FUGAZ SESSAO (375)

REVELAÇÃO | EXPLORANDO O UNIVERSO MUSICAL DE FUGAZ: Uma Entrevista Exclusiva

Bem-vindes a uma jornada única pelo universo musical desses maravilhosos, a dupla, Fugaz, mais uma Revelação da Colors DJ Magazine. Nesta entrevista exclusiva, você terá a oportunidade de mergulhar nos pensamentos, experiências e visões deste duo inspirador. 

De poder e resistência a sonhos e desafios, Rafa e Rica compartilham suas histórias e paixões, destacando o papel fundamental da diversidade na cena eletrônica. Além disso, descubra as surpresas e novidades que eles têm reservadas para seus fãs e leitores da revista Colors DJ. 

Prepare-se para uma conversa envolvente com o duo, onde a música se funde com a autenticidade e a busca incessante por um espaço digno em um mundo de ritmo e melodia:

Vamos começar bem do início, queremos saber sobre a infância e adolescência musical de vocês, justamente pra poder entender como chegaram a se tornarem djs de forma profissional. Conte um pouco de suas vivências com a música nessas fases pré adulta da vida.

Rafa: Desde criança, eu tinha uma conexão muito forte com a música. Meu pai tinha um toca-discos e ele foi motivo de muitas broncas pois eu cheguei a quebrar várias agulhas. Para me distrair um pouco, eles me incentivaram a ver filmes e desenhos, e eu, também, os amava. Cresci obcecado por trilhas sonoras e até pouco tempo atrás acreditava que meu sonho era trabalhar com trilhas de cinema. Depois que fui entender que poderia me envolver com a música de outras formas.

Rica: Desde a minha infância, sempre tive uma conexão especial com as artes, e meus pais sempre me incentivaram nesse aspecto.

Lembro-me de passar horas no quintal da minha tia, em cima de um pilar, fazendo apresentações, dançando, cantando e interpretando como se houvesse uma multidão me assistindo… A influência musical sempre foi muito presente em nossa casa. Enquanto viajávamos pela estrada para visitar meus avós, meus pais costumavam colocar Whitney Houston, Grace Jones, entre outras divas para ouvirmos no carro. Meu irmão, também, sempre foi apaixonado por música; aos 20 anos, ele frequentava raves, e eu, ainda com 14 anos, morria de vontade de poder ir junto com ele.

Quando chega o momento em que vocês se conheceram: como foi essa união?

Em 2018, houve uma troca de olhares entre nós em uma festa. Nos apresentamos por meio de amigos, mas não foi nada além disso, pois estávamos em relacionamentos com outras pessoas na época. No entanto, nos encontramos novamente durante o Carnaval em São Paulo e acabamos compartilhando um beijo triplo em um bloquinho e foi tudo (risos). Foi uma situação bastante peculiar!

Tempo depois, solteiros, começamos a sair juntos como amigos por um bom tempo. Só no final de 2020 é que começamos a namorar oficialmente.

Por serem um casal, quais os pontos positivos e mais complicados de estarem juntos nesta profissão?

Nós gostamos de ter momentos de casal, mas às vezes é inevitável que nossas atividades como DJs se misturem. Por exemplo, quando vamos a um festival, acaba se tornando trabalho. Nos encontramos com vários colegas de profissão e acabamos discutindo sobre isso. Além disso, compartilhamos outras experiências juntos, como viajar, sair para jantar, socializar com amigos e conhecer novas pessoas. A dinâmica romântica está sempre presente em nossa relação.

A noite mudou completamente para nós como casal. Sair para relaxar parece algo de outra vida. É difícil fazer distinções claras, pois somos uma unidade. Atualmente, sentimos uma pressão constante para nos relacionarmos e mostrarmos uma imagem positiva. Nesse sentido, é ótimo ter alguém ao nosso lado para compartilhar todas essas responsabilidades, já que nos apoiamos mutuamente. Também, nos ajudamos quando queremos ser um pouco irresponsáveis, afinal, todos merecem momentos de descontração! Além disso, essa parceria influencia significativamente nossas decisões artísticas, já que costumamos concordar em grande parte no direcionamento do nosso projeto.

"Queremos deixar nossa mensagem de poder e resistência principalmente a artistas queer e do interior, vocês são capazes de atingir espaços inimagináveis!"

Quais as principais dificuldades que vocês têm e tiveram até hoje e o que vocês fazem para driblar todos os empecilhos que a vida lhes traz no âmbito profissional? Quais dicas podem dar para quem está começando nesse setor de eventos?

Hoje em dia, a maior dificuldade para gente é ter a devida paciência. Nós trabalhamos e nos dedicamos o tempo todo, e nem sempre as oportunidades vêm no nosso tempo.

A carreira de DJ depende, também, de outras pessoas, seja para sermos convidados para gigs, ou aprovados por gravadoras, entre outros. Trata-se de continuar realizando um bom trabalho e ser menos ansioso, confiar no tempo das coisas e tomar essa espera como uma forma de se preparar cada vez mais para quando as oportunidades chegarem.

Quando foi que surgiu o momento de produzirem suas próprias canções? Quão importante é, na visão de vocês, serem produtores musicais?

Logo no começo da carreira, percebemos que isto seria um diferencial e que era algo que gostávamos muito. A gente estava discotecando fazia apenas 6 meses quando começamos a estudar produção. Hoje em dia, a gente entende que é fundamental e um passo gigante na carreira do artista ter suas músicas autorais: faz toda a diferença para você mostrar sua identidade artística é uma forma de você estar em contato com o público fora dos palcos. Sem falar que é uma emoção indescritível receber suporte de artistas que você admira!

Qual foi a música de vocês que mais surpreendeu no quesito resultados positivos? Fale um pouco dela e a história por trás de toda essa surpresa.

O resultado do processo criativo e do lançamento de “Trupique” nos surpreendeu de forma incrível e divertida. Tínhamos feito algumas pesquisas de samples e, como exercício, compusemos “Trupique” em menos de meia hora, de maneira bem espontânea.

Inicialmente, nem tínhamos a intenção de lançar a música. No entanto, o Panko, da U’re Guay, nos convidou para participar de um VA e decidimos arriscar com essa faixa, e ele simplesmente adorou.

É engraçado como não tínhamos nenhuma expectativa com essa música e, surpreendentemente, ela foi muito bem recebida pelo público e nas pistas de dança.

Dos diversos clubes e selos em que vocês se apresentaram, fale um pouco sobre a importância de se fazer uma turnê mais ampla, e como vocês estão lidando com as dificuldades de se inserirem em regiões diferentes do nosso país? Também, nos conte sobre a visão dos grandes eventos para DJs com pouco tempo de carreira.

Depois de obtermos uma ótima resposta do público em Campinas, decidimos expandir para São Paulo. No entanto, logo percebemos que a cidade parecia fechada em sua própria bolha e enfrentamos dificuldades para encontrar oportunidades lá. Então, pensamos: e se começarmos a percorrer outros estados do Brasil para impulsionar nosso projeto?

Foi essa perspectiva que nos motivou a lançar nossa primeira turnê, chamada #tsunamieletrico, na qual nos apresentamos em sete estados brasileiros. Foi através dessa experiência que finalmente conquistamos a oportunidade de tocar em casas importantes em São Paulo, e percebemos o quão importante é construir uma comunidade leal e uma marca forte.

Vocês produziram um evento em parceria com a prefeitura de Campinas. Conte um pouco sobre essa experiência e, também, se têm pretensão de fazer mais disso em algum momento.

Costumávamos passear na lagoa do Taquaral, onde ocorreu o primeiro evento. Observávamos aquela Concha Acústica enorme e pensávamos: “Imagina fazer uma festa rave aqui!”. Impulsionados por essa ideia empolgante, seguimos em frente e realizamos nosso sonho, com o apoio da Prefeitura de Campinas e a colaboração dos amigos da Caos.

Foi um dos momentos mais marcantes das nossas vidas. O projeto atraiu mais de 7 mil pessoas e se tornou um marco importante para a cena Clubber da cidade.

Estivemos envolvidos em todas as etapas do projeto: desde a concepção criativa até a seleção dos artistas, a logística, o marketing, o planejamento, a organização e muito mais.

Para a edição deste ano, ainda não podemos revelar muitos detalhes mas, esteja preparado, porque estamos preparando algo totalmente inédito e grandioso.

Pensando em sonoridade, a de vocês é bem ampla, mas acaba se encaixando e sendo uma marca própria de vocês. Como fazem para acompanhar as tendências do mercado sem perder essa identidade?

Dedicamos longas horas pesquisando incansavelmente e se preparando muito. Preparamo-nos com antecedência para os shows mais importantes. Exploramos uma variedade de referências que nos inspiram, tanto do passado quanto do presente. Costumamos levar mais de 300 faixas exclusivas para cada apresentação, criando uma progressão melódica e harmoniosa que começa em Lá bemol menor e termina em Mi. Acreditamos que esse método envolve intensamente o público e nos envolve em uma energia de coragem e confiança. No final das contas, sempre colocamos nossa essência como prioridade.

Hoje em dia, quais são seus artistas preferidos, em todas as cenas, e como vocês fazem pra levar para o set de vocês essas paixões que certamente vem de várias esferas diferentes (principalmente por serem duas pessoas com histórias diferentes).

Temos muitas referências de artistas queer de várias esferas, como Honey Dijon, Lady Gaga, Krystal Klear, Rita Lee, Madonna. Buscamos referências que nos permitam expressar nossa liberdade e sensualidade. Queremos que as pessoas se sintam livres para se vestir e se arrumar da forma que desejarem ao sair, que possam rir, dançar e se divertir, e que possam se excitar com o momento, assim como nós fazemos.

Sobre diversidade na cena eletrônica, vocês têm percebido um aumento e uma maior diversificação do público? E nos line-ups?

Infelizmente, é uma realidade comum nos depararmos com line-ups compostos exclusivamente por artistas brancos, masculinos, cisgêneros e/ou heterossexuais. É extremamente lamentável quando percebemos que essas pessoas nos concedem uma oportunidade, quando na verdade essa oportunidade é nossa por direito, uma vez que nossa voz nasceu dentro da nossa própria comunidade.

Esse preconceito vai de encontro aos princípios fundamentais da música eletrônica, que sempre foi baseada na diversidade. Esse espaço teve origem na comunidade LGBTQIAP+, na comunidade negra e na resistência dos corpos positivos.

Desejamos ver mais artistas dissidentes ganhando destaque, alcançando o sucesso e conquistando espaços cada vez maiores na cena que sempre lhes pertenceu por direito.

Falar sobre futuro e sonhos, não poderia deixar de perguntar sobre as festas e festivais que vocês mais sonham em se apresentar, quais são as principais? E o porquê de escolher estas opções?

Capslock, Time Warp, Rock in Rio, DGTL, Panorama Bar, ODD, Gop Tun são alguns exemplos. A gente sonha em ocupar esses espaços, pois são de muito reconhecimento na carreira artística. E tem algo dentro da gente que diz com muita força que estamos no caminho certo para chegar ali. Esta fé nos dá muita coragem para continuar.

"Nossa música tem como objetivo manter o espírito de Tony vivo até hoje, como um símbolo essencial de resistência artística em nossa comunidade, especialmente nas pistas de dança."

Sobre novidades, tem o novo EP de vocês, fale um pouco sobre o processo criativo e as pessoas envolvidas neste projeto.

No caso dessa faixa que vamos lançar na Levels Rec, decidimos recriar a sonoridade e a atmosfera musical inspirados pelo produtor musical londrino Tony de Vit. Ele combinava elementos do techno, electro house e tribal house dos anos 90.

Tony era conhecido por seu estilo marcante e direto no House, e se tornou um símbolo importante na comunidade Queer. Infelizmente, ele lutou contra o vírus do HIV e acabou falecendo devido às complicações da AIDS. Aliás, nós somos um casal sorodiscordante, escolhemos retratar a visão dele porque ele tem um significado muito especial para nós.

Nossa música tem como objetivo manter o espírito de Tony vivo até hoje, como um símbolo essencial de resistência artística em nossa comunidade, especialmente nas pistas de dança. Por isso, o remix das meninas do From House to Disco se encaixou perfeitamente nessa proposta.

A gente está muito feliz com o resultado da música na pista e dos suportes que temos recebido de artistas que admiramos tanto como Eli Iwasa, Etcetera, Tessuto e muito mais.

"Datas em festas incríveis e que amamos no Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Curitiba. E também nossas curadorias em Campinas estão pegando fogo. O mundo é o limite."

Chegando ao fim, queremos saber o que vocês podem adiantar para o público de vocês e leitores da revista Colors DJ? 

A gente pode revelar pouquíssima coisa por enquanto. Mas podemos adiantar: datas em festas incríveis e que amamos no Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Curitiba. E, também, nossas curadorias em Campinas estão pegando fogo. O mundo é o limite. Ops, será isto um spoiler? Quem estiver por perto, verá!

Agora queremos agradecer por todas essas respostas e deixamos esse espaço para suas últimas palavras.

Nós que agradecemos o convite, obrigado demais! As últimas palavras: queremos deixar nossa mensagem de poder e resistência principalmente a artistas queer e do interior, vocês são capazes de atingir espaços inimagináveis!

Di Aganetti

Di Aganetti

Editor-Ececutivo, Repórter

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