Bárbara Anastácio

OPINIÃO | “Errar faz parte de evoluir, pedir desculpa faz parte de quem somos”

Há alguns dias me deparei com a opinião de uma colega colunista, que me fez refletir muito.

Quando cursei Psicologia Judiciária, o que eu mais ouvi dos colegas psicólogos é que: o profissional do direito precisa se humanizar.

E de fato, esse é um problema enraizado na minha classe. Ser humano é muito difícil.

Como sou acadêmica (apesar de tentar fugir bastante desse rótulo), é difícil deixar de citar os livros que leio em minhas colunas. Por ser advogada, pautar as minhas reflexões em fatos, decisões jurídicas e estatísticas, faz parte da minha cultura.

Sou cis e também branca, e só por essas características, sou privilegiada sim! Não vivi nem de perto o preconceito de fato, aquele que não só fere, mas que também mata. Nunca fui agredida por ser cis e branca. Posso ter sofrido rótulos, mas nenhum que ofendesse a minha alma.

Uma amiga me disse uma vez “que empatia você adquire com a vivência ou com o estudo.”

Parei para refletir: Quantos amigos ou amigas trans eu possuo? Quantos (as) trans eu conheço mesmo, de conversar, trocar experiências de vida, eu possuo em meu meio social?

Concluí que não havia contato com nenhum ou nenhuma trans.

Convivo bastante com a diversidade. Me sentia engajada, mas não era bem assim. Veio um balde de água gelada, bem na minha cara.

Quando li a opinião de Kukua sobre mim, eu fiquei sem reação e morrendo de vergonha!

A gente fere as pessoas sem intenção. É como dizem: “De bem intencionados o inferno está cheio!”

Nós generalizamos situações e pessoas. Esquecemos que na empatia não cabe julgamento.

Sim, nós cis e acadêmicos estudamos o que não nos é comum. Muitas vezes não é por curiosidade, mas, para tentar ajudar.

Eu quero ajudar e percebi que estava fazendo errado. Eu não tenho lugar de fala quando vou tratar o assunto “identidade de gênero”. Isso não me impede de escrever sobre, mas, eu preciso da opinião e depoimento direto de quem tem esse lugar de fala.

O que as pessoas sentem não está mastigado em livros, muito menos em artigos científicos.

Muito pelo contrário, quando o assunto se trata sobre a dor da alma, pouco sabem os cientistas.

A Psicologia Social entende que o “estereótipo é a base do preconceito”, por se tratar de crenças generalizadas, conscientes ou inconscientes, sobre um determinado grupo ou pessoas.[1]

O estereótipo reduz a necessidade de atenção e processamento de informação do indivíduo. Assim, o indivíduo economiza energia e pode estar atento a outras questões na interação. Ele categoriza e simplifica um mundo social complexo. Outra função do estereótipo está em organizar a maneira como vamos interagir com nosso grupo social ou qualquer outro grupo (Smith e Bond, 1999).

A transfobia é algo sistêmico sim. É cultural e é reproduzido diariamente.

E a comunidade trans está cansada disso!

Quando me referi na Coluna “Indústria do Pink Money” que “Diferentemente do restante da comunidade, como os transgêneros, que – infelizmente – sequer emprego conseguem e, muitas vezes, acabam na prostituição.” Eu errei feio! Isso porque, por uma letra, inconscientemente, generalizei um grupo trans.

Sim, quando escrevi me veio à cabeça “as” transgêneros e escrevi de forma preconceituosa e generalista, mas, totalmente sem a intenção. Se existisse a modalidade dolosa, nessa situação, se aplicaria.

Como eu cometi tal gafe horrorosa, precisei refletir muito em como responder isso! Não tenho que me justificar, errei e errei muito feio.

Reconhecer o erro é uma virtude, acredito.

“O preconceito tem consequências em todos os níveis de vida social; suas marcas permanecem, por isso é preciso entender melhor como ele se expressa, para, assim, sabermos como combatê-lo e saber lidar com o seus estragos”.[2]

Pedi desculpas no privado à Kukua, pela minha ignorância. Tenho muito que aprender e quero aprender!

Venho por meio desse texto trazer o pedido de desculpas público. Não só à Kukua, que teve a sua voz ouvida, mas à todes que por alguma razão se ofenderam com essa frase e com tantas condutas transfóbicas vivenciadas em seu dia-a-dia. Estou em desconstrução e aberta à críticas construtivas.

[1] Psicologia social [recurso eletrônico] : principais temas e vertentes / Cláudio Vaz Torres, Elaine Rabelo Neiva [organizadores]. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2011.

[2] Psicologia social do preconceito e do racismo © 2020 Marcus Eugênio Oliveira Lima Editora Edgard Blücher Ltda.

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