REVELAÇÃO | Keertana: Vivendo a sua existência através da música

Ana Flavia Fantinato de Melo (25) é o nome por trás do projeto Keertana, Revelação do mês de maio representando o Psytrance.

Keertana é apenas um dos projetos dessa mulher que diz VIVER A SUA EXISTÊNCIA através da música, palavras dela mesma. E vive mesmo! Pois além desse projeto, Ana traz outra face voltada para vertentes musicais “menos dark”, o Stereofilóbeats, que é completamente diferente da pegada da nossa revelação do mês, mas, não parando por aí, pois essa linda ainda é uma grande performer circense.

“Meu lado circense nasce dessa contínua busca por externalizar processos internos.” – Keertana.

Vamos saber um pouco mais sobre essas diversas faces de Keertana? Confira agora a entrevista especial de revelação do mês:

Fale um pouco do contato que você teve com a música na sua infância e na adolescência. 

Meu contato com a música inicialmente é marcado por influências da minha mãe. Eu me lembro com 5/6 anos de ouvir grandes clássicos da MPB como Fagner, Zé Ramalho, Tom Zé (…) junto a ela. Após isso, nos mudamos para Portugal, onde meu gosto musical teve uma forte influência da música pop e eletrônica através dos canais de televisão MTV e MCM que reproduziam videoclipes 24 horas por dia. Lembro de voltar da escola louca pra ligar a TV e esperar passar o videoclipe “Galvanize” – The Chemical Brothers, que com certeza foi algo que me marcou muito na época. Com a facilidade de reunir diversas vertentes da música num lugar só, os canais de videoclipes me fizeram explorar esse mundo musical de uma forma ampla, passeando e conhecendo diversos estilos de som. Na adolescência, ainda com influência dos canais de TV, ganhei alguns CDs do Summer Eletrohits e aquilo foi minha trilha sonora durante muito tempo.

Conta pra gente sobre como surgiu o projeto Keertana.

Eu conheci o psytrance através de PVTs, numa  chácara de um amigo querido, a Sagarana, que até hoje é um lugar muito especial. Foi onde eu tive meu primeiro contato com o trance, pude viver experiências incríveis que me fizeram logo de início me apaixonar pela cena e querer viver aquilo intensamente. Logo comecei a frequentar festas e festivais onde conheci a fundo o que era a cultura do Psytrance num modo de viver e foi onde eu me senti em casa. A partir disso, surgiu uma vontade imensa de expressar essas experiências vividas em festivais através da minha existência. Foi onde em 2015, eu larguei a carteira assinada, tranquei a faculdade e fui viajar pra um festival na Bolívia, chamado Amazonas Andes. Lá conheci pessoas maravilhosas e vivenciei algumas experiências com medicinas naturais que certamente me influenciaram no processo de construção daquilo que eu estava buscando. Após o festival, ainda na Bolívia, dei início às aulas de mixagem com um amigo que havia conhecido no festival, DJ Rhonna e foi onde tudo começou. Voltei pro Brasil e com ajuda de outros amigos muito queridos, DJ ProgKen e DJ Caio Green consolidei meu DJSet que dei o nome de Keertana. O nome surgiu de pesquisas em dicionários indianos, no intuito de achar algo que me representasse, encontrei “Kirtan” que se trata de um processo milenar onde o canto e a dança tem forte papel devocional. Tratam-se de ritos profundos que despertam a espiritualidade individualmente e é visto pelos indianos como um dos caminhos mais seguros para iluminação. Com base nessa ideia devocional e particular, minha pesquisa sempre foi muito noturna, com o objetivo de levar realmente a esse local introspectivo de transe. Eu comecei no FullOn Night, tocava muito sons do Southwild, Dust, Asimilion, Cris Rich, Fagin’s Reject, logo conheci os brazucas da Ayauma Records, que estiveram muito presentes em meus sets também. Com o passar do tempo, comecei a transitar entre as linhas de som da Sangoma Records, Forestdelic Records, Saama Records, que foi uma época maravilhosa de muita sonzeira. Atualmente tenho curtido gravadoras como Sonic Loom Records, Resina Records (label que faço parte), Deviant Force Records, Parvati Records, Imsomnia Records, D’Noir Records (…) entre outras que fazem parte dessa linha de som mais Forest e Dark que tenho buscado hoje em dia.

Você diz ter outra face conhecida como Stereofilóbeats. Conta pra gente sobre esse projeto também.

Stereofilóbeats surgiu da necessidade de expandir tanto na questão de conhecimento e experiência em mixagem, como na necessidade pessoal de tocar outros ritmos que me influenciavam tanto quanto o Psytrance. O Projeto nasceu em 2018 e é o resultado de muitos experimentos. Já toquei diversos estilos com esse nome, como Minimal Tech, Downtempo, Psychill, Balkan, Latina, World Music e atualmente o set é focado nas Brasilidades/Brasilian Beats.

Fale um pouco sobre a sua terceira face, o seu lado circense.

Meu lado circense nasce dessa contínua busca por externalizar processos internos. Foi onde conheci a Pirofagia numa edição do festival Ressonar, numa performance de abertura do MainFloor e me emocionei muito com o que vi. Desde então iniciei minha pesquisa, conheci outros segmentos e fui assim buscar criar a minha identidade dentro do mundo das performances. Com isso criamos a Tribo de Aruanda Performances, que idealizada por mim e mais 2 amigos, Victor e Renata, atualmente é uma trupe de Performances Artísticas e Circenses, que trabalha com shows de Pirofagia, Acrobacias e Malabares, onde já pudemos contar com a participação de diversos artistas do Estado (MS) e do Brasil.

Foto Divulgação.

Você se apresentou em diversos Festivais de extrema importância para a cena do psytrance. Quais te marcaram mais? E quais outros estão no radar?

O Terra Azul Festival e o Mundo de Oz Festival me marcaram muito no sentido de vivências e cultura Psytrance. São dois festivais incríveis, com estruturas impecáveis e que trazem uma proposta psicodélica não só musical, mas também artística sempre muito imersiva e profunda. Outro que me marcou muito foi o Jacundá Festival, um festival que acontece na Amazônia e me marcou porque tive a oportunidade de conhecer o coração do Brasil e ainda levar a minha música até área tão distante da minha terra natal.

“…comecei a me interessar sobre como as músicas que eu tocava eram feitas e isso me gerou curiosidade de aprender e consequentemente fazer as minhas próprias músicas.” – Keertana.

Sendo um DJ Set, você pensa em começar a produzir músicas também? Existe muita cobrança em cima disso? 

Sim, o mundo da produção musical é incrível. Acho que são dois segmentos diferentes: o DJ Set e o Produtor musical. Já conheci muito DJ que não é produtor e vice e versa. Acredito que é muito pessoal o caminho de cada um. Eu depois de um tempo como DJ, comecei a me interessar sobre como as músicas que eu tocava eram feitas e isso me gerou curiosidade de aprender e consequentemente fazer as minhas próprias músicas. Hoje sigo experimentando e estudando bastante para desenvolver meu Live num futuro próximo. Rsrs…

Você tem algum tipo de dificuldade por ser uma DJ mulher em uma cena repleta de homens? (fale sobre sua visão sobre representatividade feminina e de qualquer outra que queira pontuar…)

Acredito que a dificuldade maior é se encontrar em festas e palcos onde você chega e se sente menosprezada por ser mulher ao invés de acolhida por DJs homens, isso gera uma barreira no contato direto algumas vezes, mas não generalizo pois aprendi a tocar com um homem. E sobre a representatividade, eu acredito que todo lugar que um dia foi dito que era proibido para mulheres e hoje é conquistado por nós, é uma grande representação do quão fortes e capazes somos.

A pandemia acabou interferindo muito no setor de eventos de todo o mundo, mas para DJs que tinham pouco tempo de carreira foi um pouco diferente. O quanto você foi prejudicada e o quanto acabou te ajudando? 

O cancelamento de uma agenda gigs me abalou bastante visto que eu vivia de todos esses eventos, não só tocando mas também me apresentando artisticamente. Por outro lado, o isolamento social me trouxe muito tempo pra poder me dedicar e estudar coisas novas dentro das áreas que eu gosto, como a produção musical e as aulas de contorcionismo.

Deixe um recado para os leitores da revista e principalmente para seus fãs.

Cara, uma coisa que a pandemia me ensinou MUITO em diversos aspectos, é até clichê falar mas é verdade na minha vida: Não desista daquilo que você acredita! Resiliência! Se readaptar para nunca deixar de fazer o que ama.

Essa foi a entrevista com nossa revelação do Psytrance do mês de maio. Confira agora a lista das músicas mais ouvidas pela DJ:

  • Kaos – 21st Century Fox.
  • Eitan Reiter (Perfect Stranger Rmx)- Ups & Downs.
  • FKJ & Bas – Risk.
  • Outkast – Spottieottiedopaliscious.
  • Nicola Cruz – Colibria.
  • Fat Freddy’s Drop – The Nod.
  • Jorge Ben – Errare Humanum Est. 
  • Del torto & Nanobugz – Whats a giraffe.
  • Chico Buarque – Construção.
  • Cyk e Mentalis Zavar – Phoenix.

Foto de Capa: Foto Divulgação

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