Há quase oito anos, Di Carvalho iniciava sua história com a cena Tribal House, e hoje pode contar suas conquistas e dificuldades com muito orgulho de tudo o que passou e representa no meio LGBTQIAPN+
Mais que turnês, aplausos ou fronteiras superadas, o que move DJ Di Carvalho é o poder da conexão. Sua trajetória mostra que música também é linguagem, expressão e resistência. Ao cruzar continentes, o artista leva consigo não apenas batidas potentes, mas uma cultura que pulsa verdade, emoção e história — provocando o público a ouvir com o corpo, sentir com o coração e pensar com profundidade.
Nome de destaque na cena Tribal contemporânea, Di atua como elo entre gerações, culturas e sonoridades. Com passagens recentes por Bélgica, Suíça, Colômbia e EUA, além de presença frequente em Lisboa, ele reafirma o papel do Brasil como potência criativa e afetiva nas pistas globais. Sua entrega não está apenas no som, mas na representação de uma classe diversa e ainda pouco valorizada — com discursos que tocam identidade, respeito e visibilidade dentro e fora da cabine.
Na entrevista exclusiva, o DJ comenta estreias internacionais, a transformação da Tribal pós-pandemia, a importância de manter uma assinatura artística sólida, os desafios de conquistar espaço sem abrir mão da essência e o carinho do seu fiel grupo de fãs: as “carvalhetes”. O bate-papo também revela detalhes inéditos sobre o single “BLAH BLAH BLAH!”, uma superprodução audiovisual a caminho e um documentário especial para a Pride. Um conteúdo imperdível para quem respira música eletrônica com alma e propósito.

Quase três anos depois da sua primeira entrevista conosco, quanta coisa mudou! Como você avalia essa fase mais recente da sua carreira?
Mudou muita coisa, principalmente dentro de mim. Eu amadureci muito. Hoje enxergo as situações com mais clareza, com mais paciência, com mais profundidade. Aprendi a dar tempo ao tempo, a entender melhor os processos da vida e a filtrar o que realmente importa. Foi uma fase de voltar a focar no que eu acredito, de resgatar o Di Carvalho que, em alguns momentos, ficou um pouco desconectado de si por conta das pressões e interferências externas. Hoje procuro fazer o meu melhor, independentemente das circunstâncias. Tento não me deixar desanimar por ideias, opiniões ou situações que não combinam com a minha essência.
Quais foram as conquistas mais marcantes desde 2022 até agora? Alguma gig ou momento inesquecível que você ainda não tenha vivido?
Muita coisa aconteceu. E, quando falo em conquista marcante, não é só sobre o que é grande — tem coisa pequena que marca de forma gigante também. Lembro da edição da Jungle em Nova York, que deu sold out sem ninguém esperar. Foi uma alegria imensa. Fiz minha estreia em Porto, em Portugal. Estreei também na Bélgica e em Medellín, na Colômbia — onde já tinha ido antes, mas em Bogotá. Voltei todos os anos para a Suíça, especialmente em Lausanne, que sempre é uma prova de fogo, porque o público de lá é bem diferente. Mas, graças a Deus, sempre deu certo. Bati 1 milhão de plays no SoundCloud, gravei dois Digital Shows — um deles postado recentemente. Produzi muito conteúdo mesmo. E eu valorizo cada final de semana, cada data. Mas estar fora do país, trabalhando, e ainda voltar… isso tem um peso enorme. Quando te chamam de novo, é sinal de que o público gostou. E aí você pensa: “Caramba, eu tô fora do país, fazendo o que eu amo.” Isso é muito incrível.
Na entrevista anterior, você mencionou planos de lançar sua original mix. Esse projeto saiu do papel? Quais avanços você fez na produção musical?
Saiu do papel, sim. Na verdade, ela ficou um tempo engavetada, mas por volta do meio do ano passado resolvi dar mais energia pra esse projeto. Quando faço algo, gosto que tenha uma mensagem, que consiga tocar as pessoas de alguma forma. Esse original mix que está vindo aí é muito especial pra mim. É super divertida, cheia de energia, muito Di Carvalho mesmo. E tem uma mensagem muito legal por trás. Tirei de um momento que vivi, transformei em arte e coloquei todo o meu sentimento nela. Ela já está finalizada, e, neste momento, está com a gravadora, subindo para as plataformas. A previsão de lançamento é para o final de maio — e isso eu venho contar direitinho mais pra frente.
Sua identidade visual sempre foi uma das marcas mais fortes da sua performance. Teve alguma evolução ou transformação significativa nesse sentido desde a última vez que conversamos?
Sim, eu sempre gosto de mudar. Nunca fui de ficar no mesmo, em nenhum sentido. E com a minha identidade visual é a mesma coisa — quando começa a me incomodar, já sinto vontade de transformar. Sou muito de mudança, me jogo nas coisas e também enjoo rápido, então estou sempre procurando fazer algo diferente, acompanhar o que está rolando. Claro, tudo dentro do que eu me sinto à vontade, do que me representa. Acho que tudo evolui: a tecnologia, o mundo, e a moda também. Eu não sou uma pessoa que segue moda ou tendência só por seguir, mas gosto do que é fashion, do que é diferente. Essa mistura faz parte de quem eu sou. Já mudei muito, muito mesmo, mas nunca perdi minha essência.
Seu B-Day Tour já era um evento em expansão… em que pé está agora? Ele virou uma marca nacional mesmo? Alguma edição internacional à vista?
Meu aniversário, todo ano, é uma data em que eu sempre procuro fazer algo grande, algo temático, gravar meu Digital Show… e eu amo essa energia. No ano passado, a gente não conseguiu realizar tudo que estava planejado, por uma questão de logística. A data de São Paulo, por exemplo, não rolou porque já não tinha mais espaço na agenda, então acabamos comemorando só no Rio. Mas este ano eu quero dar mais atenção pra isso. Acho que seria incrível levar o B-Day Tour pra fora, sim, mas ainda tem lugares aqui no Brasil que sinto que preciso olhar com mais carinho. Curitiba é um exemplo — tenho um carinho enorme pelo público de lá, e sinto que é recíproco. Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, nem se fala. Então, antes de pensar em expandir internacionalmente, quero fortalecer ainda mais por aqui. Claro, levar isso pra fora vai ser maravilhoso, mas tem coisas que ainda precisam ser feitas aqui. E setembro tá chegando, hein?
Você tem se apresentado em novos países ou voltou a lugares que já tinham te recebido antes? Como tem sido a recepção do público fora do Brasil atualmente?
“Voltei a vários lugares e também estreei em outros,” conta animado. A Suíça entrou novamente no mapa — mais especificamente Lausanne —, assim como Portugal, onde fez sua estreia no Porto, mantendo presença constante em Lisboa. A Bélgica também foi palco de estreia, assim como Medellín, na Colômbia. “Eu já tinha ido à Colômbia antes, mas tinha tocado em Bogotá.” Nova York também entrou nessa rota e o retorno à cidade foi marcante. A recepção do público internacional tem sido especial. “Você tá levando sua cultura, representando seu país, sua classe… e a nossa classe é muito incrível.” Há uma responsabilidade nesse papel, mas também um orgulho profundo. “A gente tem que se orgulhar da nossa trajetória também.”

A cena Tribal vem se transformando ao longo dos anos. Como você enxerga o momento atual desse segmento e o seu papel dentro dele?
Desde a pandemia, a cena Tribal passou por muitas mudanças — novas vertentes surgiram, outras retornaram, numa dinâmica que lembra muito a moda. “Tudo se reinventa.” Estar atento ao público e às tendências é essencial, mas o termômetro maior ainda é a pista. “Não existe som bom ou ruim — existem estilos, propostas, públicos diferentes.” A identidade do DJ precisa estar presente, mesmo com adaptações de set e conceito de festa. Ele se vê como alguém que representa a cena, com identidade forte. “Tudo que vivi me fez querer abrir caminhos para que outros não passem pelo que eu passei.” E alerta: “Falta valorização. O DJ carrega uma responsabilidade enorme e, muitas vezes, é subestimado.”

Desde o início, você sempre foi muito fiel à sua identidade artística, mesmo enfrentando críticas. Acha que hoje há mais respeito e reconhecimento por isso?
“Sim, mas é uma construção delicada.” Ele cita nomes como Milena Vox, Nina Sabha e Paulo Góes como artistas que, assim como ele, carregam uma identidade mais expressiva — algo que pode gerar admiração ou resistência. O reconhecimento vem, muitas vezes, pelo movimento que geram, pelo público que mobiliza. “Nem sempre esse reconhecimento é diretamente voltado à nossa identidade artística ou à forma como a gente escolhe se expressar.” Ainda assim, celebra os espaços que acolhem e valorizam de fato a entrega artística. “É um equilíbrio — tem avanços, tem abertura, mas ainda existe um caminho a ser percorrido.”

Você segue com o apoio do fã-clube e da equipe que te acompanha desde o começo? Como é essa relação hoje?
“Com certeza.” Pessoas que o acompanham há quase oito anos seguem firmes, ao lado de novos fãs que se conectam agora com o seu trabalho. “Eu costumo chamar todo mundo de carvalhetes, e esse grupo só cresce.” Há uma gratidão imensa por todo o apoio — pelos pedidos de booking, pelas mensagens, pela torcida. “Às vezes eu paro e penso: ‘Será que eu tô conseguindo entregar tudo isso de volta?’” É uma troca intensa, de passado, presente e futuro. “As carvalhetes são uma parte enorme da minha história — e só crescem.”

Pode adiantar alguma novidade que vem por aí ainda em 2025? Talvez um novo set, collab ou turnê?
Novidade nunca falta. “Toda semana surge uma ideia nova.” Mas o foco do momento está em dois projetos: o lançamento de BLAH BLAH BLAH! e uma entrega especial para a Pride. “BLAH BLAH BLAH! é uma música divertida, fervida, cheia de energia. Tem alma de pista, tem alma de gente.” Um clipe profissional está nos planos, com produção de alto nível. Já a Pride vai virar documentário, num registro que promete emoção e impacto. “Fiquem ligados. Vem muita coisa boa por aí.”