ÍCONE | “Acho que sou isso e um pouco “maismais” q isso”

Nossa personagem da noite, Glaucia ++ é uma das maiores personagens da noite alternativa de São Paulo. Quem está no rolê desde os anos 90, com certeza já dançou algum dos seus sets. No comando da festa Cio, a DJ já passou por diversas casas noturnas ícones da capital. 

Conversamos com ela, que é a o Ícone do mês na Colors DJ, representante da cena clubber. Confira agora um pouco mais da história dessa grande artista da noite:

Quando você começou a se interessar pelo ofício de DJ?

Ah, fui ligada à música minha vida toda, desde pequena. Em casa, minha mãe, minha avó e minhas tias sempre ouviam muito bolero e clássicos da MPB. Com meus primos e irmãos, os anos 70 bombavam nas festinhas de aniversários.

Teve alguém em especial que te serviu de inspiração?

Simmm! MauMau, David do Pet Duo e Pil Marques. Eles sempre me incentivaram e fazem isso até hoje.

DJ MauMau e Pil Marques com Glaucia ++ - Foto: Reprodução/Instagram.

Conte-nos um pouco também da Glaucia fora das noites, fala um pouco mais sobre você.

Ah, eu sou uma pessoa de poucas palavras, na verdade (rs). Fora das pistas, gosto de conversar com meus amigos e tem que ser por telefone e não por mensagens (rs). Alguns querem me matar e outros nem me atendem, mas eu insisto (kkkkk). Sou uma mulher hiperativa, então gosto de andar, fazer exercícios, aprender coisas novas, amo cozinhar e aprender ofícios com as mãos. Amo ir ao cinema à tarde, ver séries, mas não tenho televisão há alguns anos, desde 2014. Amo ver o pôr do sol! Desde de que voltei para Santos, em junho de 2020, tento ver todos os dias. Acho que sou isso e um pouco “maismais” que isso (rs)!

E como organizadora da festa Cio, me conta um pouco desse projeto e o que ele representou para você.

Bom, fui chamada em julho de 1997 pelo Reynal Rost, proprietário do The Cube, para fazer uma festa para o público feminino. Na época, era o bar/café/restaurante do momento, então organizei a Festa Cio, que depois virou somente Cio. A princípio, como a festa era dedicada às mulheres (embora fosse permitida a entrada de homens), só trabalhavam mulheres e só tocavam mulheres. Se algum boy quisesse tocar, teria que se travestir de mulher. E isso aconteceu algumas vezes e sempre foi muito divertido! Fizemos isso para a festa não ficar muito segregada. Nunca gostei muito dessa ideia de fazer algo que só mulheres pudessem participar. Sempre achei a mistura muito mais interessante. Então, esse projeto ainda representa muita coisa, na verdade. É uma vida de experiências com pessoas, musicalidade, DJs nacionais e gringos, além de mudanças comportamentais, né? Em 2021, o projeto Cio faz 24 anos e vamos comemorar no dia 03 de julho no clube Jerome, com todos os cuidados e seguindo os protocolos devido à pandemia, é claro.

[Glaucia++ - Crédito foto: @carolinafoeskrieger

E o que você acha da cena Clubbers atual de SP?

Estamos em um momento bem caótico, vários lugares fechando, outros já fechados e alguns sobrevivendo em meio ao caos e sem a ajuda devida desses “desgovernos” federal, estadual e municipal. Mas antes da Pandemia, já estávamos em um momento delicado. Com a mudança de gestão na prefeitura de São Paulo, perdemos muitos incentivos municipais (como alvarás e licenças para ocupação de espaços públicos) e patrocínios para grandes projetos, né? Mas, por outro lado, com a raça e a coragem de sempre, foram surgindo vários coletivos independentes para a movimentação da economia criativa. Tenho a impressão de que, na dificuldade, a criatividade floresce (rs). Afinal, pessoas criativas têm mais facilidade de enfrentar as adversidades.

A Gang, que nasceu em março de 2018, é um desses coletivos. Tem como integrantes “euzinha” DJ Gláucia ++,  DJ MauMau, Roque Castro, AlexdaRobot, Linda Green e NairBamil. O diferencial é que em nossas apresentações sempre fazemos em B2B. Para quem não sabe, são dois DJs se apresentando ao mesmo tempo, cada um com seu CDJ, pick-up ou computador, um mixando a música do outro.

E com tanto tempo de carreira como compara a cena atual com a da época quando começou?

Ah, era muito diferente! Não havia essa globalização, éramos mais segregados e tudo era a base de sair na rua, no boca a boca, distribuindo flyers pelos bares, lojas em shoppings e ruas, por bairros como Jardins e Pinheiros… Era quase como pegar uma pessoa na rua e levá-la para o clube (rs). Depois, no final dos anos 90, vieram os e-mails, Orkut e outras redes sociais. Aí virou o que é hoje, tudo nas nuvens, nada sólido (kkkkkkkk), mas isso facilitou muito a divulgação das festas e do nosso trabalho.

É muito difícil analisar a cena atual por conta da pandemia. Não sabemos como será daqui pra frente, quando e se poderemos voltar à vida “normal”… Mas acho que, como tudo na vida é cíclico, poderemos viver o mesmo lance do início da carreira, quando tudo era novidade. Então, teremos que nos reinventar. E como veteranos, somos e sempre seremos formadores de opinião e de comportamento.

Glaucia ++ tocando em uma edição da Cio - Foto: Reprodução/Instagram

E para encerrar, de todo esse tempo de carreira tem algum episódio que te marcou e que gostaria de compartilhar?

Tem uma cena muito legal que eu presenciei na minha festa Cio, em 2000, no Stereo (onde hoje é o D-EDGE). Encostados na parede, tinham três casais se beijando: um de “bolachas”, outro casal de homens e outro casal hétero. Estavam ali se curtindo, lado a lado, naquela diversidade, como tem que ser! Olhei e pensei: é esse mundão que eu quero pra mim e pra todos, com igualdade!

Para quem quiser ficar ligado na Glaucia ++ segue o Instagram dela: @glauciamaismais 

Crédito foto da capa: Photografobia.

COMPARTILHE: