DESTAQUE | ZANDZA BERG: A Força Feminina no Psytrance Brasileiro

Com uma trajetória marcada por empoderamento e espiritualidade, Zandza Berg compartilha suas experiências e seu propósito como DJ e produtora na cena Fullon Morning brasileira

Nesta entrevista especial, Zandza Berg compartilha sua trajetória no psytrance. O que significa, para ela, ser uma mulher de DESTAQUE neste universo musical. A DJ reflete sobre sua dedicação ao Fullon Morning, autoconhecimento e propósito. O que move Zandza vai além da música eletrônica. Seu desejo é abrir espaços de expressão para mulheres e construir uma comunidade inclusiva e forte.

Zandza Berg representa o psytrance brasileiro com orgulho, especialmente a vertente Fullon Morning. Sua presença reflete o movimento que ela incorpora, integrando tanto a energia vibrante das pistas quanto o propósito espiritual que considera essencial. Para Zandza, o psytrance é mais que um som; é uma ferramenta de expansão da consciência e uma conexão profunda com seu público, algo que busca expressar em cada apresentação.

Nesta conversa inspiradora, ela revela detalhes de seu início na música, de sua formação como DJ e de seu compromisso com o empoderamento feminino na cena eletrônica. Descubra como Zandza ressignificou seu propósito durante a pandemia, o processo criativo por trás de sua track autoral “Minha Evolução” e os projetos futuros, incluindo novos lançamentos e colaborações. Conheça uma das DJs mais autênticas e engajadas da atualidade nesta entrevista exclusiva!

Quando foi que você percebeu pela primeira vez sua paixão pela música e como essa relação se desenvolveu na sua infância?

Desde pequena, sempre estive conectada à música, mas foi na pré-adolescência que realmente percebi essa forte ligação. Passei boa parte da minha formação em uma escola adventista, onde participei de todos os eventos musicais, como o coral da escola. Naquela época, eu pedia insistentemente aos meus pais para me matricular em aulas de canto e teclado, mas isso nunca se concretizou. Com o passar do tempo, a vida tomou outros rumos, mas esse sonho ainda permanece na minha lista de metas.

Você mencionou que na adolescência assistia MTV o dia inteiro. Quais foram as bandas e artistas que mais te inspiraram nessa época?

Tudo que envolvia o pop me fascinava: Backstreet Boys, Spice Girls, NSync, Five, Ace of Base, Michael Jackson, Christina Aguilera e Madonna são apenas alguns exemplos. Passava horas no meu quarto treinando as coreografias e decorando as letras, sempre me esforçando para cantar cada música da forma correta. Como as letras eram em inglês, eu escrevia no papel a minha interpretação fonética para conseguir pronunciá-las corretamente. Rsrs!

Como foi a experiência de ir à sua primeira balada matinê aos 16 anos? Isso teve um impacto na sua escolha de seguir carreira na música?

Com certeza! Foi nesse momento que conheci o primeiro clube onde tocava Dance Music, o estilo de música eletrônica que me conquistou primeiro. Naquela época, dançamos ao som desse gênero com os icônicos passinhos do poperô quem é da minha idade certamente se lembra! Eram movimentos em que usávamos bastante as mãos ao redor da cabeça.  

O que te atraiu especificamente na rádio Energia 97 e no cenário da música eletrônica? Como foi conhecer as diversas vertentes da e-music?

Eu sempre ouvia o programa Energia 97, que ainda existe, e que toca o melhor do pop e da dance music. Também curtia o Planeta DJ da Jovem Pan. Havia outros programas que não lembro o nome, mas que apresentavam diversos estilos de música eletrônica; lembro que o Mark sempre se apresentava no programa Terremoto. Foi incrível conhecer os gêneros mais undergrounds da música eletrônica por meio do rádio e em casa. Isso me influenciou muito a começar a frequentar festas como XXXperience, Skol Beats, Broadway (que ficava na Avenida Marquês de São Vicente) e a Nation, uma matinê de domingo em Pinheiros. Com apenas 19 anos, me tornei clubber e não perdia uma oportunidade de ir a essas festas; eu realmente adorava!

Você se lembra da sua primeira rave de psytrance? O que te encantou nesse estilo a ponto de decidir mergulhar nele completamente?

O psytrance tem o poder de conduzir à meditação e à expansão da consciência por meio de elementos sonoros específicos, promovendo reflexões profundas sobre si mesmo, enquanto também cria uma forte sensação de comunidade. Foi essa combinação que me encantou e me levou a escolher essa vertente como minha principal expressão artística na música há mais de 20 anos.

O que te motivou a fazer o curso de DJ em 2004? E como foi começar a investir nos seus primeiros equipamentos?

Minha primeira rave de psytrance foi em 2002 e, após dois anos, percebi que queria me aprofundar ainda mais no mundo psicodélico por meio da arte da mixagem. A ideia de oferecer uma experiência sonora à pista, baseada nas minhas próprias vivências, me fascinava. Nesse período, comecei a observar mais os DJs e a me imaginar no palco, além de me aproximar dos amigos DJs que me inspiravam. Também me inspirei muito nas poucas mulheres que tocavam na época, como Kitty, Akasha (que não se apresenta mais), Thata (Altruism) e Rosa Ventura. Em julho de 2004, decidi fazer o curso de DJ na escola DJ Ban e, em dezembro do mesmo ano, comprei meus primeiros equipamentos: um par de CDJ 100s da Pioneer e um mixer VMX 300 da Behringer. Senti que precisava ter um espaço em casa para treinar e aprimorar minhas habilidades.

De 2004 a 2009, você se dedicou à vertente Fullon Morning, mas depois deu uma pausa. Quais desafios pessoais te levaram a essa pausa, e como foi o processo de voltar à música em 2015?

Naquela época, o psytrance enfrentou uma queda, e o low BPM começou a ganhar força. Eu até tentei tocar electro house para diversificar, mas isso não ressoava com meu coração. Além disso, não tinha outra fonte de renda além da carreira de DJ, então precisei dar uma pausa para me dedicar a uma nova trajetória profissional. Durante todo esse tempo fora da cena, continuei ouvindo as músicas que tinha gravado em CDs (ainda possuo um case com quase 400 CDs, rsrs) e sempre tive a sensação de que um dia retornaria. Em 2015, esse momento finalmente chegou. Comecei a pesquisar sobre como estava a cena, quais artistas ainda estavam ativos e resolvi voltar. Sou muito grata por ter sido tão bem recebida por todos nesse retorno.

FOTO COM O CASE DE CD
A partir de 2018, você começou a dar aulas de mixagem. O que te inspirou a compartilhar seu conhecimento com outras mulheres nesse universo ainda predominantemente masculino?

Essa predominância masculina na indústria da música eletrônica é preocupante. Precisamos de mais mulheres nesse espaço, não apenas por questão de representatividade, mas também para lutar por mais igualdade. Fica muito difícil ter voz quando somos minoria. O preconceito enraizado é um dos maiores desafios, pois muitas vezes é sutil e difícil de identificar. Cabe a nós, mulheres, tomarmos atitudes para mudar esse cenário. Percebo que muitas mulheres têm o desejo de se tornar DJs, mas o medo do julgamento muitas vezes impede que elas deem o primeiro passo. Além de oferecer aulas, eu faço questão de incentivar essas mulheres a seguirem em frente, proporcionando todo o apoio necessário. Estou sempre disposta a ajudar, a “pegar no colo” quando precisa e até a puxar a orelha, se for necessário, rsrs

ZANDZA DANDO AULA
Durante a pandemia, você ressignificou seu propósito como artista. O que mudou na sua visão sobre o que significa ser DJ e produtora?

A pandemia foi um marco importante na minha jornada de descoberta do meu propósito de vida com a música. Hoje, vejo que subir no palco vai muito além de apenas dar play e fazer boas mixagens (isso é o básico). Durante esse período, me aproximei mais da espiritualidade e tudo se tornou mais claro para mim. Meu objetivo é transmitir ao público a energia da busca pelo autoconhecimento e pela espiritualidade, que é fundamental no psytrance. Infelizmente existem alguns “artistas” que ainda estão perdidos em seu propósito, oferecendo maus exemplos para seus seguidores. Quero ser um símbolo de resiliência, força e determinação, e desejo que as pessoas que me assistem sintam isso apenas com meu sorriso (e já tenho recebido feedbacks que confirmam essa conexão). Mas isso não é o suficiente para mim. Por isso, decidi criar minhas próprias músicas, buscando ter um maior poder de transmitir mensagens e insights.

Como foi o processo de criação do seu mashup em 2023, que misturava Phanatic e Shakira? O que essa faixa representou para você e seu público?

Eu queria trazer uma mensagem de empoderamento feminino para a cena do psytrance, pois isso está profundamente alinhado com meu propósito. A música Bzrp Music Sessions, Vol. 53 foi criada como uma resposta ao ex-marido de Shakira, o jogador de futebol Piqué, que a traiu. Para mim, Shakira demonstrou uma inteligência e coragem impressionantes ao transformar uma experiência negativa em algo positivo, criando uma letra provocativa que empodera mulheres que passaram por situações semelhantes (infelizmente, sabemos que isso acontece com frequência). Ser uma artista mundialmente reconhecida e ter um sucesso consolidado não impede que traições ocorram. Quando fiz o mashup, essa música estava em alta, e Shakira conquistou 14 recordes mundiais reconhecidos pelo Guinness World Records. Preciso dizer mais alguma coisa? rsrs

Em 2024, você lançou sua primeira track autoral, “Minha Evolução”. Qual foi a mensagem que você e Grace Grey quiseram transmitir com essa música?

A “Minha Evolução,” é uma track que celebra o empoderamento feminino e a espiritualidade, mesclando Fullon Morning e Low BPM.

Eu queria uma voz feminina em português que transmitisse força e espiritualidade, encontrei na Grace a parceira ideal, que trouxe sua produção musical e talento vocal.

A música, que levou um ano e meio para ser concluída, foi apresentada pela primeira vez no palco da Psymind Resistência, proporcionando uma experiência de “cura espiritual” para o público.

Após a apresentação, a música se tornou um símbolo de liberdade e empoderamento, com fãs compartilhando relatos emocionantes.

Com essa colaboração, acredito que eu e a Grace quebramos barreiras na cena eletrônica, reforçando a presença feminina e inspirando outras mulheres a reconhecerem sua força.

A track está disponível em todas as plataformas digitais e conta com mais de 100k de plays até o momento.

LANÇAMENTO | PSYTRANCE & LOW BPM: ZandZa Berg e Grace Grey elevam a Música Eletrônica com uma Homenagem ao Sagrado Feminino!

Sabemos que você está trabalhando em uma terceira track autoral. Pode nos dar mais detalhes sobre esse novo projeto e como ele reflete sua jornada artística?

Vamos lá para pequenos spoilers: tem haver com os anos 90 que mencionei no início da entrevista e novamente com empoderamento feminino. Será uma track feat com outra artista mulher da cena trance.

Como você enxerga a importância de projetos como o @soundsistersmusic na promoção da igualdade de gênero na música eletrônica? Que legado você quer deixar com esse trabalho?

A Sound Sisters surgiu para complementar todo o trabalho que venho desenvolvendo em prol do empoderamento feminino na cena eletrônica, oferecendo mais oportunidades e visibilidade para artistas mulheres. As alunas que se formam como DJs comigo já têm uma festa programada para estrear, o que é realmente empolgante. Eu gostaria de fazer esse projeto acontecer todos os meses, mas, infelizmente, ainda não consigo viabilizá-lo com o tempo disponível. Assim, estou realizando as edições na medida em que consigo encaixar na minha agenda. Já tive várias provas de que estou no caminho certo, como o convite para levar o projeto a Portugal, que foi um divisor de águas. Além disso, recebi recentemente um convite para uma edição em 01/01/25, o que me motiva ainda mais a continuar essa jornada.

Por fim, quais são suas expectativas para o futuro em relação à sua carreira musical? Podemos esperar mais colaborações ou novos gêneros explorados?

Para o futuro, desejo estar com meu live de Fullon Morning com faixas autorais solo e colaborações com outros artistas, não apenas mulheres. Quero concretizar o sonho de colaborar com artistas que sempre admirei desde o início da minha carreira. Quanto a novos gêneros, sim! Tenho um projeto novo a caminho que explora outra vertente, integrando uma nova persona que está sendo criada para atender a uma demanda que está cada vez mais próxima do meu dia a dia e que já tem data, hora e local para estrear.

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Dih Aganetti

Editor-Executivo e Repórter
Edição: Orly Fernandes

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