Nossa revelação do mês de fevereiro é uma pessoa que traz toda uma representatividade em seus projetos, gerando inclusão, oportunidades e viabilizando espaços onde a comunidade LGBTQIA+ pode se sentir à vontade para se expressar.
Crédito foto de capa: Anni Farias, Local: Millennium.
Entrevistamos Angel, DJ e produtore de eventos que está a frente do coletivo Millennium. Confira agora mesmo:
Primeiro queremos agradecer a você por nos conceder essa entrevista. Para começar, queremos saber sobre seu começo no cenário eletrônico, como começou a tocar?
Comecei em 2019 junto com minha festa, considero que nasci junto dela, porém antes tinha tocado em 2 ou 3 roles bem intimistas. No começo, eu procurei alguns DJs para me ensinar, porém aprendi sozinhe e aperfeiçoei minha técnica com o Sanchu.
“Ser inclusão é muito além de colocar uma hostess ou um performer LGBTQIA+ no palco…”
Angel. Tweet
Você é super jovem e está liderando um coletivo como a Millennium, núcleo que aborda causas sociais importantíssimas como o universo LGBTQIA+, inclusão social e questões envolvendo respeito e igualdade. Como vem sendo para você estar realizando um movimento tão intenso que certamente se depara com muitas barreiras?
Está sendo desafiador estar à frente da minha festa e ainda mais sendo uma das representantes da cena, sendo uma pessoa de gênero neutro muito jovem, montando projetos grandes, gerando empregabilidade e toda a inclusão que ela gera por si só. Temos uma das maiores listas trans, NB e drag de SP, somos a festa que mais booka DJs, performers e diretores criativos trans da cena.
Ser inclusão é muito além de colocar uma hostess ou um performer LGBTQIA+ no palco, e sim, inserir nas áreas gerais que uma festa pode proporcionar como administração, bar e equipe de segurança, como isso vem sendo realizado em minha festa. Nossa diversidade é ocasional, não procuramos ser assim, apenas existimos e nosso ciclo de amigos, felizmente, é composto por artistas sensacionais.
“A Millennium é sobre um movimento e cheguei nesta conclusão há pouco tempo porque pude observar que geramos tendências na cena…”
Angel. Tweet
E o que é a Millennium? Fale sobre tudo que o coletivo abrange.
A Millennium é sobre um movimento e cheguei nesta conclusão há pouco tempo porque pude observar que geramos tendências na cena e, consequentemente, a relevância da festa cresceu de uma forma surpreendente. Devo isso à nossa singularidade que prezo em cada detalhe desde a arte visual até às minhas curadorias para minha festa.
A Millennium surgiu da necessidade de se criar um novo espaço para novos artistas e novas experiências e foi onde me descobri produtore, fui avançando com o projeto e, por muito tempo, eu banquei a festa 100% sem ter retorno algum. Aliás, eram só gastos que hoje vejo como investimentos. Tornar a Millennium minimamente viva requer uma dedicação real, produzo a festa sozinhe e, até que gosto e prefiro. Com o tempo, pude introduzir meus conceitos metafísicos e pós-humanos na festa onde tudo se transformou em nossa identidade visual e uma outra questão forte é que a Millennium é uma festa de industrial, IDM, Hard Techno, experimental e EBM, post-punk,
Somos a festa cyberpunk de São Paulo.
“Me considero antropofágique, absorvo muito da cena de São Paulo que por si só é tendência para o mundo…Me inspiro em festas por cada uma carregar sua identidade visual e sonora muito única e tenho esse mesmo objetivo de continuar”
Angel. Tweet
Quais são suas inspirações, dentro e fora da música?
Me considero antropofágique, absorvo muito da cena de São Paulo que por si só é tendência para o mundo, temos muitas festas para se orgulhar aqui como Carlos Capslock, ODD, Tantsa, Mamba Negra, Under Division, Blum e Buraco. Me inspiro nessas festas porque cada uma carrega sua identidade visual e sonora muito única e tenho esse mesmo objetivo de continuar.
Me inspiro muito em artes visuais abstratas e disformes, e acabo levando isso para as pistas tanto em visuais imersivos e abstratos quanto em meu som cheio de experimental e com idm distorcido quanto na montagem de luz e performance.
Em minhas referências está Bauhaus, antropologia modernista e filmes conceituados dos anos 80 e 90. Me formei em História em Dezembro de 2020, então sempre carrego uma simbologia com fundo iconográfico.
A estética é algo muito presente em seus projetos, como é esse processo de desenvolver uma identidade estética?
Acho que esse processo é muito único e singular, eu tive uma presença muito forte de referências muito distintas, me inspiro em desde a arquitetura soviética na montagem simétrica da iluminação até em elementos cyberpunks totalmente despóticos e submersíveis que pego de referências cinematográficas como Blade Runner, Prometheus, Ghost in the shell, etc. Me abro a novas possibilidades e a pessoas, então meu trabalho acaba sendo muito fluido cada edição se torna singular e única.
Como DJ, quais sonoridades você costuma abordar?
Eu tenho uma pegada forte no techno industrial, IDM (intelligent dance music) Ebm, post-punk e algumas outras vertentes me inspirei muito em Crystal Castles, Lorn, Arca essas são minhas referências.
“Me considero antropofágique, absorvo muito da cena de São Paulo que por si só é tendência para o mundo…Me inspiro em festas por cada uma carregar sua identidade visual e sonora muito única e tenho esse mesmo objetivo de continuar”
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A Millennium tem um público super jovem, esse fator é interessante pois a festa pode instruir essas pessoas a respeito das causas sociais que a festa levanta. Como é isso para você?
Sim, a maioria do meu público é majoritariamente jovem e novos na cena 65% do meu público tem entre 18/25 anos, e conversando com muitos dos meus dancers, pude descobrir que conheceram o techno na pandemia e acabaram conhecendo minha festa na retomada e este público que se consolidou. Acabaram, também, conhecendo outras festas por meu intermédio; essa é uma das coisas que mais me motivam a continuar minha missão: de levar o techno para o mundo e nunca vou desistir desse meu propósito. Minha festa se transformou em um movimento, existem protagonistas espalhados pela festa, discursos são tomados e acabamos às vezes aprendendo pelas escadas do cinemão ou nos fumódromos da vida. A mesma é uma festa que todos se sentem bem em casa.
Hoje, quais são seus objetivos? Tanto na música quanto no ativismo?
Propagar o máximo minha festa porque este é meu ativismo, proporcionar espaços de verdadeira inclusão e diversidade e acima de tudo entregando uma qualidade excelente. Hoje em dia, pode se dizer que minha festa é uma das grandes festas de SP com toda certeza, e permanecer como a artista que sou porque sei que inspiro muitas pessoas a acreditarem que é possível, sim, criar nossos projetos e transformá-los em referência de qualidade.
Tem algum ou alguns DJs que você gostaria de fazer um B2B?
Depende, não gosto muito de b2b porque minhas referências e tracks são muito singulares, não encontrei ainda um DJ que seja compatível com meu som verdadeiramente, porém como sou tão versátil sonoramente poderia me adaptar a quase todos os DJS. Tenho uma pesquisa vasta, toco EBM, synthwave, darkwave, idm, Pós-punk, ítalo-disco, dark-disco, Acid-House, industrial, Hardtechno, House(antigo).