REVELAÇÃO | DJ STELLARUM: A Loucura Brilhante que o GOA Precisava

De dançarina catireira na infância a ícone do Psytrance, ela carrega o legado do pai e eletriza as pistas enquanto coloca o GOA no radar da cena brasileira

Stellarum é a energia que o GOA precisava na cena brasileira. Com um visual insano de Chapeleira Maluca e performances que misturam técnica e emoção, ela transforma a pista em pura conexão. Carregando o legado musical do pai e quebrando barreiras no Psytrance, Stellarum lidera a revolução do GOA com atitude, autenticidade e aquele toque de loucura que só ela tem.

Stellarum é o nome por trás de sets eletrizantes que celebram o GOA, a vertente mais hipnotizante do Psytrance. Com um estilo que mistura melodia, introspecção e muita energia, ela carrega o legado da música brasileira enquanto transforma a cena com atitude e autenticidade.

Na entrevista com Stellarum, mergulhamos na trajetória dessa DJ que transforma o GOA em pura magia. Da infância marcada pelo legado musical do pai às pistas de Psytrance, ela compartilha momentos marcantes, como a criação de seu alter ego Chapeleira Maluca e sua paixão pela produção musical. Nossa DJ DESTAQUE também fala sobre os desafios e conquistas da cena GOA no Brasil, a importância do projeto Sound Sisters e os planos para homenagear o pai em um álbum especial. Imperdível para quem ama música e autenticidade!

Como foi crescer na periferia da Zona Leste de São Paulo com uma família tão envolvida com a música? Qual a memória mais marcante que você tem do seu pai e da influência dele na sua vida?

Foi extremamente necessário para o meu crescimento. A música se fez e se faz presente em todos os sentidos da minha vida, o apoio da galera do meu bairro e o apoio dos meus pais foram o ponto chave pra que eu seguisse nesse caminho. Meu pai sempre levava eu e minha irmã mais nova nas suas apresentações, viajamos por toda Minas Gerais, interior de São Paulo  e ate mesmo para brasília, a minha lembrança mais marcante, foi quando fomos no programa Inezita Barroso, um grande sonho para ele, no qual foi realizado tanto com o seu grupo Violeiros do Parque e eu me apresentei com o grupo Catireiros do parque, foi lindo! Catira é uma dança tradicional aqui no Brasil, onde acompanhamos a melodia da música com palmas e sapateado. Meu pai se enchia de alegria ao nos ver envolvidas em seu sonho.

Você acompanhou seu pai nas viagens da Orquestra Paulistana. Como essas experiências moldaram seu amor pela música e a vontade de seguir os passos dele?

Ele conseguiu dividir conosco o seu amor pela música, acredito fielmente que eu já nasci com esse propósito, eu herdei dele. De forma natural as coisas se encaminharam para que eu seguisse neste caminho, por mais que eu tentasse fugir no começo, este amor sempre voltava e com o apoio do meu pai, tudo ficou mais fácil, já que ele sabia exatamente o que dizer e como me incentivar.

Quando você começou a se interessar por música de forma mais ativa? Foi algo que aconteceu naturalmente ou teve um momento específico que despertou isso em você?

Foi natural, em 2019 no meu primeiro festival, quando o Juan Verdeira entrou, eu senti a pista à minha volta mudar, senti cada um ali se conectando com a música, foi ali que eu decidi que viveria disso. Foi quando eu tomei coragem em seguir um sonho, que apesar das suas dificuldades, me faria bem.

O que te levou a escolher o Psytrance, mais especificamente o GOA, como a vertente que você queria explorar? Lembra de quando este estilo te conquistou?

Foi no psytrance que eu entendi que eu conseguiria seguir no ramo da música, do jeitinho que sempre pensei quando criança. O GOA pra mim é a vertente mais completa neste gênero tão maravilhoso e rico. Desde a primeira vez que eu escutei, me sinto em completo transe em cada track, como se cada átomo do meu corpo se conectasse com o meu Eu Superior, quase como uma meditação. Pra mim, admirar um bom GOA, vai além de qualquer explicação, pois as melodias te levam a acessos mentais que você talvez nunca tenha tido antes, te mostrando o seu verdadeiro Eu.

Como foi o processo de aprendizado durante esses últimos quatro anos de estudo de mixagem? Teve algum desafio ou momento marcante que te fez evoluir como artista?

Foi difícil, pois eu tinha uma grande dificuldade em confiar nos meus ouvidos, mas com muita pratica, aulas,  força de vontade e persistência, fui dominando cada vez mais essa arte. Quando decidi tocar goa, a grande maioria do que eu tinha aprendido, não se encaixava com a mixagem necessária para o GOA, então busquei me aprofundar cada vez mais e confesso que ainda sigo estudando. Ao mesmo tempo que o goa tem suas particularidades na mixagem, percebo que ainda sim há muita liberdade, meus amigos DJs de goa, me ensinam cada vez mais e me mostram as infinitas possibilidades que essa vertente nos dá.

Em 2024, você sofreu a perda do seu pai, que era uma figura tão importante na sua trajetória. Como isso impactou sua relação com a música e influenciou sua decisão de levar adiante o legado dele?

Bom, eu confesso que foi uma das piores fases da minha vida, Não tê-lo mais aqui para me apoiar e ensinar, tem sido bem difícil. No começo eu pensei em desistir de tudo e não insistir mais nisso, mas conforme as fases do luto foram passando, eu percebi que na verdade eu tenho que continuar tentando, continuar o que ele já começou. Hoje em dia, ele tem sido minha principal fonte de força! Em cada apresentação minha, eu sinto que ele está escutando de algum lugar, torcendo e vibrando por mim.

Suas apresentações têm uma energia única e uma vibe bem característica, com as danças engraçadas e o visual de Chapeleira Maluca. Como surgiu a ideia desse alter ego e o que ele representa para você no palco?

Ela surgiu em um momento bem escuro e solitário da minha vida. Após a morte de meu pai, me encontrei completamente perdida e sozinha. O meu renascimento desta fase tão ruim, me fez perceber que sim, eu sou louca, e daí? É isso que me torna diferente, é isso que eu sou. Me vestir de chapeleira é quase como dar voz a alguém que estava repelida e escondida a um bom tempo. Ela não sente vergonha, ela não liga pro que acham dela. Ela é feliz e autêntica.

Você está se dedicando à produção musical atualmente. Pode nos contar um pouco sobre como está sendo essa nova etapa e o que podemos esperar do lançamento que planeja para homenagear seu pai?

No momento estou apenas estudando e me aperfeiçoando naquilo que me faz muito bem. Confesso que produzir tem me feito evoluir muito! Mas eu entendo que cada passo precisa ser estudado e não tenho pressa em nenhum lançamento, pois sei que o momento certo virá. Minha maior meta é lançar um álbum com algumas músicas que o meu próprio pai escreveu! Achei um caderninho de anotações de músicas dele e será uma honra trazer isso nas músicas. Podem esperar um som novo, com muitas melodias e instrumentos brasileiros! Será uma honra representar assim.

Como surgiu o convite para participar do projeto Sound Sisters? O que essa experiência significou para você e como tem impactado sua carreira?

Foi um convite feito pela minha amiga/mãezinha, Zandza Berg, feito em Abril deste ano, para a 3a edição! Fiquei extremamente feliz! É uma honra poder fazer parte desta história, um movimento tão necessário na nossa cena atual! Nossas ideias fluem de uma forma linda e natural. Tenho aprendido muito nesse processo todo e é sem dúvidas o maior projeto que já fiz parte, o nosso propósito tem sido atendido pelo público e reconhecido até fora do Brasil! E sem falar das oportunidades que conseguimos gerar pras manas. É divertido demais estar nessa família tão linda! #maisminasnoline é o nosso grito de guerra!!!

A cena GOA no Brasil ainda enfrenta desafios para ganhar mais espaço nos festivais. Como você e seus colegas têm trabalhado para mudar essa realidade?

Sinceramente? Estamos nos divertindo demais! Levando muita música boa por ai e encantando cada vez mais a pista. Infelizmente, para os produtores de festa o GOA não traz retorno financeiro, uma pena, pois sempre que tem goa, a pista reage da melhor forma possível, quem não ama goa ou é chato ou ainda não escutou a track certa. Atualmente temos a nossa maior referência em pvt de GOA, a APEXGOA! Criada pelo meu amigo e companheiro GoApice! O cara nos traz os melhores nomes do nosso cenário brasileiro. Um festão mesmo! E seguiremos passando a palavra do goa pelas festas, comentando em posts dos festivais, compartilhando as pistas gringas, para que quem sabe um dia, fazer essa cena tão linda virar aqui no Brasil.

O movimento “é goa neles” está ganhando força. Como você enxerga o futuro do GOA no Brasil e o papel que você desempenha nesse cenário?

No meu mundo perfeito, eu vejo muitos nomes tanto gringos, quanto da cena brasileira, colorindo os LINES do Brasil todo. Vejo muitos produtores musicais bons, conquistando as paradas musicais, mostrando pro mundo que aqui também cultivamos essa cultura tão linda e completa.  Pode perceber, todo mundo que ama goa é legal e divertido, faz parte!

Se você pudesse descrever a sensação de tocar uma pista de GOA pela manhã, como faria? O que você quer que o público sinta ao ouvir seus sets?

É INCRÍVEL! Todo mundo muito feliz, dançando da forma mais sincera, se entregando para a melodia e deixando ela te levar a lugares que você nunca tenha alcançado antes. Sempre quando estou montando um set, penso exatamente na vibe que aquela track trás. Então gosto de fazer um set dançante mas que ao mesmo tempo, tenha momentos de introspecção e meditação! Uma experiência completa para aqueles que se entregam à música.

Quais são os seus próximos passos como DJ e produtora? Há algum objetivo ou sonho que você ainda quer alcançar na sua carreira?

Atualmente estou trabalhando em um lançamento muito legal para a virada do ano! Um projeto novo de acid techno, chamado de Acidrum, que já tem uma gig importante marcada. É um novo momento para todos os meus projetos, tenho me empenhado bastante para evoluir cada um deles. E no final, todos estão conectados e vai ser uma honra cada encontro no futuro. Vou estudar e trabalhar  muito durante o próximo ano para trazer cada vez mais lançamentos e metas alcançadas! 

Por fim, que mensagem você deixaria para quem está começando agora e deseja construir um espaço na cena Psytrance, especialmente no GOA?

Continue. Se esse é realmente o seu propósito, siga firme e persista. O Network virá como consequência do seu esforço. E também me disponibilizo a ajudar no que for preciso, pois aqui há espaço para todos nós.

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Dih Aganetti

Editor-executivo e Repórter
Edição de Texto: Orly Fernandes

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