Edu já era conhecido por muitos frequentadores da nossa cena, por seu trabalho à frente da Joy Pool Party, que roda o Brasil todo e o exterior, e que deu como fruto o festival Joy Búzios. Mais recentemente, pudemos conhecer sua face DJ. Ao longo de apresentações em diversos clubs no Brasil e no exterior, tem recebido um feedback muito positivo do público, com sets sempre marcados pela alegria e pela emoção.
“Uma coisa é tocar em casa, na aula; outra, completamente diferente, é tocar pra uma multidão.” Eduardo Vicentini.
Nessa entrevista, vocês irão saber como foi o processo de aprendizado, suas experiências mais marcantes tocando e quais são suas expectativas para 2021. Confira agora:
Você já trabalhava com produção de eventos há algum tempo. Em qual momento dessa jornada surgiu a vontade de tocar?
Eu já trabalhava com eventos há seis anos e, pra ser bem sincero, sempre fui muito ligado à música. Sempre amei música. Desde adolescente, quando ainda fazia festinhas em casa, baixava as músicas pela Internet, preparava as playlists, então sempre tive muito contato com esse universo.
Porém, eu nunca tinha imaginado me tornar DJ. Sabe aquelas profissões que tem que ter uma vocação especial e já nasce com aquilo? Aquele artista famoso, aquele cantor famoso que você olha e pensa: nossa, esse aí nasceu pra isso? Eu achava que o DJ tinha nascido pra ser DJ, e não imaginava que eu pudesse ter vocação para tocar.
Até que o Iellamo, que é um dos residentes da Joy, se ofereceu para me ensinar. Ele achava que eu tinha muito bom gosto musical, que eu ia ser incrível como DJ, que tinha muito feeling pra pista…e quis me ensinar. Foi incrível, pois na primeira e na segunda aulas, eu já fiquei completamente apaixonado, me perguntando como não tinha pensado nisso antes!
Como foi o processo de aprendizado e a preparação para as primeiras apresentações?
Foi bem complicada a dinâmica de horários de aula. Eu tenho uma agenda muito corrida, muito conturbada, que não segue uma rotina. Então foi bem difícil fazer uma programação de aulas, com horários definidos. Não conseguia fazer isso. Tinha dias que eu marcava aula e furava, outros dias tentava adiantar ou atrasar a aula para poder bater também com a disponibilidade do Iellamo. E, às vezes, eu viajava e ficava um tempo fora, então tinha semanas que eu fazia duas aulas, que seria o ideal, e teve momentos que eu fiquei 3 semanas sem ter aula!
E eu já marquei minha primeira data de apresentação antes de concluir o curso. Quando eu contei pro Iellamo ele ficou super nervoso comigo (risos), dizendo que ainda não era o momento, que eu tinha que esperar mais um pouco, pelo menos terminar o curso e me preparar mais, mas eu estava tão ansioso para estrear! Eu já me sentia tecnicamente pronto, que poderia treinar mais sim para ganhar mais desenvoltura, mas que seria importante pra mim agarrar aquela oportunidade e começar naquele dia.
Então eu marquei e, nesse período pré-evento, foi o mês que eu tentei dar tudo de mim, treinar o máximo possível, pra poder ficar pronto. Iellamo sempre falava pra mim é muito verdade: uma coisa é tocar em casa, uma coisa é tocar na aula, e outra coisa completamente diferente é tocar para uma multidão.
Eu assumi uma pista da Victoria Haus, em Brasília, numa festa da Joy. A pista estava completamente lotada, não dava nem pra andar; quem passou a cabine pra mim foi o Guilherme Guerrero, com uma super vibe. Quando eu olhei lá do palco aquela multidão, eu pensei: Nossa, que responsabilidade que é assumir uma pista dessas e conduzir a vibe da galera! Realmente bate um nervosismo, parece que a mão treme, a gente fica super nervoso, mas depois da segunda, da terceira música, parece que você relaxa, se entrega e entra na onda, e é uma sensação inexplicável. É muito gostoso tocar.
“O som de um DJ tem que dar as mãos pro som do próximo e do anterior.” Eduardo Vicentini.
Em pouco tempo de carreira, você já tem uma bagagem considerável de lugares onde já tocou. Nos conte uma situação inusitada, ou emocionante, pela qual já passou em uma apresentação.
Uma que marcou muito foi a Pride, que toquei na Espanha. A festa estava entupida, muito cheia. Quando toquei estava numa vibe superlegal. Eu estava fazendo um som alegre, bem pra cima, o pessoal estava pulando, enlouquecidamente, a festa inteira pulando, e a cabine onde eu estava tocando chegava a vibrar num ponto que a CDJ estava trepidando, pulando já, então eu ficava o máximo possível tentar ficar segurando ela com a mão e mixando com a outra, pra poder manter ela mais firme possível.
Tinha vezes que eu não me aguentava e queria pular também. Não queria ficar ali parado segurando a CDJ, e num desses momentos, que eu não estava segurando tanto, ela desligou sozinha. Então as luzes continuaram piscando e som parou. Na hora me senti péssimo, a pior coisa que pode acontecer pra um DJ é o som parar no meio da apresentação. No entanto, o público começou a aplaudir. Eles estavam numa vibe tão boa e tiveram tanto carinho comigo, que eu fiquei muito emocionado. Esse momento marcou bastante emocionalmente minha carreira. Eles perceberam que a culpa não foi minha, teve que ir um técnico de som no palco religar o equipamento.
Uma outra situação também muito emocionante foi quando toquei em Paris, na boate Gibus, que estava também uma vibe incrível, e o produtor da festa subiu no palco e me perguntou se eu poderia voltar numa data “x”, porque o público estava amando. Eu falei que sim, e na mesma hora eles escreveram em francês no telão, que o Edu Vicentini iria retornar na casa em tal data. Fiquei tão emocionado, porque foi muito inusitado, eu ainda no palco, no meio da apresentação, o dono da festa pedir pra eu voltar e falar que estava todo mundo elogiando e gostando muito. Fiquei mega feliz, e quando terminei o set, foram tantos aplausos que chorei de emoção.
Como é o seu processo de pesquisa musical. Quais são seus produtores preferidos?
A gente aqui no Brasil é muito privilegiado. Sem dúvida, os melhores produtores musicais, na minha opinião, são os brasileiros. A gente está com a batida brasileira em muita ascensão no mundo todo, os nossos produtores estão fazendo muito sucesso. Eu viajo muito, tanto pra produzir festa tanto quanto para tocar e nessas viagens eu aproveito e saio pra curtir e aproveitar, me jogo em tudo que é festa. É impressionante como eu reconheço que os DJs gringos estão tocando música de produtores brasileiros.
Então, sem dúvida, minhas grandes inspirações são daqui, como Allan Natal, Enrry Senna, Mauro Mozart, Diogo Ferrer, tem o Johnny Bass, enfim, Thiago Costa, Wander Bueno que eu admiro demais. Lucas Franco…tem muitos produtores daqui que eu sou muito fã, que tocar o hit deles na pista é sucesso garantido.
Meu processo de pesquisa é muito intenso. Tem dias que eu perco horas e horas pesquisando, baixando e ouvindo música, tanto free downloads quanto comprando “packs”, comprando músicas avulsas. Dá bastante trabalho, às vezes tem uma única música que você tem cinco versões, você tem que tentar entender qual versão seria mais apropriada para cada momento, se é uma versão mais leve para um warmup, ou mais pesada para um after, ou ainda uma versão alegre para um horário de headline. É bastante trabalhoso você pesquisar e se organizar pra tocar a música certa, na hora certa para conseguir emocionar aquelas pessoas. Gosto muito também de no meio do meu set, trazer um momento de nostalgia, mexer com as sensações do público.
Como foi a experiência de tocar no Xcelsior Festival, em Mykonos, o sonho de muitos DJs? Foi também uma edição com uma presença grande de DJs brazucas. Conte mais sobre esse evento, e a receptividade do público.
Eu sou apaixonado por esse festival e amo Mykonos. Eu já tinha ido lá antes, como frequentador. Quando chegou o convite pra tocar, eu estava em Barcelona, durante minha primeira turnê. Eu fiquei tão emocionado, que não acreditava. Tive que ler o e-mail umas três ou quatro vezes para ter certeza que aquilo era real. Eu estava numa turnê, já havia tocado em cinco países, mas ainda não tinha nem seis meses de carreira de DJ.
Nesse mesmo dia, durante a viagem, comecei a pesquisar lojas que vendiam controladora, e foi lá que eu comprei meu primeiro equipamento. Eu pensei na necessidade de treinar o máximo possível, dar meu melhor, pra de hoje até lá eu conseguir atingir o meu melhor desempenho técnico. Não posso falhar.
Toquei na Beach Party, que é festa principal das day parties e, quando eu subi naquele palco, lembro que foi muito emocionante: a festa lotou desde cedo, era um mar de gente, e tinham muitos brasileiros e amigos meus que estavam na festa.
Foi uma energia incrível, a galera do Brasil foi toda foi lá pra frente, o pessoal gritava, batia leque e aquilo ia me alimentando. Era uma combustão de energia. Realmente esta última edição teve a presença de muitos DJs brasileiros e fomos todos muito bem recebidos, pela produção, pelo público, foi espetacular. A gente chegou a ver gringos comemorando por ter brasileiros no line da festa de uma noite, então pessoas do mundo inteiro têm ficado contentes e ansiosos pela presença de um brasileiro no lineup, mesmo que não o conheçam.
O fato de ser produtor de festas pode ter ajudado a conseguir as primeiras datas. Mas é sabido que, sem talento nato e muita dedicação, ninguém se mantém no mercado, que é superexigente. O que diria para os críticos a respeito desse assunto?
Claro que abriu portas pra mim no começo. Mas eu só continuo sendo chamado a tocar nos lugares onde já toquei, porque deu certo, o público curtiu e não simplesmente porque sou o “dono” da Joy. Inclusive eu vejo muitos DJs veteranos que criticam os novos talentos, fazendo posts em redes sociais criticando os novatos, a nova geração. Isso é um absurdo total. Ninguém nasceu DJ. Ninguém nasceu com um fone de ouvido, destinado a tocar. Todo DJ antigo começou em algum momento. Então acho feio, e até antiprofissional, os veteranos criticarem quem está começando.
Como vê a retomada dos eventos pós COVID?
É um assunto muito delicado, as informações são muito contraditórias e mudam a todo instante, sai decreto, caem os decretos, então a gente tem muita expectativa de conseguir voltar agora no final do ano com os eventos, pelo menos eventos abertos. Mas ainda é tudo incerto.
Estamos rezando por uma vacina, para que tudo se normalize o quanto antes. Até que ela saia, acho pouco provável termos grandes eventos em ambientes fechados. Resta ter fé e esperar que saia logo, pois já são oito meses sem eventos, e milhares de pessoas sem poder trabalhar.
Uma dica para quem está começando a tocar agora, (ou então para quem quer se recolocar no mercado). Que conselho daria a essa pessoa?
A pessoa que quer entrar no mercado como DJ, em primeiro lugar, tem que frequentar as festas. Ela precisa ver a pista de dança e olhar sempre o público, o que funciona, o que ele quer ouvir, entender o que passa pela cabeça das pessoas que estão ali.
Tem gente que começa sem estudo musical, sem vivência de pista, e que não consegue sequer perceber se a pista está curtindo o som ou não. Às vezes, você vê um DJ tocando ali, super alegre, super feliz, mas a pista não está correspondendo, ou seja, está tocando só pra ele. Ter essa vivência de pista e interpretar os sinais do público é muito importante. Respeitar o som de warmup, o som de headline, o som de fechamento de festa, isso tudo é fundamental. Precisa ter esse bom senso de entender que a festa a noite tem uma construção e que o som de um DJ tem que dar as mãos pro som do próximo e do anterior, senão realmente fica desconexa a construção musical daquela festa. Por consequência, isso acaba que corta a onda do público. Interpretar isso e mudar seu set – adaptando – caso veja que o público não está curtindo, até conseguir perceber a resposta do público vibrando com.
Quero aproveitar também para agradecer a Colors DJ, o carinho comigo, toda a atenção que vocês deram ao meu trabalho e a oportunidade de poder estar participando desta seção. Realmente pra mim está sendo uma honra participar e queria agradecer fortemente a todos da equipe.