É com muito prazer que eu, Ana Paula, apresento esse projeto com a revista Colors DJ. Juntos criamos a coluna Conexão Internacional, onde vamos conversar com os maiores talentos e empreendedores da cena eletrônica ao redor do mundo. Para dar início ao nosso projeto, escolhemos um ícone da cena eletrônica brasileira. Dono de um som único, Renato Cecin levanta as pistas por onde passa, deixando a sua marca e o público sedento por mais. Conhecido pelo Brasil e pelo mundo, Renato nos contou um pouco da sua história. Senhoras e senhores: Renato Cecin.
Antes de falarmos sobre a sua carreira. Conte um pouco para a gente sobre a sua infância e como foi o seu primeiro contato com a música.
Sempre fui um garoto apaixonado por música. Na década de 80, nos rádios, geralmente aos sábados , alguns programas especiais tocavam as músicas que faziam sucesso nas pistas dos clubes da época e DJs convidados mixavam seus sets ali , ao vivo e eu ficava enlouquecido com as mixagens. Depois, durante a semana seguinte, eu ficava em casa com dois toca discos tentando fazer igual. Minha paixão por tocar é muito antiga.
Quando você percebeu que a música seria o seu propósito? Você chegou a se formar em alguma outra profissão?
Eu desenhava muito bem. Por esse motivo, sempre acreditei que meu futuro estivesse ligado a profissões ligadas a design ou arquitetura. Comecei a faculdade de arquitetura mas não concluí. Estudei artes plásticas e cheguei a trabalhar na área, mas não durou muito. Logo, surgiu uma oportunidade e comecei a organizar festas nos clubes da cidade do interior de São Paulo onde eu vivia. Fiz todo o tipo de eventos e festas porque as pessoas da cidade acreditavam nas minhas propostas. No transcorrer desse processo de amadurecimento musical, criei com uma amiga um selo chamado “Projeto N”. Em um salão alugado, criávamos um tema diferente para cada festa que realizávamos. Foram muitas. Em pouco tempo elas se tornaram a grande sensação da noite na cidade. Eu tinha 24 anos e, nessa fase “amadora”, eu tocava sozinho a noite inteira. Meu som era bem pop e se resumia aos sucessos das rádios FMs. Três anos depois, aos 27 anos e com uma bagagem musical bem mais interessante, influência de algumas viagens que havia feito ao exterior, juntei-me a outros três amigos e nos tornamos sócios na criação de um clube chamado OPERA. Nesse momento, minha história profissional começou realmente. Eu tocava a música que gostava, acreditava e trazia meus discos direto de NYC. Passava horas na Eight Ball Records ouvindo meus vinis antes de comprá-los (kkkk).
Como foi sua primeira experiência discotecando?
O querido DJ e amigo Mauro Borges, (conhecido por comandar as pick ups do club Massivo em São Paulo) me fez o convite para integrar o casting de DJs do Club Disco Fever, na Av. Ibirapuera, também em São Paulo. Eu estava deixando o interior e fincando os pés na Capital. Nós já dividimos a cabine, nas extintas Bunker, X Demente e The Week. Confesso que a sua abrangente pesquisa musical sempre me chamou atenção.
Conte um pouco sobre as suas referências.
Eu costumava viajar bastante para os EUA e na época, tive a oportunidade de tornar-me frequentador de clubes como o Salvation de Miami e também dos lendários Roxy e Twilo de NYC. Abel Aguilera em Miami, Victor Calderone e Junior Vazquez em NYC, tornaram-se minhas referências absolutas no início. Logo, outros nomes como Peter Rauhofer e Manny Lehman também me influenciaram. Após ouvi-los nas noites ou nas grandes festas, eu sabia exatamente quais discos de vinil eu deveria comprar para trazer ao Brasil. Essa tarefa demandava bastante tempo e investimento, mas valia a pena. Eu, rapidamente, me tornei reconhecido por isso.
Você pensa em começar a carreira de produtor?
A produção não era uma necessidade mas tornou-se fundamental hoje. Eu continuo estudando e aprendendo. Tenho minhas produções e, com parcerias, eu crio o material exclusivo e diferenciado que faz parte do meu repertório.
Você tem mais de quinze anos de carreira, como artista. No sentido cultural, musical e social. Nos dê a sua opinião sobre as mudanças na cena Eletrônica LGBT desde então.
Nos últimos 20 anos, a tecnologia deu um salto gigante. Acredito que os programas de produção musical, os smartphones e seus aplicativos, foram os principais responsáveis pelas mudanças comportamentais e no som que domina as pistas de dança. Antes dos smartphones, as pessoas saíam para paquerar, conversar… A gente precisava ir aos lugares para conhecer pessoas. Hoje as redes sociais revolucionaram tudo. Com relação à música ela também passou a ser acessível. Lojas virtuais. Packs de DJs à venda e cada DJ também pode com muito mais facilidade optar pelo software que melhor se encaixa e criar suas músicas. Rápido, prático e ao alcance de todos. O DJ/Produtor imprime sua marca e características. Mesmo assim, o reconhecimento requer empenho e dedicação. Com toda essa facilidade, a concorrência é muito maior. Sinal dos tempos.
Você hoje é considerado um dos maiores nomes da música eletrônica brasileira e mundial. Renato Cecin é sinônimo de festa boa e muitos DJs iniciantes se espelham em você. Que conselho você tem a dar para a nova geração?
Sonhar e lutar pelos objetivos. São os sonhos que nos movem. Estudar, persistir e ter um grande engajamento. Quem quer algo de verdade, realiza!
Conte-nos sobre uma festa ou um momento inesquecível na sua carreira.
Foram muitas as festas marcantes. Duas que posso citar foram: A Ultra Demente, na Fundição Progresso. Onde eu e você tivemos a oportunidade de nos apresentarmos no famoso Caldeirão. Miss Kittin também tocou na arena da Fundição e foi histórico! Outra foi o Acquaplay onde a minha apresentação ocorreu entre os sets dos DJs Tony Moran e Peter Rauhofer. Também, uma noite inesquecível. Rendeu um gentil elogio do mestre Peter nas redes sociais, fiquei lisonjeado.
O que você gosta de ouvir quando não está trabalhando?
Eu tenho um gosto musical bastante eclético. Vou de MPB, Cocteau Twins até Miles Davis. Mas, com certeza, é a música eletrônica que toma a maior parte de minha atenção.
Conte-nos sobre as suas experiências pelo mundo. Quando e qual foi o seu primeiro evento internacional? Existe algum lugar que você gostaria de tocar?
A minha primeira GIG internacional foi no ano de 1999, em Atlanta, USA. Era a festa Scarlet Ball. Eu dividi a pista com Victor Calderone. Eu já toquei em muitos lugares. Considero-me abençoado! A música me levou para todos os lugares que almejei. Agradeço a Deus todos os dias. Cada lugar traz uma surpresa e uma realização. Mas o mundo é gigante e sempre haverá um novo lugar para realizar uma grande festa.
Renato, muito obrigada por fazer parte desse novo projeto. Eu sempre admirei o seu trabalho e tenho certeza de que muita coisa boa vem pela frente. Para terminar, você gostaria de falar sobre projetos futuros e deixar uma mensagem para os seus fãs?
Ana, nem preciso lhe dizer sobre o respeito e admiração que possuo por você. Obrigado pelo convite e carinho. Eu ainda tenho muitos projetos e, logo, todos saberão (rs). A mensagem que deixo é sempre a de gratidão, por todo carinho e respeito que sempre recebi dos produtores e do público. Eu amo tocar e para isso dediquei a minha vida. Onde houver música, haverá amor e alegria. Um beijo imenso a todos!
Ana Paula
Colunista