ENTREVISTA | REMIX INÉTIDO E PODCAST: Cau Bartholo lança novos projetos e exalta suas raízes amazônicas

Com uma trajetória marcada pela autenticidade e pioneirismo, Cau Bartholo é referência quando o assunto é diversidade na música eletrônica. Atuando como DJ, cantora, atriz, apresentadora e produtora, ela celebra mais de duas décadas de carreira levando a cultura do Norte do Brasil para as pistas e palcos do país.

Nascida no Acre e considerada uma das primeiras DJs da região Sudoeste da Amazônia, Cau é uma artista multifacetada que une sua vivência artística à valorização das raízes culturais do Norte. Sua nova fase como produtora musical vem reforçar seu compromisso com a representatividade e a inovação sonora, criando pontes entre o eletrônico e as sonoridades amazônicas.

Nesta entrevista exclusiva, a ganhadora do Melhores do Ano 2024 (MAIOR DESTAQUE), aqui na Colors, revisita momentos marcantes de sua história, compartilha os desafios enfrentados como mulher na cena eletrônica, revela seus projetos atuais e fala sobre o futuro da música produzida na Amazônia. Uma leitura essencial para quem acompanha o movimento eletrônico nacional com olhar atento à diversidade.

Cau, desde a nossa última conversa, muita coisa aconteceu! Você foi eleita o maior destaque do ano no Melhores do Ano 2024 da Colors DJ Magazine. Como foi receber esse reconhecimento e o impacto dessa premiação na sua carreira?

Receber o prêmio de Maior Destaque do Ano no Melhores do Ano 2024 da Colors DJ Magazine foi uma honra surreal! Quando vi o resultado, fiz até uma dancinha solo de tanta felicidade. Foi uma grande realização ver meu trabalho sendo valorizado desse jeito. Fiz campanha intensa, pedi voto todo dia, enchi o saco da minha fanbase (risos) — e deu certo! Esse tipo de reconhecimento me motiva demais, inspira e ainda abre portas importantes na minha carreira, aumentando a visibilidade do meu trabalho como DJ e produtora. Só gratidão por essa conquista. Bora continuar crescendo!

DESTAQUE | DJ CAU BARTHOLO: Do Acre para o Mundo

Você se mudou para Curitiba em junho e, logo depois, em outubro, fixou residência em Florianópolis. O que motivou essa mudança e como tem sido essa nova fase na Ilha?

Florianópolis foi uma escolha pessoal e estratégica. Sempre sonhei em morar perto do mar, e estar aqui me dá paz. Mas além disso, é uma cidade que pulsa música eletrônica, tem uma cena forte, cheia de oportunidades. Já morei aqui antes, então tem um lado afetivo também. Desde que voltei, muita coisa boa aconteceu. Estou montando um estúdio de DJs, onde pretendo dar aulas, principalmente pra mulheres que querem aprender a tocar. Também estou lançando o podcast “Mixando Ideias”, que estreia no dia 10 de abril na Primer TV. Essa fase tem sido de muito trabalho e, como eu acredito, onde há plantio, há colheita.

Desde que chegou a Florianópolis, você tem conquistado novas oportunidades e se aprofundado na cena local. Como tem sido essa experiência e o que você tem percebido sobre a cena eletrônica na cidade?

A experiência tem sido demais! Floripa tem uma cena eletrônica autêntica, cheia de artistas talentosos e um público que valoriza música boa de verdade. Tem muitas labels locais e gente que faz festa por amor. Tenho circulado por várias, e ainda quero tocar em muitas outras. O público aqui é receptivo e curioso, o que me dá liberdade pra explorar diferentes sonoridades na pista. O podcast vai ser mais uma ponte pra conectar com essa galera. Estou feliz e empolgada pra contribuir com esse cenário.

Cau nos bastidores do seu podcast
Você percebeu um aumento na visibilidade depois da premiação da Colors, com muitas pessoas te reconhecendo e te parabenizando. Como foi para você sentir esse reconhecimento do público?

Foi emocionante demais! Logo depois da premiação, fui em um evento e parecia que todo mundo me conhecia — vieram me parabenizar, tirar foto, mandar mensagem. Foi um carinho surreal. Me fez perceber o quanto esse tipo de reconhecimento impacta de verdade. Senti que estou no caminho certo. Ou como eu brinco nos bastidores: “que bom saber que não tô doida” (risos). Quero seguir compartilhando minha música e minhas ideias com o mundo.

Cau Bartholo e Zeo Guinle em estúdio no RJ
Hoje você está lançando um remix de João Donato, pela Universal Music. Como surgiu essa oportunidade e o que podemos esperar desse remix?

Esse remix tem uma história! Ele faz parte do EP que lancei ano passado, que originalmente teria 5 faixas, mas só saíram 4. Desde o início, a ideia era lançar “A Rã” pela Universal Music, já que eles lançaram a original. Foram mais de 100 e-mails, um ano e meio de negociação, e finalmente rolou!

A música de João Donato sempre esteve no meu radar desde que pensei em um EP celebrando o Acre e seus artistas. Com a ajuda da minha amiga Camila Cabeça, chegamos até Ivone Belem, viúva de Donato, que apoiou o projeto desde o início. Vale lembrar: qualquer um pode fazer um remix, mas lançar um remix oficial, com todos os direitos certinhos, é outra história.

Esse trabalho é uma collab minha com o DJ e produtor Zeo Guinle, que me guiou durante o processo do EP. Convidá-lo pra assinar essa faixa comigo foi essencial. Tivemos apoio de várias pessoas: Donatinho (filho de Donato), a equipe da Universal, o RP Nazen Carneiro, o designer Dionisio Neto… Enfim, foi um time!

E o que esperar desse remix? “A Rã” chega com o vocal do Donato, uma pegada Deep House moderna, um baixo marcante, e uma vibe perfeita pra pista. Mantemos a leveza do original, mas com aquela energia eletrônica que faz dançar. Tô muito orgulhosa desse trabalho!

Cau nas gravações do Mixando Ideias Podcast
Além da produção musical, você também está se dedicando a dois novos projetos. Conta mais sobre o podcast sobre música eletrônica que estreou essa semana. O que te motivou a criá-lo e quais temas pretende abordar?

Pois é! Como se eu não tivesse coisa o suficiente (risos), agora tem podcast também! A ideia nasceu junto com uma amiga, que pensava em um programa de TV. A gente juntou forças e surgiu o “Mixando Ideias“, que estreou no dia 10 de abril na Primer TV e no YouTube. O foco é a cena eletrônica e cultural de Floripa, com entrevistas, bastidores, dicas de produção, e muito mais.

Quero trazer reflexões, histórias e aprendizados da cena. Vamos falar sobre saúde mental, bastidores da vida de DJ, produção de eventos, o papel feminino na música… aliás, esse foi o tema do primeiro episódio! Vai ser leve, divertido, mas com conteúdo de verdade. Ah! E tem mais: estou preparando uma série de eBooks com técnicas de DJ, dicas que só a pista ensina, pra compartilhar conhecimento com o mundo. Vem aí!

Você também está focada na sua carreira como professora de DJs e agora é sócia de um estúdio novo com amigos. Como está sendo essa transição para a vida full-time como instrutora e o que você espera desse novo projeto?

Tem sido um sonho realizado. Sempre quis viver 100% de música. Em 2023, ensinei um grupo de mulheres em Porto Velho, depois dei aula na School of Rock, e sempre que podia, ajudava quem queria aprender — até na Irlanda rolou! Como produtora de eventos, às vezes faltava DJ com o perfil que eu buscava, então eu mesma ensinava.

Agora, com o estúdio em parceria com o Zannel, DJ e produtor incrível aqui da ilha, estamos criando um espaço pra aulas, produção musical, gravação de sets, mentorias… Um lugar pra formar novos talentos com acolhimento e qualidade. Em breve vamos anunciar tudo direitinho — por enquanto, estamos montando e equipando o espaço.

Cau com sua turma de DJs mulheres em Rondônia
Cau com seu curso na School of Rock
Cau na School of Rock
Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, como você tem equilibrado suas diferentes frentes de trabalho?

Não sei, Dih! Um dia de cada vez. Cada semana eu foco em uma coisa diferente e vou levando. Meu sonho era ser só DJ, mas não deu, né? (risos)

Olhando para o futuro, quais são seus próximos passos e objetivos dentro da cena eletrônica?

Minha mira tá lá na frente. Quero consolidar minha carreira, conquistar mais espaços nos line-ups, tocar fora do país, lançar mais música, fortalecer a cena onde eu estiver e, claro, continuar sendo uma artista que representa o Norte do Brasil com orgulho!

Foto de Dih Aganetti

Dih Aganetti

Editor-executivo e Repórter

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