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DESTAQUE | Lycra Preta, um dos destaques da House Music atual

Bruna Moura, aka Lycra Preta, é, hoje, um dos destaques da cena House no Brasil. A DJ vem colecionando apresentações em diversos clubes e festas do cenário underground. Nascida em Curitiba, ela cresceu entre diferentes cidades, sendo Campo Grande um marco. Apaixonada pela House Music, Lycra Preta explora em suas apresentações, o melhor do gênero. Ela nos contou um pouco sobre sua carreira, o que, para nós da Colors DJ, foi uma grande honra: ter uma artista tão querida como um de nossos destaques.

Certo dia, final de 2019, enquanto eu ouvia Madonna, eu cantei Like a Virgin errado, pronunciando Lycra Virgin e foi como se eu tivesse feito um download mental de tudo que a música representa pra mim. Elástica, permeável, sem forma definida, que possibilita liberdade e expressão do corpo. A cor preta é básica, literalmente, a raíz da House Music é a música preta e de uma forma ou de outra, Jazz, Soul e a Disco estão sempre presentes no meu som.

Desde sua infância, você morou em diferentes estados, fale um pouco sobre esses lugares.

Nasci em Curitiba e morei em outras sete cidades, minha única escolha foi Florianópolis, onde vivo atualmente. A mudança para cá foi motivada pela profissão, já que eu percebia uma ascensão da região Sul do Brasil no cenário da música eletrônica. Antes em Campo Grande, gozei dos tempos áureos da cidade quando ainda havia clubes, desde o nascimento do clube D-EDGE, onde tive minha primeira residência e o Garage, que também tinha uma unidade em Cuiabá.

Crédito Lara Decker @laradecker

Essa diversidade regional, certamente influenciou na sua bagagem musical, fale sobre.

Musicalmente, não tanto, pois nunca consumi música regional. Mas é impossível não ter uma mente mais aberta quando você é ensinado desde sempre que tudo é passageiro e mutável. Conhecer costumes e culturas diferentes a todo tempo fez de mim uma pessoa bem desapegada, acho que transmito isso na música quando não me prendo a título/rótulo/gênero algum.

Crédito: Matheus D’Almeida, @matheusdealmeidafotografia
Crédito: Matheus D’Almeida, @matheusdealmeidafotografia

Como você começou a tocar House?

Apesar de ter vivenciado o “boom” do Drum & Bass e ter como tutores e referências os principais artistas deste gênero, na época, as noites que eu frequentava eram de House e Techno. Assim, quando me interessei, eu tinha esses dois vieses ao meu alcance e meu encantamento pela House Music prevaleceu desde o início e segue como a minha bandeira principal até hoje.

E o nome “Lycra Preta”, como surgiu?

Foi meio que do nada. Durante todos esses anos, eu me sentia insatisfeita de usar meu nome de batismo, sempre desejei um nome que representasse o som que eu toco. Não adiantava as pesquisas ou brainstorms que eu fazia, nada soava como eu queria. Certo dia, final de 2019, enquanto eu ouvia Madonna, eu cantei “Like a Virgin” errado, pronunciando ‘Lycra Virgin’ e foi como se eu tivesse feito um download mental de tudo que a música representa pra mim. Elástica, permeável, sem forma definida, que possibilita liberdade e expressão do corpo. A cor preta é básica, literalmente, a raíz da House Music é a música preta e de uma forma ou de outra, Jazz, Soul e a Disco estão sempre presentes no meu som. As iniciais também dizem muito sobre mim, LP – quando surgiu “Lycra Preta”, eu tinha acabado de decidir que voltaria a tocar com vinil. Além do nome, esse posicionamento foi fundamental para eu me redescobrir.

Você fala bastante sobre sua passagem por Campo Grande, você cresceu na cidade?

Cheguei na pré-adolescência, uma fase interessante de descobertas, como acredito que pra todo mundo seja. Eu já me interessava pela dance music que tocava na rádio, mas o ponto de partida foi a moda. As cores vibrantes da loja de roupas do Renato Ratier me enchiam os olhos e, logo, eu estava dentro da loja quase todos os dias pra ouvir a música que eu só escutava lá dentro. Quase não comprava lá, pois eu fazia as minhas próprias roupas, mas de tanto azedar os vendedores veio o convite de ir no D-EDGE e ver um DJ tocar de perto, isso rolou quando eu tinha 12 anos e o DJ era o Mau Mau.

Dentro da House Music, quais são suas principais influências?

Comecei fortemente influenciada pelos DJs que eu via com frequência, Mau Mau, Luiz Pareto e Renato Cohen. Tocando, tudo que vinha das labels Classic Music Company e Robsoul me interessavam. Atualmente, eu tenho voltado os olhos aos artistas mais próximos de mim. Me encanto com todas as produções do Jack District, com o jogo de cintura do Ney Faustini ao transitar entre a House e o Techno e com a energia que o DJ Marky deposita em suas apresentações, esses sim, considero influências reais para mim.

Fale um pouco sobre lugares em que você se apresentou e quais marcaram.

A gig que mais me marcou foi o retorno da festa Jackin no extinto clube Beehive em Passo Fundo em 2021. O público da cidade já tem fama de ser acolhedor, mas, em uma festa dedicada a House Music, sentir todo esse carinho depois de 2 anos de molho por causa da pandemia foi muito foda. Outro momento especial foi a Marky & Friends no ano passado tocar pela primeira vez um set todo de Drum’n’Bass na festa do cara, foi uma baita responsa e eu me senti muito feliz, sempre relembro dessa noite com emoção. No início da carreira, tive noites memoráveis fazendo warm-up para alguns dos DJs que eu mais gostava, Mark Farina, Derrick Carter, Brett Johnson… Foram muitos! Agradeço a confiança de ter encarado até um estádio de futebol, mas, no fim de tudo, o que marca realmente é quando eu consigo ver no olho de alguém na pista algum tipo de transformação. Tocar em todos os sentidos.

Você falou sobre olhar no olho de alguém que está na pista e ver uma “Transformação, tocar em diferentes sentidos”, fale mais sobre.

“Levar alegria” é o propósito mais banal de um DJ que eu já ouvi, não que isso não seja bom o suficiente. Claro que todo mundo sai de casa pra se divertir e quebrar a rotina, se relacionar, esquecer dos problemas ou coisas assim. Mas, como indivíduo, único e singular, cada um tem um anseio particular muitas vezes oculto. Sabe quando você vai a um museu ou galeria de arte e volta para casa cheio de inspiração? Ou quando você viaja e, ao ter contato com outra cultura, faz sua mente fritar com novas ideias? Vamos à vida prática, você está fazendo o mesmo caminho de sempre para o trabalho e distraído com o malabarista do sinal e tem um super insight, aquele momento Eureka! Bem, são essas experiências que eu gostaria de proporcionar às pessoas. Se ficar o silêncio em meditação, por exemplo, pode acelerar esse processo, porque não uma imersão na música não seria capaz de criar e esses espaços vazios na mente para entrar novo pensamento? Isso é transformação.

Crédito: Gica Flores, @floresgica

Quais artistas já causaram esse efeito em você?

Uma das primeiras vezes que me conectei mais profundamente comigo mesma durante uma festa eu tinha uns 14 anos, o responsável por isso foi o big boss da Classic Music Company, Luke Solomon. Em um estado hipnótico, meu coração transbordou de amor por tudo que envolve culturalmente a House Music. Foi uma resolução emocional que aconteceu ali e eu chorei em um estado de graça. Insights, ideias, soluções práticas do dia-a-dia são mais comuns e trazem igualmente muita transformação desde que eu me lembre e aplique na vida. Eu costumo pegar o celular e mandar mensagem para mim mesma quando isso acontece e funciona.

Crédito:Lara Decker, @laradcker

Você hoje reside em Floripa, como foi esse processo de se encontrar por lá e como está a cena house local?

O primeiro ano foi difícil eu encontrar minha crew, como deve ser, as festas undergrounds não estão nos holofotes. Era muito mais fácil eu achar casas noturnas tocando Deep House de novela e música comercial com belíssimas sulistas em volta de um DJ que sobrevive à base de creatina. Logo, eu conheci a Sounds in da City e a Troop, festa que hoje sou residente. A cena da cidade permanece pequena, mas a região como um todo tende só a crescer. Eu boto maior fé e amo a cidade, mas ainda não sinto que achei meu lugar no mundo. Enquanto isso, eu faço daqui o melhor lugar para se estar, fomentando novos projetos e edificando minha festa, a Duna.

Hoje quais são os planos da Lycra Preta para o futuro?

Tenho me dedicado muito à produção musical, interesse que antes eu não tinha. Hora ou outra sai algo que acho interessante, mas ainda sonho com o momento que tocarei com gosto uma música minha. Além de expandir meu público em outras regiões do Brasil e tocar em outros países, esta é minha maior meta. 🙂

Créditos: Matheus D’Almeida @matheusdealmeidafotografia

Tiago Jerônimo

Tiago Jerônimo

Chefe de Reportagem, Colunista e Repórter na cena Clubber

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