EVENTOS | TROPICAL DIGITAL (BA): Resistência e Cooperatividade da Dissidência

Enviamos a repórter Kukua Dada para cobrir um evento novo na cena PsyTrance de Salvador (BA) chamado Tropical Digital. O nome do selo surgiu a partir de uma gíria usada muito entre frequentadores de festas da cena, que infelizmente sempre foi muito mal considerada. 

"Quando alguém estava muito louco ou na vibe, a gente falava que estava Tropical Digital"

Trance vem de transe, então tal meio era muito vinculado não apenas com a ideia de “estar em transe”, ou seja, alcançar um estado mental elevado e se manter nele, contudo era ligado muito à ideia de uso de entorpecentes e drogas ilícitas. 

"Surgiu dessa vontade de produzir algo novo"

O meio PsyTrance incluso também no que se denomina “cena underground” está sendo reestruturado e ressignificado, não principalmente por grandes marcas e nomes, mas também por DJs independentes e individuais. Alguns desses DJs, por exemplo, se organizaram e organizam e tiveram a ideia de criar o Tropical Digital: Vinicius Silva, Hector Falcão, Victor (PantherZ) e Franklin Santos (responsável pela organização estrutural da festa) são os principais produtores desse evento que surgiu de uma ideia de parceria e economia circular entre DJs amigos e independentes.

"A gente tenta incrementar ao máximo… Trazer uma experiência, realmente, para o público. E Salvador está realmente carente desse tipo de evento."

Ainda em conversa com o PantherZ, existem rixas entre DJs até hoje e a ideia do Tropical Digital é também ir de encontro com esse fato e refutá-lo. Sororidade, parceria e irmandade atuam como motores para produção de eventos e cenas novas que podem e vão ressignificar eventos underground e trazê-lo para a capital, num bairro boêmio como Rio Vermelho, foi uma aposta que deu certo, uma vez que normalmente eventos que trazem retornos financeiros efetivos são feitos em espaços abertos e rurais em cidades de interior. Tropical Digital se inicia, também, como sinônimo de Cooperatividade.

"É justamente isso: fazer uma unidade, né? Fazer com que todo mundo se conheça, chamar DJs para tocar, que agreguem, que tenha um trabalho legal. E esse é o nosso propósito."

"Aprendi com amigos, colegas de trabalho, não tenho nenhum curso de DJ. Mas hoje em dia eu posso dizer: ‘Eu sou muito fera, muito craque porque aprendi com os melhores’"

O trecho Resistência no título da matéria se refere não apenas à irmandade que existe naturalmente entre homens cisgêneros, sejam da cena underground ou de outras, mas também se refere à inclusão que é possível a partir desse arranjo dos que não são famosos e/ou patrocinados, mas se viram como podem para conseguirem curtir a própria cena e conseguirem retorno financeiro ao mesmo tempo: Outronika é a única DJ de gênero feminino que tocou nessa edição da festa e sua ascensão a DJ não foi configurada por cursos, mas por vivência.

"Eu me envolvia muito. Eu conhecia todos os DJs, conhecia toda a produção. Acabei encostando muito. Acabei tendo uma facilidade por ter contato com produtores, foi um pouco fácil para mim estar no meio"

E o interessante é que na primeira edição de Tropical Digital houve performance ao vivo e foi ela mesma quem convidou a nossa repórter Kukua para fazer essa matéria. Estamos falando da maravilhosa RADIx (Laís da Conceição).

Foto de capa, créditos: @grandmasterlennon.

"Querida, para mim, poder participar da Tropical Digital foi uma experiência ímpar… Foi onde eu dei vida ao Elefante Branco, uma instalação feita com materiais recicláveis… Um encanto! Uma criatura que ficava andando e interagindo com as pessoas de maneira peculiar e fiquei muito feliz de ter sido acolhida por todos. Acho que posso falar do som, pois nós tivemos pura psicodelia, sabe? Foram DJs eximiamente escolhidos de acordo com a cultura local. Sobre novas experiências sonoras, eu acredito que tudo é uma questão de educação: para que a gente possa educar os demais a conhecer esses novos ou nem tão novos, assim, né? Esses sons, essa cultura do Trance que não se baseia apenas no progressive e full-on, né?

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Kukua Dada

Editora, Colunista e Repórter na Colors

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