De Belém para o Boiler Room: A trajetória de uma DJ que transformou o Tecnomelody e Tecnobrega em bandeiras globais da música eletrônica
Miss Tacacá, a DJ paraense que é DESTAQUE, saiu das festas locais para conquistar o mundo, está revolucionando a cena da música eletrônica brasileira. Com uma sonoridade única que mescla o vibrante Tecnomelody e o contagiante Tecnobrega com elementos da música eletrônica global, ela conquistou palcos icônicos como o Boiler Room no Rock The Mountain. Sua jornada, marcada por inovação e representatividade, a tornou um símbolo da cultura amazônica e um ícone da nova geração da música eletrônica. Ao levar o som das periferias paraenses para o mundo, Miss Tacacá prova que a Amazônia é um celeiro de talentos e tendências globais.
O Tecnomelody e o Tecnobrega nunca foram tão globais. Graças a Miss Tacacá, esses ritmos emblemáticos da Amazônia conquistaram o mundo. Com sua sonoridade única, que mescla as batidas das periferias paraenses com influências internacionais, a DJ paraense colocou o Pará no mapa da música eletrônica. Além de seus sets eletrizantes, Miss Tacacá é conhecida por seus projetos inovadores, como o Taka Night e “Transamazônicas“, que visam promover a cultura paraense e empoderar a comunidade LGBTQIAPN+. Descubra mais sobre essa artista que está transformando a cena musical brasileira.
Nesta entrevista exclusiva para a Colors DJ Magazine, Miss Tacacá revela os bastidores de sua meteórica ascensão. A DJ DESTAQUE compartilha os desafios de transformar festas locais em fenômenos globais, fala sobre a importância da representatividade e a paixão por seus projetos sociais. Prepare-se para conhecer uma artista inspiradora que está usando a música como ferramenta de transformação.
Lembra da época em que você era só uma criança indo pra escola com o pendrive no bolso, pedindo pro motorista do ônibus colocar o som pra você e seus colegas? Como surgiu essa paixão pela música, e o que esses momentos significavam para você?
A música vem em um lugar muito grande de libertação, principalmente falando em questões visuais, já que eu sempre fui muito ligada ao visual também, mas quando eu era adolescente sempre gostava de associar músicas a momentos ou pessoas, então era sempre especial.
Como foi essa primeira vez tocando oficialmente numa festa, no seu aniversário de 18 anos? Foi um ponto de virada para você querer seguir nessa carreira?
A minha vibe em ser DJ vai para além do amor pela música, é de estar em um lugar de destaque artístico, mas ele surge muito mais pela necessidade de ganhar dinheiro e fazendo algo que eu gostasse, no meu aniversário de 18 anos, convidei 300 pessoas e vi a possibilidade de fazer uma festa e ganhar dinheiro com isso, mas depois do meu aniversário e antes da minha festa, já havia surgido 2 convites pra tocar em outros lugares, e isso só ganhou mais força.
Quando decidiu criar sua própria festa e se tornar o DJ residente, quais foram as maiores lições e desafios que você enfrentou nessa fase?
Aprendi que ser artista e produtora cultural não era fácil, e que sendo uma iniciante foi muito desafiador, eu tinha só 18 anos e aprendi tudo sozinha, venho de uma criação conservadora, de pai e escola militar, então era tudo muito novo, mas eu sempre acreditei nos meus sonhos.
Em 2017, você se muda para São Paulo e toca na Chernobyl em 2018. Como foi a sensação de tocar numa nova cidade e em um evento como esse? Que impacto teve essa experiência em você como artista?
Bom, a Chernobyl era produzida por grandes ícones que é a XD Erica e Slim Soledad, que são como irmãs pra mim, elas me acolheram e me apresentaram pessoas e lugares que só agregaram na minha carreira.
A Slim Soledad foi uma grande incentivadora para você entrar no universo do Tecnomelody e Tecnobrega. O que esse apoio significou pra você, e como foi explorar esse estilo musical?
Eu passei alguns meses morando com a Slim, e um dia a gente foi arrumar casa e coloquei uns bregas e melodys pra tocar e a gente sempre ficava cantando e ela virou pra mim e disse PQ VC NAO FAZ UM SET DESSE TIPO DE MÚSICA? E na mesma hora aceitei a dica e fiz, e desde então nunca mais parei.
Você teve o primeiro contato com uma CDJ graças ao BadSista, e essa experiência ainda incluiu um convite para tocar no Carnaval de SP em um coreto na Praça da República. Como foi esse primeiro contato com o equipamento e, mais ainda, essa estreia no Carnaval?
Fui com medo mesmo hahahaha, em SP todas as festas tem o seu equipamento, diferente de Belém que na época todo mundo só tocava com um computadorzinho, e tava ótimo, mas foi ali que eu aprendi o basicão que me salvou, e justo com o BadSista que é um dos maiores que temos.
Durante a pandemia, você idealizou o festival online Taka Night, envolvendo 42 artistas LGBTQIAPN+ e destinando parte dos fundos para cestas básicas para pessoas com HIV. Como foi organizar um evento com esse propósito, e que aprendizado você tirou dessa experiência?
Eu sempre me preocupei em ter uma passagem memorável, e que trouxesse mudança para a cultura e para as pessoas que são iguais a mim, eu tinha visto um festival LGBT e tive o feeling de fazer um inteiramente nortista, e existe uma ONG em Belém que se chama Arte Pela Vida, que dá suporte a pessoas LGBTQIAPN+ com HIV em situação vulnerável, e foi acontecendo, foi lindo, inclusive está disponível no YouTube TAKANIGHT.
Você também participou do Burning Man na versão online, criando um set-filme que hoje está no site do Sesc. O que inspirou esse projeto e como foi a reação do público a essa abordagem visual e musical?
Eu sempre tive uma ligação muito forte com visual, sempre gostei de gravar vídeos, desde criança eu levava a câmera pra escola e ficava gravando vlogs e paródias com meus amigos, fiz 4 anos anos de Teatro, eu já tinha lançado um set visual no YouTube, e quando tive essa oportunidade de fazer esse trabalho, fiquei bem feliz, com apoio do Fernando Nogari, um grande amigo diretor.
No aniversário de 8 anos da Mamba Negra, você tocou pela primeira vez em uma festa de música eletrônica. O que esse evento representou para você na sua trajetória musical?
Isso representou uma porta nova se abrindo, a Mamba Negra é uma das festas mais importantes do cenário eletrônico brasileiro, e colocar o Tecnomelody e Tecnobrega que é Música Eletrônica da Amazônia em evidência, foi a realização de um sonho.
E a experiência de estar numa campanha publicitária para o Mercado Livre no Dia da Visibilidade Trans? Como foi se ver nesse tipo de projeto e o impacto que isso trouxe para a visibilidade da sua carreira?
No início da minha carreira eu sempre fiz alguns trabalhos como modelo, em clips com o Matheus Carrilho, Gretchen, Martte, acho que ta faltando, mas faz tanto tempo que nem lembro, mas eu sempre gostei de aparecer hahaha, e fazer essa campanha ao lado de pessoas que eu admiro e que eu me vejo, e conhecia fazia um tempo, foi bem especial.
Recentemente, você também participou de campanhas para a Beck’s. Qual a importância de fazer parte de ações publicitárias que dialogam com temas sociais relevantes?
Fazer campanhas fora do contexto que demarca gênero e raça é muito foda, porque você se ve ali, sem parecer estar cumprindo uma cota, e sendo muito bem remunerada, que é o melhor! Foi incrível, a Becks sempre foi uma grande parceira e aliada, estive junto com a marca por um bom tempo, inclusive toquei no festival URBECKS, eles me levaram pro Primavera Sound, várias coisasss, amo a verdinha.
No prêmio Pretas Potência, você foi curadora na categoria musical. Como é essa experiência de curadoria e como você enxerga o papel da música para impulsionar talentos pretos e periféricos?
Foi uma honra poder exercer esse papel de curadora em um evento como esse, isso me serviu de impulso para novas sensações, visões e também uma nova experiência, foi realmente gostoso e realizador.
Um momento marcante foi abrir o show da Joelma no festival Turá no Ibirapuera. Como foi dividir o palco com um ícone da música brasileira, e qual foi a recepção do público?
A recepção do público foi Mara, foi minha primeira vez abrindo o show da diva e tocando no Ibirapuera, realmente uma grande realização de sonho.
Você também assumiu a direção de eventos na 1ª Galeria de Arte Negra do Brasil, a HOA Gold. Como a arte visual e a música se conectam para você, e que impacto quer deixar neste espaço?
Todas as forma de arte se conectam, mas eu estava ali mais na direção dos eventos, desde o zero, contratação, acompanhar visita técnica, montagem, desmontagem, Line-up, produção artística, financeiro, absolutamente tudo, passava por mim, e ainda era DJ residente haha, é um prazer trabalhar com a Igi, e fazer esse eventos tão importantes pra nossa comunidade.
Em 2023, você fez seu primeiro Boiler Room no Rock The Mountain. Como foi essa experiência e a energia de se apresentar num formato tão icônico?
Foi sensacional, ser a primeira DJ a fazer um set totalmente voltado pra música eletrônica feita nas periferias do Pará, levar o Tecnomelody para maior vitrine de música eletrônica do mundo foi realmente um grande marco na história da música paraense.
E falando em 2023, ser indicada ao prêmio WME da Billboard como Melhor DJ do Ano deve ter sido incrível! O que significa esse reconhecimento para você, especialmente vindo de uma premiação voltada para mulheres na música?
Foi realmente uma surpresa!! Eu tava no Rio de Janeiro quando tive essa notícia, e foi uma explosão de sentimentos, sentir que eu estava e estou no caminho certo, ter o corpo que eu tenho, tocando o que eu toco e de onde venho, foi muito especial, e a homenageada dessa edição era a Dona Onete, então foi muito mais especial.
Recentemente, o Museu da Diversidade te convidou para expor sua obra “Há um Lugar Feito Por Nós: Transamazônicas”. Pode nos contar mais sobre a inspiração por trás dessa obra e como foi ver sua criação exposta em um espaço tão significativo?
Como eu já disse, tenho uma ligação muito forte com o audiovisual, então quando fui convidada para expor uma obra, a primeira coisa que eu pensei foi em fazer uma obra audiovisual, e que retratasse um pouco da minha trajetória e de outras travestis que vem de onde eu venho, uma de 60 e de 16 anos.
Você idealizou e produziu um Boiler Room em Belém do Pará, que exalta a cultura das aparelhagens da periferia paraense. Qual foi o impacto desse projeto para a cena local e o que você deseja levar para o mundo com essa iniciativa?
O impacto desse projeto foi polarizar mais a cultura do Pará, e principalmente a nossa cultura musical que é muito forte, e ser reconhecida como música eletrônica mundialmente por uma plataforma gigantesca de música eletrônica, foi realmente histórico!
Olhando para o futuro, quais são seus próximos sonhos e projetos na música? O que você espera conquistar e representar para a cena musical que você defende?
Bom, eu pretendo rodar o mundo inteiro levando minha cultura, em grandes festivais, com um show que eu sempre sonhei, com pirotecnias, quero construir minha própria aparelhagem, quero poder me aperfeiçoar cada vez mais, e começar a produzir também, quero muito poder comprar uma casa e dar suporte pra minha família.