dar um conselho a alguém que, como você, começou por curiosidade e paixão, o que diria?
  • Comece aos poucos, explore diversos tipos de rolês e sons. 
  • Conheça o que é movimento underground, o que é o movimento da cena eletrônica no Brasil como um todo, para você também entenda o cenário da música eletrônica aqui em território nacional.
  • Busque artistas nacionais como referência também, treine, estude a música e o movimento como um todo, procurando sua essência. 
  • Toque o que te vibra o coração e tua alma, isso pra mim é o que faz toda a diferença e me faz manter em uma cena onde vemos muitos artistas, em sua maioria, frustrados pela falta de oportunidades e que muitas vezes não percebem que em vários movimentos frustra quem está a sua volta. 
  • Faça o seu corre e o que te move dentro da cena, pelo público e pelo som, apoie pessoas que tenham a mesma energia de movimento que a tua que o teu trabalho.
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Dih Aganetti

Editor-executivo e Repórter

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