ENTREVISTA | A arte de Bry Ortega

Bry Ortega é um artista que vem atraindo atenção para o seu trabalho através do seu virtuosismo musical, performances que sempre entregam um diferencial e um carisma genuíno. Produtor hoje voltado para o Techno, Bry se envolveu com a música na infância através da bateria, instrumento que faz parte da sua identidade até o presente momento. 

“...a bateria é uma extensão do meu corpo e a música é a forma como ele se comunica.”

 O músico curitibano abrange diferentes meios de expressar sua arte sempre com excelência, um verdadeiro “Showman”. Confira agora mesmo o bate-papo com Bry Ortega: 

Foto de capa: Loiro (Gabriel Gritten).

Primeiramente queremos agradecê-lo por aceitar nosso convite. Vamos lá! Seu envolvimento com a música começou muito cedo, você teve contato com diferentes instrumentos e estilos, até que você se encontra na bateria. Como foi o momento em que você percebeu essa paixão pela bateria?

Eu que agradeço pelo convite e com certeza será uma honra poder somar por aqui. Vamos lá, depois de ter passado por algumas pequenas experiências com outros instrumentos na escola, aulas de teclado e violão e por sempre gostar de músicas com muito groove, pois recebi a influência desde pequeno do meu pai com ACID Jazz, Rock e muita musicalidade internacional, fiz uma aula teste com bateria aos 13 anos de idade, e foi algo de conexão muito forte, pois eu entendia aquilo como “colocar ritmo na minha vida como um todo”, foi único. 

Por eu ter passado por vários instrumentos e a bateria ser algo caro e complexo na época, meu pai me testou por 1 ano para eu ter minha primeira bateria, fiquei tocando todo esse tempo nos travesseiros, almofadas e o que pudesse montar o cenário da bateria, e quando dava certo, ia treinar na escola a qual eu fazia aula. Então o desejo da bateria ser uma “extensão” do Bry foi intensa nesse processo. 

Muito tempo depois, quando já estava com a minha bateria e começando a gravar meus primeiros álbuns, meu pai me contou que ser baterista era uma vontade dele, porém nunca havia me falado para não influenciar na minha decisão. Então eu encaro tudo isso como uma missão, a bateria é uma extensão do meu corpo e a música é a forma como ele se comunica. 

Você teve uma rica influência musical antes de entrar para o universo da E-Music. Fale um pouco sobre esses estilos musicais que fizeram parte da sua vida, como foi sua relação com eles?

Eu costumo dizer que somos sempre o resultado de tudo aquilo que experienciamos desde nossa infância, e eu tive a grata oportunidade de ser influenciado pelo meu pai por Acid Jazz, Jazz, Rocks clássicos e grandes nomes do Pop da época, como Michael Jackson, Madonna, entre outros que também era costume ouvirmos todas as manhãs em minha casa para acordar.

Isso foi me formando musicalmente e tiveram total influência em todas as etapas da minha carreira, foi como uma base, um alicerce, pois acabei começando com uma banda de rock nacional, depois tive uma banda de R&B e Soul Music, aí passei por bandas de Metal progressivo como (Dream Theater, Symphony X e etc.), o qual foi um gatilho para algumas coisas que ouvia quando era criança. Também tive bandas cover de Rock Clássico como Led Zeppelin e tive a oportunidade de termos aquelas famosas “Jam Sessions” nos bares de Blues com 4 horas pra mais, somente trocando os músicos sem parar os temas. 

Tudo isso parece que foi extensão do que eu ouvi desde pequeno, então de certa forma fizeram parte da minha formação e também das minhas experiências nos palcos o que claro, também me enriquece na forma de criação e repertório para me inspirar a novas sonoridades e experiências dentro da música eletrônica, tanto nas produções como no formato de tocar. 

Como você se envolveu com a música eletrônica?

Desde pequeno já tentava algumas coisas em casa com meu pai e seu som da Polyvox, na época com os decks de vinil e cassete, depois com 2 decks de CDs e já brincava em fazer algumas coisas. Porém com as bandas, turnês e shows acabei deixando de lado e em 2008 eu acabei fazendo o curso de DJ na AIMEC Curitiba – já gostava de ir em festas, festivais e sempre acompanhei o que estava rolando na cena, e nesse tempo quis ir para entender “como era esse universo” como artista e não como apreciador. 

Aí que iniciou minha jornada, conheci o LIVE do Gui Boratto na época e aquilo me encantou, pensei comigo “é isso que eu quero fazer”. O que para minha surpresa foi muito interessante ver a arte ser criada ao vivo, assim como eu fazia nas bandas. Me formei na AIMEC, porém comecei já a estudar tudo sobre LIVE PERFORMANCE, e assim foi que em 2013 eu comecei a soltar minhas produções e mostrar por vídeos no Youtube os primeiros passos do meu Live. 

“Tive contato com muitos “live performers” do mundo todo e pegava sempre o que me chamava mais atenção de cada um para somar naquilo que eu fazia e do meu jeito, para que não ficasse parecido com nada, mas sim com a identidade do Bry Ortega.” – Bry Ortega.

Você se tornou um respeitado produtor musical e focou no formato LIVE. O que fez você optar por esse formato de apresentação e como ela é construída (elementos, instrumentos, sonoridades)? 

A primeira coisa que me chamou a atenção e que me fez somente fazer esse formato foi a liberdade de criação, não só da música, mas da experiência. Também por ser muito próximo ao que tinha como banda, pra mim como músico era uma realização, poder juntar as duas coisas em um único momento. A parte de ter que ensaiar muito, preparar habilidades e criar novas formas de tocar para ir lapidando a dinâmica, que foi algo que sempre priorizei no meu live, foram as que mais me motivaram. Anos de testes, muitos erros e vários riscos ao vivo que foram criando um formato único no meu jeito de tocar. Juntar os instrumentos como bateria no momento que eu quiser e também transformar os temas em qualquer estilo de acordo com o momento criado na pista são coisas que eu estudei para poder passar durante a apresentação por diversos momentos.

Foram anos de estudos, incansáveis treinos, muitas falhas, mas também muito conhecimento adquirido, aprendendo com diversos formatos, quase nunca no estilo que eu tocava. Tive contato com muitos “live performers” do mundo todo e pegava sempre o que me chamava mais atenção de cada um para somar naquilo que eu fazia e do meu jeito, para que não ficasse parecido com nada, mas sim com a identidade do Bry Ortega. Por último, a coisa que para mim é extremamente importante, é poder me colocar à prova o tempo todo, seja em habilidade, na sonoridade e principalmente na energia. Isso é desafiador e me faz cada dia querer aprimorar o que faço no Live e entregar meu melhor para quem estará desfrutando dessa experiência comigo.

Bry Ortega. Foto: Loiro (Gabriel Gritten)

Fale um pouco sobre lugares em que você já se apresentou no exterior.

Graças a música pude estar em alguns lugares incríveis. Em 2013 foi minha primeira tour em Los Angeles, Las Vegas, Venice Beach, San Francisco, Querétaro e Guanajuato, no México. Foi onde comecei a mostrar os primeiros passos do meu Live, e depois disso que me apresentei pela primeira vez valendo no Brasil. Após isso e de ter rodado bastante minha arte por aqui, em 2018 fizemos Argentina e a tão sonhada Tour da Europa, que fui parar em Londres, Ibiza, Berlim e Amsterdam, o que me colocou na rota de alguma das principais festas e clubs da Europa como a Ministry of Sound, o qual tive o privilégio de fazer o Réveillon e outras datas importantes do club na pista principal. Europa já é quase a segunda casa e nesse próximo ano teremos muitas datas novamente por lá, inclusive para mostrar novos projetos e formatos que estamos preparando. 

Falando em Europa, fale mais sobre sua passagem pelo velho continente, especificamente em como essa experiência agregou como músico/produtor.

Foi algo desafiador quando realmente começou a acontecer, pois eu larguei tudo no Brasil para ficar por um período lá além dos shows. Esse tempo intencional foi para uma imersão em estudos com vários produtores renomados, me reencontrar na essência, na identidade sonora e entender a cena como um todo na Europa. Isso tudo fez com que meu Workflow tanto nas produções como no Live performance tivessem uma grande virada, não só na qualidade, textura e lapidação das produções, mas principalmente na maturidade sonora que começou a acontecer em toda a minha arte, que é reflexo 100% do Bry. Então essa evolução aconteceu mutuamente em mim para poder repassar da maneira certa para o público. 

Sua apresentação no Opera de Arame ficou super conhecida, como foi a experiência?

Com certeza uma das preparações mais especiais em meio a pandemia. O convite veio pela Playing for Change Internacional para representarmos e atuar como anfitrião com a música eletrônica no evento internacional que reuniu vários artistas do mundo todo, e dessa vez seria por meio digital já que estávamos impossibilitados de fazer shows. Nós desenhamos o Show em alguns dias com a minha equipe para entregar o melhor em tempo recorde e assim fizemos acontecer. Além do propósito ser muito grande, que era ajudar as crianças do mundo todo pela educação com a música e representar a música eletrônica pela primeira vez no mundo com o evento, para mim foi uma verdadeira missão poder entregar minha arte a tudo isso de forma tão mágica e com muita qualidade. 

Bry Ortega. Foto Loiro (Gabriel Gritten).

Você vem fazendo um trabalho de mentoria no mercado, como funciona todo o processo? Pode citar alguns artistas que já participaram?

Esse trabalho é algo que surgiu a pouco tempo com o intuito de compartilhar meu conhecimento de anos, desde Live performance à mindset e 

posicionamento artístico com algumas pessoas específicas, sim, somente algumas pessoas fazem parte da mentoria e acabou que funcionou como um processo de seleção. Dentro de tantos pedidos acabei escolhendo alguns que tinham a mesma linha de propósito com a música e também que estavam preparados para receber o que eu poderia compartilhar. 

Continua sendo algo bem específico, não aberto a todos justamente para que quem receba entenda o processo de forma única e dê o devido valor ao que estamos compartilhando, assim também formamos uma pequena família de artistas que visam a música não só como um meio de fazer suas carreiras, mas vivem isso com o devido respeito a arte, os transformando cada vez mais em artistas de alma e com essência. 

Adam Beyer, Drumcode, Monika Kruse, você teve seu nome vinculado a esses gigantes. Conta um pouco pra gente!

Um presente em meio a pandemia. Em um dos meus dias de treino de bateria no studio, resolvi colocar uma música do Joyhauser e acabei gravando o primeiro vídeo colocando minha interpretação de bateria em cima da track Elements, lançada pela TERMINAL M, Gravadora da Monika Kruse. Eu não havia contado a ninguém, simplesmente postei e deixei a coisa toda acontecer porque não sabia onde isso iria dar (rsrs). Por fim esse vídeo viralizou de uma forma absurda, eu realmente fiquei muito surpreso pois via os artistas repostando e comentando sem parar não somente nas redes sociais, mas entre eles nas conversas que chegavam até mim. Assim acabei fazendo outro logo depois com uma Track da DRUMCODE, que envolvia Adam Beyer, Green Velvet, Layton Giordani e Pleasurekraft.

O que ficou mais surpreendente ainda quando a Drumcode me pediu o vídeo para repostar na íntegra, todos os artistas fizeram o mesmo e começaram a me mandar mensagens, comentar sobre e fazer mais. Assim foram com mais 2 vídeos, o qual a Drumcode me apelidou de #DRUMCODEROFICIAL nas postagens de todos os vídeos, mal eu esperava que estava por vir um convite mais que especial de Adam Beyer para fazer um vídeo para o lançamento do seu EP Park People

Isso foi incrível e mais uma vez tivemos uma avalanche de reposts e comentários no mundo todo. A repercussão entre os grandes nomes do Techno foi tamanha a ponto de receber várias mensagens e convites para fazer participações de diversas formas, até que nesse último, veio mais um convite especial pela Monika Kruse para o lançamento da track “Latex”, que também foi impactante e repercutiu imensamente. Sempre é incrível receber os feedbacks de todas as pessoas e principalmente desses grandes nomes o qual citei aqui, que reafirmam sempre sobre a interpretação única, expressão e a identidade como os pontos altos da minha arte. 

Bry Ortega. Foto Loiro (Gabriel Gritten).

Tem algum artista que você gostaria de indicar para nossos leitores?

Com certeza indicaria a acompanhar de perto todos os brasileiros que estão fazendo história no Techno mundial: Anna, Wehbba, Victor Ruiz, Alex Stein e Vinicius Honório. São nomes que além de nos representar de forma grandiosa estão desbravando novos horizontes sempre e nos ensinando muito sobre posicionamento, carreira e identidade sonora.  

Hoje quais são os planos para o Bry Ortega como artista?

São muitos, temos um planejamento enorme para cumprir nos próximos anos com vários projetos que estão acontecendo na minha carreira. O que posso dizer é que com certeza vem surpresa com o meu show intitulado “Live 369”, que trarão a prova todas as minhas habilidades unificando tudo em um único formato, trazendo muito sobre experiência energética, sonora e visual ao vivo. 

Aguardem com muito apreço pois será algo único. 

Teremos muitas tracks novas chegando com lançamentos agendados até o final de 2022, as quais foram feitas durante esse período off que passamos. 

Além disso, estamos preparando mais novidades relacionadas a experiências visuais, percussivas e orquestradas que vão fazer as pessoas interagirem de uma forma nunca vista no Brasil.

Confira agora uma playlist do Bry Ortega especialmente criada para a Colors DJ:

Playlist Spotify Bry Ortega

COMPARTILHE: