A revelação do mês, na categoria Clubber, é a DJ AYA. Natural de Jundiaí, interior de SP, ela chegou à capital para fazer a pista transcender com toda a sua elegância, sofisticação, mistério e luxo. Quando pensamos em Underground, logo nos vêm à mente a ideia de um submundo denso e pesado, mas o Under que essa moça entrega nas pickups é oposto disso: é aéreo, deslizante, sexy, feito para quem mantém o plexo solar aberto mesmo durante a noite, flertando com a lua e com os bilionários da máfia. Digamos que não remete ao bom e velho Underground dos porões, mas ao refinado submundo das coberturas com heliporto.
“Eu transito por vertentes totalmente diferentes porque eu acredito que não devemos nos limitar a um só estilo.” – AYA.
Lirismos à parte, por trás do nome artístico “AYA”, temos Tika Santoro, que além de DJ também é produtora de festas e deixou a marca de seus dedinhos mágicos em várias produções de sucesso em SP, principalmente nas cenas do house, tech house, melodic house e progressive house. Vale ressaltar, no entanto, que a fada das madrugadas estreou recentemente tocando Tribal em uma live da Stars Group Brazil. Será que podemos alimentar as esperanças de curtir AYA na ferveção? Vamos descobrir.
Falar com você é uma grande satisfação!
Então vamos começar… Me conte um pouco sobre os seus primeiros contatos com a música eletrônica e as inspirações que te levaram da pista para as pick-ups.
Primeiramente gostaria de agradecer o convite e parabenizar a todo time da COLORS DJ MAGAZINE, que vem fazendo um trabalho incrível e inovador com a revista eletrônica.
Fofa! ♥
Bom, desde muito nova frequento festas e me interesso muito por música. Meu primeiro contato com a música eletrônica foi ainda na adolescência, aos 13 anos. Na época o que predominava era a house e dance music, que desde sempre amei! Aos 18 anos comecei a conhecer as baladas e a entender ainda mais desse universo. Sempre tive um encantamento pela sonoridade e ela sempre fez parte da minha vida.
Sobre referências e inspirações me vêm vários nomes, artistas de vários estilos, mas quem eu posso dizer que foram os primeiros a me fazerem pensar em trabalhar com música foram os que hoje tenho o prazer de colaborar na mesma agência de DJs: os mestres Paulo Pacheco e VLAD, e o maravilhoso Renato Cecin. Eles sempre criaram cenários maravilhosos através da música, são artistas essenciais e ímpares em fazerem os momentos serem incríveis. Agora, quando penso no geral, tenho referências muito importantes e modificadoras na minha vida, como Peter Rauhofer, Armin Van Buuren, Above & Beyond, Vintage Culture, Evokings, Camelphat, ART BAT, Bob Sinclair, ZAC, e não poderia faltar as mulheres: Jessica Brankka, Nina Kraviz, Aline Rocha e Eli Iwasa. Sou fã de verdade!
Tal como o seu som, “AYA” é um nome ao mesmo tempo charmoso e misterioso. Qual a origem dele?
Na época, eu estava há uns dois meses pensando sobre que nome levaria esse meu novo projeto de vida, mas esse nome (AYA) me veio logo de cara, eu só não tinha tanta certeza se seria ele… Meus amigos insistiram para que fosse “DONNA”, que, segundo eles, tinha a minha cara, mas, mesmo ficando dividida em um primeiro momento, o nome AYA não saía da minha cabeça. AYA me remete à natureza, que eu tanto amo! Daí, quando fui pesquisar seu significado, o encontrei na simbologia africana: significa força, coragem, perseverança… É também o nome de uma deusa acadiana.
De fato, Aya é a esposa do deus do sol. Nada mais significativo que fazer dela uma mulher da noite… Legal, Tika! E se você pudesse elencar um mestre na sua jornada como DJ, quem seria?
Sem sombra de dúvidas, ele, que é meu amigo e foi meu professor no curso: o DJ VLAD. Eu, que já era fã desde 2008, soube que ele iria abrir a DJ CLASS, escola de cursos para DJs, e logo corri pra garantir a minha vaga e ser uma das primeiras alunas dele. E durante todo o processo do curso, vendo de perto o que eu já admirava das pistas, todo o domínio e a técnica que ele tem de sobra, além do ouvido apuradíssimo, virei ainda mais fã.
Dois selos notáveis do universo AYA são a festa Drinks e o d’Quinta, que acontecia no Igrejinha. Me fale sobre a importância deles na sua trajetória.
Ah, me enche de alegria e orgulho falar desses dois projetos que eu tanto amo.
Em 2017 o meu amigo e produtor – que hoje também é um dos sócios da Stars, agência e produtora de eventos da qual faço parte do casting – Fabiano Carvalho e eu criamos o projeto DRINKS, que teria também como parceiro o produtor de eventos Thiago Torres. O projeto visava descobrir e dar oportunidades a novos talentos da cena eletrônica, além de levar nosso público para diversos lugares fora do roteiro tradicional de festas, já que é uma festa itinerante.
Ser produtora da festa me trouxe uma experiência incrível. Eu, que antes sempre
acompanhava tudo como público, pude ter essa oportunidade de estar nos bastidores, o que foi uma grande escola! Desde decidir o local da festa, criar o line, convidar os DJs, ir atrás de parceiros e, claro, convidar e receber os convidados. Aprendi muito com essa troca! Creio que foi exatamente por isso, por estar nos bastidores e estar tão perto dos DJs e desse universo, que eu quis saber cada vez mais das particularidades dessa profissão. Foi uma época sensacional, me sinto grata por ter feito parte!
O d’Quinta surgiu no ano seguinte, projeto do Fabiano. Se antes criamos a DRINKS porque sentíamos falta de algo nas tardes de sábado, aquela era a hora de explorar as quintas, que era um dia em que gostávamos de sair e não tínhamos muitas opções. Foi aí que surgiu a oportunidade de fazer no Igrejinha Bar, lugar onde amamos a parceria e a energia. A ideia era uma festa dedicada à house music. Pudemos resgatar diversos estilos, tanto com novos DJs como com DJs renomados. Era uma aula a cada quinta-feira! Tenho que admitir que foi um SUCESSO e morro de saudades.
Além do House e suas vertentes, como residente da festa DONNA você apresenta um trabalho bem diferenciado. Me conte um pouco sobre essa sonoridade e sobre esse nicho da cena eletrônica.
Então o nome que surgiu como uma das opções do meu projeto como DJ, se tornou o nome de uma festa que fizemos no Igrejinha Bar: a Festa DONNA. Com o sucesso do d’Quinta, vimos a necessidade de criar mais uma noite, mas dessa vez com uma pegada diferente, uma noite só com DJanes no line, que tinha como residentes as maravilhosas Pauli e Natália Vianna (NAAT). E foi aí que começaram os desafios, porque além de estrear como DJ na festa eu também teria minha primeira residência, tocando um som totalmente diferente do que vínhamos fazendo em outras festas. Como a ideia era uma pegada lounge, low bpm, nas nossas pesquisas incluímos sonoridades diferentes, como Chill Out, Hedkandi, Soul Full, Jackin House, referências do Café Del Mar, entre outros estilos. Apesar de desafiador, foi incrível logo de cara poder experienciar tantas novidades, mergulhar nessa sonoridade maravilhosa… Vou levar pra vida!
Pouco tempo depois de sua estreia como DJ, veio a pandemia. Para você, qual foi o impacto desse break forçado?
O impacto foi gigante! Eu havia começado há poucos meses, estava naquele gás de querer tocar. No começo da pandemia não dava pra imaginar que demoraria tanto tempo de proibição dos eventos. Foi muito difícil manter a positividade em relação a isso… A saúde mental entrou em turbilhão! Creio que a música foi uma grande aliada nesse período, ouvi muita coisa diferente e abri a mente para outras sonoridades. Me vi ainda mais apaixonada pelo Progressive House e louca pelo Melodic Techno & House. Isso foi essencial pra eu me encontrar.
Mas esse período teve algo muito especial, fui convidada para fazer parte do casting da Stars Group Brazil. E foi isso que me deu muita força nesse período, tive muito apoio e incentivo vindo da agência, o que me motivou bastante já que mesmo com a pandemia, a Stars se manteve firme e forte nos seus propósitos.
Outra coisa incrível nesse período foi gravar o digital show SENSES, onde toco ao lado dos meus amigos e companheiros de agência BERN e Pauli. Foi bom demais e o resultado ficou lindo. Num período sem eventos esse foi um trabalho que realmente me deixou feliz. Além disso, logo terei mais novidades, pois lançarei um projeto em parceria com o DJ BERN e a Stars. Em breve eu conto, com exclusividade pra vocês.
“E eu tenho uma frase que me guia: ‘Música é experiência sensorial.’” – AYA.
Mesmo com um padrão de qualidade ascendente, é impossível não lembrar do seu primeiro set, que também leva o nome “AYA”. Qual sua relação profissional e emocional com esse trabalho?
Ah, meu primeiro set foi construído de forma muito especial. Ele foi pensado para ser uma apresentação que falaria sobre mim, um passeio pelas minhas referências e estilos, pelos elementos sonoros, pelas sensações que eles causam. Eu transito por vertentes totalmente diferentes porque eu acredito que não devemos nos limitar a um só estilo, acredito que a criação é livre, e prezo por isso. O set AYA fala muito sobre mim, e da melhor forma, ele fala sobre mim através da música. E eu tenho uma frase que me guia: “Música é experiência sensorial.” E é nisso que me baseio, no que a música causa na gente. Esse lema é e sempre será o meu guia.
E o Tribal? Depois dessa aventura na live da Stars, podemos esperar por você nas pistas da ferveção?
Eu aceitei o convite do TBTribal, foi muito legal, mas não pretendo dar seguimento na cena do tribal house… Pelo menos hoje essa é minha decisão.
“Logo terei mais novidades, pois lançarei um projeto em parceria com o DJ BERN e a Stars. Em breve eu conto, com exclusividade pra vocês.” – AYA.
Mas a nossa esperança é a última que morre! E a do retorno dos eventos também. E assim nos despedimos dessa delícia de entrevista com uma citação que está gravada na bio do Facebook e demonstra toda a força feminina dessa talentosíssima Djane:
“Recria tua vida, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.” – Cora Coralina.
Reportagem: Marcos Paulo Moreira (130MPM).