De Belém ao topo da cena eletrônica, Luíza Lauzi reflete suas vivências intensas e sonoridades orgânicas em sets vibrantes e produções inovadoras
Luíza Lauzi é o novo nome que está transformando a cena clubber com sets emocionantes e produções ousadas. Vinda de Belém, a DJ combina vivências intensas e uma paixão inata pela música, resultando em um trabalho que é pura energia. De festas típicas paraenses ao estrelato na cena eletrônica, sua trajetória reflete autenticidade e uma busca constante por novas sonoridades.
Representando a essência vibrante da sua cena, Luíza Lauzi é uma DJ REVELAÇÃO que personifica conexão e identidade sonora. Com um estilo que mescla inovação e emoção, ela conquista pistas de dança e corações. Sua trajetória reforça como a cultura eletrônica é um espaço de transformação e pertencimento.
Nesta entrevista exclusiva para a Colors DJ Magazine, Luíza compartilha como sua conexão com o Carimbó, o Dark Prog e o Downtempo moldaram sua identidade musical. Da infância em Belém ao lançamento do seu EP pela Oke Records, ela revela os altos e baixos que impulsionaram sua carreira. Descubra as influências que guiaram essa DJ REVELAÇÃO e deixe-se inspirar por sua energia contagiante e sua visão única da cena eletrônica.
Como foi crescer em Belém do Pará? Você se lembra de alguma experiência que marcou o início da sua relação com a música?
O Pará tem uma cultura musical muito forte, então, por mais que os meus pais não tenham me trazido tantas referências musicais, outras pessoas da minha família traziam e as pessoas que fui conhecendo ao longo da vida, também. O povo paraense é caloroso, ama música, cantar e dançar, então mesmo se (loucamente) eu quisesse, não teria muito “pra onde fugir” e acho que o mais legal de viver em sociedade é justamente ter acesso à cultura.
Agora quando penso em início… sinto que ele está em tantas coisas… e existem tantos. Mas vou falar de uma festa que tem muito a ver com a cultura do Pará, uma das que me trouxe bons insights e entendimentos sobre como a música é poderosa em seus efeitos. Chamava “Fiteiro”. Era sensacional! Tocava guitarrada e carimbó, duas sonoridades paraenses muito fortes, cheias de energia e calor. As experiências nesse rolê sempre foram muito perceptivas; eu me embasbacava de observar a forma como o ritmo elevava a energia das pessoas, que de corpo e alma dançavam, sorriam e vibravam… era poderoso demais. Saudades, Fiteiro!
Aos 15 anos, você teve sua primeira experiência morando longe de casa, em um internato no interior de São Paulo. Como essa vivência influenciou sua trajetória pessoal e musical?
Esse momento da minha vida foi bastante conturbado, eu fui passar esse momento no internato em um contexto não muito legal, era contra a minha vontade e isso me afetou bastante em muitos aspectos emocionais. Acabou que foi um período que não despendi muita energia na música. Em contrapartida, também foi importante para aprender diversas coisas sobre mim e sobre o mundo… e aprendizado é uma soma, né? Com certeza levo comigo tudo o que aprendi e essas marcas também se traduzem na música.
Apesar de não haver uma cultura musical forte em sua casa, o seu irmão teve um papel importante na sua formação. O que ele te apresentou e como isso moldou os seus primeiros passos no universo da música?
Meu irmão me mostrou como era o mundo na internet… música, jogos e animação. Eu fui conhecendo o gosto pessoal dele e encontrando o que eu gostava também. Logo, eu me vi jogando Ragnarok e amando fazer isso, mas o que tornava o jogo mais legal ainda era ouvir (no fone de ouvido) as músicas que eu gostava, enquanto jogava. Eu realmente passei muito tempo jogando e ouvindo música hahaha… era a minha maior diversão.
Você mencionou que bandas como Slayer, Megadeth e Pink Floyd abriram portas para novos estilos musicais. Como foi navegar por tantos gêneros diferentes e o que isso te ensinou sobre sua identidade sonora?
Aprendi que a variedade de sons no mundo podem se conectar fortemente a momentos, ideias, cenários, sentimentos, desejos… sinto que fui explorando diversos gêneros musicais desde sempre porque também fui associando às coisas que estava sentindo ou buscando sentir. Lembro que eu ouvia metal quando estava em uma fase que eu sentia muita raiva pelas injustiças do mundo. Ouvir metal me ajudava a extravasar essa energia.
Em 2015, ao ir ao Lollapalooza, você teve o primeiro contato com o palco eletrônico. Como essa experiência influenciou sua visão sobre música eletrônica, mesmo que na época ainda houvesse algo “faltando”?
Eu já super escutava música eletrônica no fone de ouvido, mas nunca tinha experienciado uma festa que tocasse. Então foi super interessante ver como funcionava na prática, observar a multidão curtindo e entender que havia um cenário possível de fazer parte.
A pesquisa musical foi uma parte importante da sua jornada. Como esse hábito de descobrir sons ajudou a refinar seu gosto e moldar seu caminho como DJ?
Com tempo de pesquisa eu fui entendendo melhor o que me agrada, o que me inspira e gera desejo de conectar. Fui coletando coisas demais até entrar no movimento do “menos é mais”; aprendi a valorizar muito mais a qualidade ao invés da quantidade e isso me guia quando toco, pois tudo o que toco, me toca. O objetivo é estar conectado, sempre!
Em 2016 você começou a frequentar raves. O que mais te marcou nesses eventos?
Logo de cara achei muito massa a energia de comunidade, a galera trocando, sendo amigável e inclusiva. Achei massa demais ver o acampamento, a cozinha comunitária, todo mundo junto e misturado… e como eu adoro estímulos, psicodelia, natureza e música, parecia realmente o paraíso hahaha. Foi o ponta-pé para eu querer ser DJ, pois comecei tocando justamente os sons que eu curtia nas raves: Dark Prog, Full On e Goa.
Em 2018, você comprou sua primeira controladora e começou a experimentar estilos. Como foi esse processo e qual foi o maior desafio?
Foi bastante desafiador! Eu tinha muita vontade de tocar, mas não sabia nada de nada, não entendia praticamente nada de música nem sobre como ser DJ, então basicamente eu fui fuçando para entender o cada botão fazia e experimentando. Fiquei nesse mood por bastante tempo, até começar a estudar teoria e técnica em 2021.
O Universo Paralello em 2019 foi um divisor de águas. Como as sonoridades do Organic/Downtempo abriram novas possibilidades?
Eu fui pro UP 15 em um momento em que eu estava muito conectada com o trance, tocava trance e criei muita expectativa sobre essa vivência. Ao chegar lá, vi que as possibilidades eram muito maiores do que eu poderia imaginar. Para mim, foi super importante o tempo que passei no Chill-out e no Up Club, conheci uma linha de som nova e que me agradou pelos contrastes e diferenças que tinha em relação ao trance. Essa experiência me abriu a mente para entender que as possibilidades são infinitas e que eu deveria buscar mais sons.
Durante a pandemia em 2020, você aprofundou sua relação com a música. Como foi isso?
Esse período foi bastante difícil em muitos aspectos, né? Por causa de toda a vulnerabilidade que a pandemia trouxe, mas para além disso, eu pessoalmente estava experimentando o pós-faculdade, buscando entender quais seriam os meus próximos passos, também tinha terminado o relacionamento mais longo e profundo que havia tido. Parece que todas as coisas se juntaram e eu senti que eu precisava expandir, aprender, estudar, conhecer mais a mim e como me conectar com o mundo. Eu já idealizava me mudar para São Paulo desde meados de 2014, então quando chegou 2020, senti que “a hora tinha chegado”, comecei a aproveitar o tempo que tinha em casa e foquei em estudar muito e em direcionar minha energia ao objetivo de me mudar. No final das contas, resultou em aprendizado e isso me trouxe mais certezas do que busco pros meus caminhos na música.
Em 2021, você se mudou para São Paulo e iniciou o projeto Luíza Lauzi. Como foi conciliar Psicologia e Música?
Não demorou muito para eu entender que precisava escolher um caminho pra focar. Eram duas coisas que exigiam muito da minha dedicação, mas a decisão definitiva veio após eu compreender que a Psicologia Clínica só exigiria cada vez mais da disponibilidade dos meus ouvidos, ao passo que a vontade de usa-los para música estava cada vez maior. Demorei um tempo para aceitar que eu desistiria de algo que já jamais imaginaria desistir, mas apostar na vida que escolhi para mim, foi maior e foi o suficiente para eu tomar a coragem que precisava. Um tempo depois eu encontrei um outro trabalho, o qual me permite distribuir melhor o foco e, o mais importante, deixa os meus ouvidos disponíveis!
Sua primeira GIG de Techno aconteceu em 2022. Como foi essa experiência?
Eu fiquei suuuper nervosa hahaha… foi super louco! Estava feliz demais por saber que esse momento tão esperado havia chegado, foi mega gratificante, mas estava super nervosa e saí de lá sabendo que eu precisava estudar e treinar muuuito mais. Saí sabendo que os esforços mal haviam começado. Foi super importante essa experiência, pois foi o primeiro contato que tive com a experiência de “colocar no mundo” o acervo de músicas que eu estava criando. Pude entender melhor que tem coisas que soam muito bem no fone de ouvido, mas talvez não tanto numa pista.
Em 2023, você começou a produzir música e, em 2024, lançou uma faixa pela Oke Records. O que esperar do EP?
Acredito que não é uma transição, mas sim uma soma. Estudar sobre produção musical me ajudou a entender sobre construção das tracks, timbragem, estética e, principalmente, sobre o meu próprio gosto, características essas que estão sempre presentes nos meus sets. Quanto ao EP que vem por aí… eu acredito demais que o processo criativo é fluido e que tudo pode mudar de um dia pro outro, numa brisa que bate forte e redireciona os caminhos. Tipo quando a track está quase pronta, mas no último dia bate uma ideia, você mexe num timbre, num parâmetro ou numa sequência e com isso já dá outro caminho pro bagulho… então não há como saber exatamente o resultado dele, mas o caminho com certeza envolve muita experimentação. Penso que se há algo que se pode esperar, é a imprevisibilidade.
O que te inspira no momento e quais objetivos você quer alcançar na cena musical?
Eu sou sentimental por natureza, tenho muito apreço pelas sensações… então após tocar em lugares que no final das contas percebi que não senti nenhum tipo de identificação com a proposta do evento, compreendi que seria necessário direcionar melhor as minhas escolhas. É interessante pensar que existe uma linha tênue entre se adaptar a um evento e mudar a estética do seu som. Por isso, atualmente, tenho buscado a identificação como primeiro requisito para aceitar uma GIG, assim como aprendi a valorizar muito mais a qualidade do que a quantidade. Tem me inspirado bastante saber que isso é, de fato, possível. As últimas GIGs que tive foram super interessantes, pude me conectar bastante com a minha pesquisa e com a pista. A entrega e a troca foram super positivas e saber que isso, além de possível, é algo que estou vivendo no presente e recebendo feedbacks positivos das pessoas, me deixa super animada para continuar. Pretendo alimentar cada vez mais esse tipo de troca, pois o sentimento é de que esse é o caminho que quero seguir!
Que mensagem você deixaria para leitores que sonham em seguir na música eletrônica?
Acredito que não é uma transição, mas sim uma soma. Estudar sobre produção musical me ajudou a entender sobre construção das tracks, timbragem, estética e, principalmente, sobre o meu próprio gosto, características essas que estão sempre presentes nos meus sets. Quanto ao EP que vem por aí… eu acredito demais que o processo criativo é fluido e que tudo pode mudar de um dia pro outro, numa brisa que bate forte e redireciona os caminhos. Tipo quando a track está quase pronta, mas no último dia bate uma ideia, você mexe num timbre, num parâmetro ou numa sequência e com isso já dá outro caminho pro bagulho… então não há como saber exatamente o resultado dele, mas o caminho com certeza envolve muita experimentação. Penso que se há algo que se pode esperar, é a imprevisibilidade.