ÍCONE | DJ DEUTSCH: Do downbeat ao progressive

Deutsch representa a música eletrônica nas pistas e chill outs Brasil afora há quase 20 anos

A revista Colors DJ orgulhosamente apresenta nosso segundo ícone do Psytrance do ano de 2022. Na edição passada tivemos a honra de homenagear o produtor Diogo Gouveia, o Elowinz, que é um dos grandes nomes do dark forest mundial. Desta vez, trazemos um autêntico mestre dos decks que vem arrebatando pistas Brasil afora há quase 20 anos.

Stephen Federolf, o DJ Deutsch (ou carinhosamente “Alemão”) é, sem dúvida, um dos maiores mestres da mixagem em solo nacional, e isso independentemente do setup escolhido. Sendo um grande expoente do progressive trance com suas seleções impecáveis, harmônicas e sempre muito dançantes, o paulistano não se roga de executar suas mixagens com precisão, seja no vinil, no CDJs ou nos equipamentos mais hi tech que temos, usando a tecnologia a favor da arte e nunca como responsável por ela.

Nós tivemos uma excelente conversa que durou quase 2h onde pudemos conversar sobre carreira, intenções artísticas, histórias diversas que contribuíram para traçar um perfil deste grande nome da e-music brasileira e você acompanha agora mesmo nas linhas abaixo

“Comecei a tocar em 2003 na cidade de São Paulo em festas de amigos e em algumas indoors. Conheci o som do Psy Trance, Psy Dub e Techno por volta de 2001 na rua onde morava, através de alguns amigos com o projeto Life System. Teve um amigo que me apresentou os CDJs. Aprendi a mixar, colecionar e criar meus primeiros cases de músicas. Através de um outro amigo, que é um absurdo na mixagem, aprendi a tocar Techno e Trip Hop nas pickups, mixar no ouvido e no pitch sem olhar. Época muito boa quando a galera se juntava e ficávamos horas tocando e fazendo festas”

Em 2003, o paulistano começou a frequentar a cena open air. Em 2004 levou a discotecagem mais a sério quando se apresentou pela 1ª vez fora de SP no festival Space Trip em Barbacena/MG. De lá para cá, foram quase 19 anos tocando em mais de 20 estados do Brasil, sets de Dub, Trip Hop, Nu Jazz, Brasil & Latin Beats, Grooves, Techno, Progressive House, Progressive Trance e Psytrance.  Atualmente representa a gravadora argentina Rizoma Records, por alguns anos trabalhou com a gravadora Undergroove Music, e núcleos como 4ideas!, Earthdance, Respect, Goa Gil, Mystic Tribe, Universo Paralello, Infinite Music/Solaris, Terra Azul, Adhana e entre outras.

“Desde criança sempre gostei de música e de me aventurar com algum instrumento, como o violão ou até uma percussão. Venho de uma adolescência com muito Rock´n Roll como Pearl Jam, Nirvana, Pink Floyd, Led Zeppelin e The Doors. Meu irmão ouvia rock 24/7 e através dele comecei a comprar meus primeiros CDs. Nesta época conheci o Soul do James Brown, Stevie Wonder, alguns experimentais como o CD do Beastie Boys - The In Sound from Way Out!, US3, Jurassic 5, Dubs e Eletrônicos. Viajava nas lojas de CDs e vinis em busca de estilos desconhecidos.”

Admirador de todas as linhas do Psytrance, Deutsch vê as vertentes fortes e com um nível altíssimo de produção e criação. Cita alguns grandes artistas como referência: Atmos, Modus, Perfect Stranger, Dickster, James Monro, Electrypnose, Kobi, Cosmos Vibration, Burn in Noise, Skizologic, On3, Some1, 3lmt, Kadum, Perception, Technology, Hypnocoustics, Pragmatix, Loud, entre outros. Alguns destes com estilos antigos e toques modernos, pitadas ácidas, Psytrance e muito Goa Trance. 

Ele, entretanto, não se resume à fonte musical psicodélica do trance, sendo grande representante do downbeat, vertente que une o hip-hop com elementos sintetizados e outros estilos mais modernos. Alguns dos grandes projetos brazucas que estão quebrando tudo como Zel, Shaka, DJ EB, Afterclapp, DJ Hum, Pedra Branca, Tahira, Global Koma, Fatnotronic, Formiga Dub, Trotter e outros, são presença certa em suas playlists. O artista multifacetado experimenta também uma linha de Dub Grooves e Beats, como Jk Soul, Palov & Mishkin, L’Enterloop, Nicobox, JKRiv, Panama Cardoon, Palov, e Saib, por exemplo. 

“Os estilos eletrônicos são diferentes, mas as técnicas de mixagem são muito parecidas. Não importa qual equipamento for usar, CDJs, pickups com timecode ou vinis originais, X1, qualquer instrumento e técnica são válidas. Depende muito de cada artista e como for contar a sua história. Com os equipamentos que tocamos nas festas temos diversas opções que podemos criar, por exemplo loops, mixar por minutos uma na outra, ou diversos loops para criar diversas faixas, mixar rápido ou tranquilamente, usar o grave de uma e tocar o médio e agudo de outra, mixar dos chimbais ou kicks e baixos, usar efeitos de delay, echo, backspin, scratch…

 

Além da técnica, é muito divertido ver um DJ tocando apenas uma linha, mas quando aparece alguém com um repertório afiado, pesquisa musical e técnicas fora do convencional, tocando diversas vertentes, mantendo a essência do set, é uma das técnicas mais difíceis e a prova de um bom DJ Set. Particularmente as melhores apresentações que já vi foram DJ sets de grandes mestres.”

Nosso homenageado tem um currículo para ninguém pôr defeito: Universo Paralello Festival (BA), Trancendence Festival (GO), Virada Cultural (SP), Festival Fora do Tempo (MA), Adhana Festival (SP e SC), PVTrance (SP), Terra Azul (SC), Solaris Festival (SP), Samsara Festival (MG), Earthdance Festival (SP), Mystic Respect (SP), Dinamo (SP), Zona Vibe (CE), Lish (MG), Cachoeira Alta Festival (MG), Mundo de Oz Festival (SP), Gypsy Baloon (SP), Xxxperience (SP) e outras dezenas de grandes festas e festivais Brasil afora.

Tendo sido um aventureiro das mixagens no movimento psicodélico BR, Stephen não enfrentou grandes problemas em relação à carreira. Encontrou grande apoio entre família, amigos e colegas de trabalho ao longo dessas duas décadas de muita dedicação e toda vez que toca, se conecta e se apaixona cada vez mais.

“É um aprendizado constante! É importante continuar trabalhando e acreditando no meu sonho e dos que estão próximos a mim. Uma cena cada vez melhor para todos e que venham muitos anos de discotecagem. Tive muitos apoiadores na vida, mas dois amigos foram excepcionais: Guilherme aka DJ Lotus. Com ele fizemos diversos eventos de Downtempo com Jazz, Groove e Electro Swing. Festas como Cinnamon Groove, Green Chill (com o Sallun do Pedra Branca) e centenas de noites do Cervejazz. Outro amigo é o Felipe Gomes, ado Lunares, produzimos várias festas como a Progressive Jukebox, e um mundo prestando serviços para eventos por todo o Brasil.”

Além de discotecar, nosso homenageado trabalha há 20 anos com produção de eventos nas áreas de Marketing Esportivo, Motorsport, Entretenimento Musical, Tecnologia Audiovisual e Consultoria de A&B e Financeiro. Também atua como cenógrafo na coordenação e montagem de palcos, tendas e estruturas para diversos tipos de eventos. Contou com a orientação e o aprendizado de um dos maiores e mais experientes construtores e cenógrafos do Brasil, chamado Thomas Goebel. Alguns exemplos que estão em seu currículo são montagens como o palco principal dos livros e a entrada da Tomorrowland Brasil, a tenda de 90m e o palco da Tribe (SP, PR e RJ), o palco principal da Xxxperience (PR e SP). Também criou algumas produções próprias com tendas e palcos para a Virada Cultural no Largo São Francisco (SP), MAM (RJ), Earthdance (SP), Goa Gil (SP), Mystic Tribe (SP), Magic Paradise (SP), Shiva Trance (SP), Psychedelic Soul (SP), Gaia Connection (SP), são alguns exemplos. Fora do nicho musical, outro ramo da cenografia em que também atua é o posicionamento e marcação de veículos de alto desempenho para ações de Marketing no Motorsport.

Nosso multifacetado ícone desta edição esteve por diversas vezes como stage manager e outras funções em alguns festivais pelo Brasil, além de agenciar artistas para eventos como Rica Amaral, Men 2 Deep, Pragmatix, Heterogenesis e seu próprio set. Lançou recentemente pela Rizoma Records sua primeira compilação chamada Circum Stella, com artistas como S-Range, Pragmatix, Life System, Jaia 2 Gaia, Cosmos Vibration, Emicron, Remix do Zyz & Nameless D. para o Gemini Soul, Dubianchi, Global Koma, e duas faixas que Deutsch produziu em colaboração com o Pragmatix e o Project 101. 

Diante deste grande exemplo de muito trabalho, equilíbrio, jogo de cintura e muita música boa e vontade de transformar o ambiente ao redor através dela, perguntamos ao nosso convidado de honra quais as dicas que ele dá para você, leitor da Colors, que quer se tornar DJ. Veja o que ele diz:

“Que seja divertido e com muito amor. A boa pesquisa musical é essencial. A realização de eventos ou se juntar a uma crew pode ser uma boa escola para o DJ. Não importa o estilo de som, se você gosta de mixar experimente de todo tipo de música.”

Além de toda essa vasta experiência como DJ e na produção de eventos, nosso ícone recentemente assumiu o posto de artista e booker da renovada agência DM7 bookings, que atualmente é a maior agência de bookings do país e responsável pela realização do Adhana Festival.

Depois deste divertido contato, queremos desejar todo sucesso e um grande ano repleto de realizações a este grande artista. DJ Deutsch, é um grande prazer ter um profissional do seu quilate em nossa revista. Seu trabalho é incrível e enaltece o que há de melhor na música: aproveitá-la sem pressa e viajar para outras dimensões através do som. É também uma excelente aula para nossos leitores que aspiram à carreira de DJ, para que se inspirem em sua dedicação, amor, respeito pelo que fazem e para que saibam que não é apenas um modismo. Sabemos que trabalhos com este nível de seriedade deixam frutos e o parabenizamos por semear sempre para que a boa música esteja entre nós.

E você leitor que deseja acompanhar mais de perto o trabalho desse grande maestro das mixagens, fique esperto! Este ano começou com o pé direito abrindo a pista Savannah do Adhana Festival, no Carnaval se apresentou no litoral sul de SP, este mês de março em Botucatu, e agora se apresentará em abril nas cidades:  Curitiba e Brasília, maio em São Paulo. Caso deseje conhecer melhor o trabalho deste grande monstro das pick ups, basta segui-lo em suas redes sociais.

Capa: DJ Deutsch no Adhana Festival, by Leandro.

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