DESTAQUE | Conheça “Milituda”, o novo projeto de Gui Serrano

Homem em pé posando para foto

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Foto de divulgação.

Na nossa primeira edição tivemos um bate-papo superespecial com o DJ Gui Serrano, residente da maior festa pop do Brasil o Chá da Alice e que já dividiu palco com grandes artistas como Pabllo Vittar e Gloria Groove.

“… só não enxerga, não se importa e não sente essa ferida, quem se isenta.” Gui Serrano.

Descubra sobre o seu mais novo projeto, o “Milituda”, criado por ele durante a quarentena e que mistura o sonoro e o visual, trazendo muito posicionamento político e o que ele tem sentido desse momento atual da nossa sociedade. Confira:

Gui, você acaba de lançar o projeto “Milituda”. Como surgiu tudo isso?

O “Milituda” é um projeto que criei para o público que acompanha, ou não, o meu trabalho, para refletirem sobre sociedade, política, amor próprio, problemas do nosso país e erros frequentes. É um projeto que une o sonoro com o visual. O “Milituda” é o meu incômodo com a atual sociedade, com a nossa política tomada por religiosos e militares. É um projeto que eu quero falar “Ei, parem de se distrair com pessoas que não valem a pena, parem de espalhar fake news, de tornar pessoas inúteis famosas ou poderosas, fujam da superficialidade.” Estamos com a nossa democracia por um fio e a gente tem que fazer o que for possível para não perdermos a nossa liberdade.

Mas falando mais profundamente sobre o projeto. O que te motivou a criá-lo?

Desde 2017 estamos vivendo em uma sociedade que beira o fascismo e com as eleições de 2018 sentimos na pele o impacto de que a nossa democracia está por um fio. O nosso país vive um péssimo momento político, crescimento de fake news e manipulações através da internet, injustiças sociais, pessoas pretas assassinadas por policiais que são extremamente violentos, seguimos sendo o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo (essa violência só cresce), a corrupção está escancarada, nossa saúde, educação e acesso a cultura estão cada vez mais enfraquecidas. Tudo isso me motivou a pensar em um projeto que eu pudesse falar tudo através da minha arte, que é a música, mas também através de fotos e vídeos nas minhas redes sociais, com informações e protestos.  

Qual era o seu objetivo quando o criou?

Reforçar que nós existimos, que nós não devemos nos calar. O “Milituda” tem o objetivo de informar, mostrar realidade. É um set que não tem uma leveza nos primeiros minutos e que pode ser um pouco incômodo. É pra pensar e se questionar o que eu faço, ou tenho feito sobre todas essas questões.
O objetivo é fazer com que as pessoas acordem. Eu trouxe músicas clássicas do pop e atuais, que abordam temas como desigualdade social, liberdade sexual, críticas às famílias ditas tradicionais, intolerância, a luta contra o machismo, a importância de termos memória e nunca esquecermos da nossa história, luta contra o racismo e amor próprio, porque se você não se amar, como que você vai amar ao próximo!  
E essas músicas e discursos incluídos no set são extremamente necessários para que as pessoas enxerguem que estamos vivendo um momento triste e extremamente perigoso da nossa história e que só nós podemos mudar tudo isso.

Homem com as mãos na cintura

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“…além de levantar a minha causa tenho obrigação em trazer outras que merecem e precisam de espaço…” Gui Serrano.


Quais foram as suas inspirações e referências para a criação desse projeto?

Como um bom amante de música pop, Madonna e Michael Jackson sempre são as minhas referências, e foram uma das bases para o “Milituda.” O álbum “American Life“(Madonna) é extremamente político, isso me motivou muito com ideias. E assim que comecei a desenvolver o “Milituda”, “They Don’t Care About Us” tocou na minha cabeça, eu ouvi repetidamente e assisti o clipe por várias vezes durante horas e dias. E assim, comecei a fazer uma pesquisa musical e visual que encaixassem com as mensagens que eu queria passar. 
Eu usei referencias políticas e discursos fortes, como o da Marielle em “Diaba“(Urias), que é uma mulher preta, lésbica que veio de uma comunidade e foi eleita democraticamente, porém brutalmente assassinada. Os gritos de Ele Não, o discurso da Pepita em “Free Woman“(Lady Gaga), e até mesmo as frases absurdas do atual presidente na faixa “Fuck You“(Lily Allen), que é um grito de liberdade de expressão e ironia, afinal toda pessoa que tem pensamentos retrógrados merecem um grande foda-se.
Mas também me inspirei em pessoas LGBTQIA+, do meu dia a dia, amigos, conhecidos e até pessoas que sigo sem elas nem saberem da minha existência. Especificamente eu posso te afirmar que me senti inspirado por todos que querem construir uma sociedade justa, com muito respeito e representatividade.

Como foi estruturar esse projeto dentro de um contexto de Pandemia e um contexto político tão conturbado como o atual?

A pandemia tem sido difícil, eu já estava com o “Milituda” estruturado desde que finalizei o “Home Music”, meu projeto de Disco Music que trabalhei nos últimos dois anos. Mas levei quase uns dois meses pra sentar e começar tudo. É difícil viver essa rotina de incertezas e com tanto medo em volta! Mas eu acredito que mesmo com as dificuldades tudo me deu um certo gás, o atual cenário político meu fez enxergar que essa era a hora do “Milituda”, porque o intuito é tocar na ferida, mostrar a ferida e só não enxerga, não se importa e não sente essa ferida, quem se isenta. 
Resumindo, eu acredito que mesmo em dias difíceis, tudo isso me fez reinventar o artista que sou, apesar de todo o caos físico e psicológico. 

Você vê as suas redes sociais como instrumento de propagar ideias e levantar causas?

Definitivamente, eu acredito que fui um dos primeiros DJs de pop que não tive medo de ser afeminado, de ousar em figurinos, quebrar tabus que vivemos na sociedade. Eu faço questão de trazer nas minhas redes sociais temas que mostram o quanto ainda vivemos o machismo e muita intolerância dentro da própria comunidade LGBTQIA+ por exemplo, ajudar causas e pessoas que precisam de visibilidade, dar voz para pessoas pretas explicarem temas como o racismo. 
Eu gosto de expor tudo o que precisamos evitar e tudo o que precisamos manter e aprender. Representatividade é um tema que sempre causa desconforto nas pessoas, mas nunca deixo de falar. A gente só vai conseguir um caminho mais justo para a sociedade através da representatividade, e claro, dentro da diversidade.

Pra você qual a importância de ter uma causa e levantar essas bandeiras usando a visibilidade que você possui?

É extremamente importante! Eu como DJ gay afeminado que tenho espaço, voz e liberdade nas maiores festas pop do Brasil, além de levantar a minha causa tenho obrigação em trazer outras que merecem e precisam de espaço. Não é fácil, ainda vivemos em um mundo onde as pessoas não gostam ou não querem entender a necessidade da representatividade. Mas eu sempre faço questão de dar a visibilidade para todos.  

Você acredita que as pessoas com vozes fortes como a sua dentro da cena LGBTQIA+ ainda utilizam pouco disso?

A cena LGBTQIA+ precisa se fortalecer cada vez mais e estar 100% representativa! Esse é o primeiro ponto. 
A gente precisa aprender que o orgulho LGBTQIA+ tem que ser todos os dias do ano, não só em junho que é o mês celebrado como o da visibilidade. Eu vejo uma movimentação tímida no dia-a-dia, mas ainda não é uma maioria como deveria ser.
Algumas vozes como Pabllo, Glória Groove, Linn da Quebrada, David Miranda, Erica Hilton, Pepita e tantos outros artistas e políticos LGBTs estão conseguindo mudar um pouco tudo isso, criando mais consciência na comunidade e mostrando que nossas vozes existem e que nós podemos sim, e devemos ocupar vários lugares. É necessário verbalizar a nossa existência!

Você acredita que projetos como o “Milituda” podem ampliar essas discussões e assim alcançar um público maior?

Acredito que sim, o “Milituda” vem com esse intuito. É um convite para todos nós militarmos, termos consciência política e social. E as pessoas estão cada dia mais interessadas nessas discussões, então isso acaba crescendo e tomando conta do grande público. 

Agora que já foi lançado, como tem sido a recepção do projeto?

Tem sido bem positiva, o que me traz um certo alívio. Eu fiquei com um certo receio que as pessoas não entenderiam, ou achariam que eu só queria aparecer tipo militante de telão, ou até mesmo não teriam paciência para ouvirem o set. Acredito que estou conseguindo atingir as pessoas de uma forma positiva, como eu projetei. 
Torço para que esse alcance cresça, não só por uma questão de números, mas pela mensagem em si. As postagens também têm tido uma boa repercussão, como por exemplo um vídeo que postei da Pepita falando sobre transfobia dentro da comunidade, que está com mais de 16 mil visualizações. 
O que mais as pessoas têm gostado é que eu não fiz só um set e fotos dentro do tema, eu estou trabalhando esse tema de todas as formas.

Pra finalizar, você já tem novos projetos que já pode dividir com a gente?

Nossa, tenho muitos. Mas vou trabalhar bastante com o “Milituda” porque ainda tenho mais coisas que envolvem esse universo. Acredito que em breve poderemos sair dessa quarentena com segurança, e o “Milituda” vai poder ganhar vida nas noites. Tem muita novidade que vou trazer dentro desta era.
Mas existem projetos para o futuro, temas que preciso falar sobre, em breve e finalmente o Gui Serrano viajando não só em algumas capitais do Brasil, mas também em outros países. Muitas coisas estão por vir. É bom manter o segredo, criar uma expectativa.
Mas podem ter certeza que surpreender, quebrar os limites e inovar fazem parte dos meus projetos. Ser criativo e original fazem parte do que sou, tenho certeza que os próximos passos serão bem interessantes.

Link para ouvir o MILITUDA:
https://linktr.ee/guiserrano

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