Das raízes sergipanas aos maiores clubes e festivais internacionais, dry leva a cena brasileira para o mundo com autenticidade e impacto
Da infância em Aracaju a ter suas músicas reproduzidas em em clubes e festivais renomados como Mamba Negra, Hör Berlim e Tomorrowland, dry leva sua história e identidade para cada produção. De Sergipe, vem trilhando seu caminho de forma independente, buscando inspiração na cultura local e nas experiências de sua própria vida. Com uma estética futurista e referências regionais, dry se destaca ao misturar elementos do funk brasileiro com a energia das pistas de dança globais, criando uma assinatura sonora única e poderosa.
dry representa com autenticidade a cena musical underground brasileira, trazendo consigo a força das sonoridades sergipanas e o groove do funk nacional. Em meio a um cenário competitivo e desafiador, conquistou o público com suas produções cativantes e com sua presença intensa nas pistas, explorando a fusão de ritmos e gêneros de maneira inovadora. Sua trajetória reflete o espírito do underground, com uma abordagem única que conecta suas raízes regionais ao universo da música eletrônica global.
Nesta entrevista exclusiva, dry compartilha momentos marcantes de sua vida e carreira, desde as primeiras influências em Aracaju até suas apresentações em festas icônicas pelo Brasil e pelo mundo. Fala também, sobre o impacto de suas músicas em grandes sound systems internacionais, a dificuldade de capitalizar o sucesso e os desafios de se manter presente no cenário underground. dry também revela suas inspirações, como a influência da artista SOPHIE, e oferece uma visão sobre o futuro, com novos EPs e colaborações. Acompanhe a conversa para conhecer de perto nossa REVELAÇÃO que transforma cada experiência em música e cada palco em uma extensão de sua própria história.
Quando você percebeu seu primeiro interesse por música? Houve algum momento ou pessoa em sua infância que o inspirou a seguir esse caminho?
Desde criança eu costumava acompanhar minha mãe nos recitais onde ela cantava e meu pai nos shows da banda gospel que ele tocava, então sempre tive esse interesse, sinto que sempre estive no palco, mesmo que atrás da cortina.
Como foi crescer em Aracaju, e de que forma a cultura local influenciou seu gosto musical e suas primeiras experiências na música?
Crescer em Aracaju moldou muita coisa em mim. Lá a gente cresce ouvindo, querendo ou não, arrocha, pagode e forró. Mas confesso que as minhas primeiras memórias experienciando música foram com minha avó Letice, que vivia me ninando com cantigas regionais e foi ali onde comecei a entender rimas, métricas e compassos diferentes.
Quando você começou a se interessar por produzir música de forma independente?
Por volta dos 13 anos, eu já experimentava fazer remixes e comecei com o VirtualDJ. Depois, com o FL Studio, fui criando minhas primeiras músicas, explorando tutoriais no YouTube.
Em que momento o funk brasileiro e as referências regionais sergipanas começaram a se misturar nas suas produções?
No final da adolescência, fui atravessado pela experiência de ser um corpo fora da norma. O funk tinha uma trilha sonora intensa para mim, e essa conexão natural me fez querer criar algo novo.
Como você descreveria a estética futurista que compõe suas músicas? Houve alguma inspiração ou artista que ajudou a moldar esse estilo?
Acredito que o futuro em termos sonoros pra mim está nesse lugar de estranheza e imprevisibilidade, mas sempre referenciada, não aleatória. Minha maior inspiração pra isso foi e é a SOPHIE, com seu som minuciosamente desenhado e texturas desafiadoras.
No começo, como foi o processo de levar suas produções para as pistas e ganhar espaço na cena underground? Você se lembra de uma primeira apresentação que marcou sua carreira?
No começo em Aracaju, era difícil ter a chance de tocar por não existir uma cena que fomentasse o tipo de som que eu produzia, então demorei muito pra ter coragem de tocar minhas próprias músicas. Com o passar do tempo e minha existência no Soundcloud fui percebendo pelas redes sociais que minhas tracks já estavam sendo tocadas Brasil afora e foi só aí que comecei a ter coragem de tocar minhas produções em pistas. No meu último djset morando em Aracaju, numa festa chamada Undercity, lembro de ter aberto o set com minha autoral mais famosa na época e pra minha surpresa a maioria das pessoas já tinha ouvido em algum lugar e ali me dei conta de que talvez fosse a hora de alcançar novos horizontes.
Quais foram os desafios e as conquistas de fazer sucesso no SoundCloud e conquistar o público das festas independentes e undergrounds no Brasil?
Meu maior desafio é me tornar visível e até hoje tento me fazer presente através da quantidade de tracks que posto (atualmente já são mais de 150 postadas). Nos últimos dois anos tenho postado em média uma track nova por semana, seja collab, autoral ou set e isso faz com que meu público do soundcloud esteja mais próximo de mim e já espere uma constância de movimento. O underground brasileiro é, talvez, um dos cenários mais competitivos e injustos que existem, então estar inserida nele me dá a sensação de que de alguma forma, o que eu to dizendo musicalmente tá sendo entendido por alguém.
Como é a sensação de ver suas produções ganharem espaço em sound systems icônicos como o da Mamba Negra e também em lugares internacionais como Hör Berlim, Berghain e até no Tomorrowland?
É surreal o sentimento de ver algo que eu fiz sozinha no meu quarto sendo tocado nos maiores sound systems do mundo, literalmente me arrepio. Apesar de ainda encontrar dificuldade de capitalizar isso, ver isso acontecer me dá o gás necessário para continuar tentando além de alimentar a pequena esperança de conseguir alcançar tais espaços de forma presencial.
Nos últimos meses, você se apresentou em festas como Buero, Fluvoxx, Nauzya, Beco 54 e Passacaum. Qual dessas apresentações deixou uma marca especial?
A Buero, em São Paulo, tem um lugar bem especial pra mim, antes de sonhar em me mudar e viver de música a festa já tinha alcançado meu ciclo social e já era um evento que eu queria experienciar e aí ter conseguido me movimentar, ser vist a ponto de rolar o convite pra tocar lá, foi emocionante.
Você se considera um representante da cena musical brasileira em uma perspectiva global? Como é levar as influências sergipanas e o funk brasileiro para o mundo?
Sim, apesar de ter um pouco de receio desse tipo de autoafirmação, confesso que já é inevitável admitir pra mim mesmo que sirvo de referência sonora tendo em vista todos os locais que minha música já alcançou e tendo recebido tantos feedbacks e confirmações disso, seja por ver quem me ouve, quem me toca e quem compra minhas tracks no bandcamp. Esse local é muito especial pra mim, porque todo o meu trabalho é fruto de muito esforço, estudo e acima de tudo amor e respeito a quem sempre esteve lá comigo, na rua sem asfalto e alagada do Rosa Elze, em Sergipe.
O que você acredita que diferencia seu trabalho e sua presença como artista no cenário atual?
Acredito que meu diferencial esteja na sinceridade que eu comunico quando estou tocando, não há momento onde eu consiga me sentir mais presente na vida e agora já tendo muito tempo de estrada, consigo afirmar que as vezes nem me reconheço quando vejo vídeos meus tocando, parece mágico. Tenho muito a sensação que a importância do meu corpo e do corpo de pessoas como eu esteja baseada na liberdade que a música nos traz, como seres humanos. Um lugar libertador onde a pista se torne expressão é e sempre vai ser um dos meus maiores objetivos.
Quais são os seus próximos passos? Existe algum projeto ou parceria que você possa compartilhar conosco?
Em 2024 lancei 3 EPs de vertentes completamente diferentes, além de várias collabs e tracks individuais. Nos próximos meses pretendo soltar mais EPs experimentando nichos mais polares e me desafiando cada vez mais a comunicar minha identidade sonora no máximo de linhas possíveis. Tenho algumas colaborações quentinhas no forno, nacionais e internacionais, mas a que mais to ansiosa pra que todo mundo ouça é definitivamente minha próxima track com a Mílian Dolla (@miliandolla), minha amiga talentosíssima.
Se você pudesse voltar ao tempo e conversar com a dry que estava começando em 2010, qual conselho você daria a ela?
Eu diria pra ela que se prepare, vai ser muito mais difícil do que parece e eu sei que já parece impossível, mas em alguns momentos tudo isso vai parecer valer a pena e é nesses momentos que você deve se agarrar. Aproveite sempre cada troca real com cada um, não duvide tanto de você e por favor, pegue mais leve, você já faz muito com muito pouco. Obrigado por tanto.
O que você gostaria de dizer para quem está acompanhando sua trajetória e se inspira na sua jornada na música?
Eu só tenho a agradecer a todo mundo, obrigado por me permitir continuar, agradeço por todos os momentos compartilhados, sem vocês eu não estaria aqui e eu prometo que eu ainda vou orgulhar vocês muito mais. Cada play, cada vídeo, cada presença em front, cada interação, cada sorriso e abraço. Vocês são a razão de eu ainda estar aqui.