A nossa matéria de destaque é dedicada a quem é destaque por onde passa e isso não é diferente na cena Psy! Lorenzo Zimon vem ganhando cada vez mais espaço e visibilidade na cena eletrônica deixando sua marca registrada.
Natural da capital paraibana, João Pessoa/PB, hoje, com 26 anos Lorenzo Cavalcante Carvalho Mendes Pereira, reside atualmente em Guarabira/PB, rainha do brejo paraibano, esse artista incrível se abre nesta matéria para nos contar um pouco de sua extraordinária trajetória de vida e como o Psytrance o acompanhou em todas as reviravoltas de provas de resistência e existência que essa vida já lhe deu e como isso naturalmente o tornou um dos artistas mais aclamados da cena eletrônica no Nordeste.
A música esteve presente na sua vida desde sempre e ele sempre teve uma paixão e conexão enorme com o “produzir”, como se literalmente essa fosse sua verdadeira expressão de viver. Lorenzo Zimon traz em sua trajetória marcas de glórias e muita luta contra o preconceito enfrentado por ser um homem trans que apesar das dificuldades enfrentadas, jamais abaixou a cabeça, desistiu de si e de seus sonhos. Confira agora a entrevista que ele concedeu a Colors DJ:
Enquanto homem trans sendo parte da comunidade LGBTQIAPN+, deve ser um orgulho ter o trabalho reconhecido e aclamado por tanta gente, né mesmo?! Conta para a gente qual o sentimento de representatividade na cena Psy?
Minha carreira musical começou desde muito novo, sempre tive banda, toquei instrumentos e sempre fui válvula de me expressar. A música me conectava comigo mesmo, sempre me salvava de muita coisa. Após sair de casa, acabei começando por brincadeira mesmo, e cada vez mais fui me envolvendo no cenário eletrônico. Me mudei pro sertão e lá fui o pioneiro no Psytrance, onde trouxe um estilo ainda meio que desconhecido, me juntei a um selo de festa chamado Lhovas, que me abraçou e tornamos a festa um selo que levava as pessoas que estavam se destacando no cenário do tribal e trance, até chegar a Astrologic, minha festa que foi a primeira festa do sertão exclusiva de Psytrance.
No começo, ninguém sabia que eu era trans, isso começou a mudar em 2019. Eu entrei na cena em 2014, desde então muita gente trabalhava comigo não sabia até que eu comecei a entender que precisava expressar mais e lutar mais, por entender que tantas pessoas precisavam se conectar comigo além da música, muitos se identificaram com minha história de resistência, de luta, e conforme fui alcançando mais pessoas, fui me expressando mais. Até porque, temos pessoas totalmente preconceituosas e, talvez, eu não tivesse entrado em espaços com pessoas sabendo sobre minha transição, como temos até hoje. Tem produtores de eventos que nunca me colocaram por preconceito e não aceitaram certas coisas e, a partir disso, colocam a culpa “no meu jeito”… É complicado, difícil de entender, porém real. E ainda dizem que compreendem certas pessoas, mas uma transição pra eles já é demais! Ainda bem que, em contrapartida, tenho muito mais apoiadores! Minha vocação para comunicação sempre foi nítida e com o crescimento do trabalho fui somando com pessoas que cada vez mais me agregaram, a Theodora da Start, por exemplo, quem carinhosamente tenho como parceira pra vida e chamo de mãe, começamos e andamos muito pelo Nordeste, disseminando nosso trabalho e, claro, fomos os projetos que chamaram atenção de outros artistas para agência. Muitas parcerias fomos fazendo e conhecendo e, aí, foi tudo dando certo e se desenrolando.
Nem as dificuldades, nem o preconceito foram capazes de parar esse artista incrível, que só vem ganhando mais espaço e destaque nos últimos tempos. Lorenzo arrasta uma multidão de seguidores e fãs por onde passa, impulsionando cada vez mais o seu projeto.
Me sinto feliz demais em poder me conectar com tantas pessoas, as vezes nem acredito no trabalho que já fizemos e no quando já alcançamos. Hoje em dia, produzo e trabalho com pessoas que sempre admirei. Tocava música deles e hoje estamos juntos, é uma honra! Vou mostrar meu trabalho e estar no meio dos melhores, mostrando que podemos ser capazes de qualquer coisa. Até porque eu comecei sem nenhum estudo, curso ou computador. Bom, lembro até hoje do computador que desliga no meio do apresentação. Ou que já fui expulso de palco por não saber tocar. Mas, fico feliz em poder representar tanta gente, o Psytrance é algo de liberdade e eu sempre prezei por essa ideologia.
Você vem cada vez mais se caracterizando como um artista completo! Literalmente não para! Sempre em busca de aperfeiçoamento e coisas novas a serem apresentadas, embarcando de cabeça em todas as oportunidades que aparecem na sua frente, encarando e matando no peito. Conta pra gente como é ser DJ trans na cena, além de produtor, manager e agenciador?
Sempre fui muito bom com mídias sociais e isso me deu um destaque servindo como referência para alguns colegas de trabalho, e também, foi onde pude também colaborar com muitas carreiras. Trazer a questão do digital influencer para o meu nicho fez total diferença, acompanhei e estive junto de artistas e páginas que são referências hoje em dia do Psytrance. Minha intenção sempre foi ser uma marca lembrada e acredito que consegui fazer isso, não tem como não associar meu nome ao Psytrance e a referência das mídias digitais. Trabalhamos com vários artistas na agência, esse ano também foi onde me descobri em meio a política e acabei gerindo a mídia de um candidato a deputado. Amei a experiência! Em 2023, tenho planos de grandes mudanças (literalmente) com muita música e novidade, então continuem acompanhando pra gente ver o que vai dar.
Conta pra gente como você define o seu gênero musical na cena? O que o projeto ZIMON trás diferente dos demais?
Meu projeto, assim como eu, é livre de padrões, toco aquilo que me satisfaz e me faz bem. Gosto de levar a galera pra cima, deixar as pessoas “high” alegres felizes, estou me enquadrando no Psytrance que é o gênero ao qual me dediquei nos últimos 8 anos, mas não vejo impedimento de tocar mais um low music e trazer coisa nova. Acho que minha intensidade e energia é algo totalmente diferente em cima do palco. E também, meu maior marco sempre vai ser a On The Ground que foi um edit que fiz para um amigo que se foi. Quando toco essa música, não sei explicar como me sinto, só sei sentir mesmo! Faço da música uma história e conto para meus amigos (não tenho fãs, tenho amigos) que vão me acompanhar e entrar nessa vibe.
Quais são as suas referências no mundo da música?
Minhas maiores referências musicais são artistas fora da cena eletrônica. Cazuza é minha maior inspiração, Legião Urbana, Charlie Brown JR. Tenho referências no pop, brega, é difícil me definir em um padrão, sou completamente fora de qualquer um! Mas qualquer música boa me inspira
Qual conquista você atribuiria como a maior da sua carreira até o momento? E nos revele um sonho no mundo da música, que ainda almeja conquistar?
Ser o primeiro DJ homem trans da história do Psytrance. Ter feito parte de tantos selos e ter trazido o psy music para o sertão de uma forma bastante intensa! Me apego às coisas simples! Um sonho é conseguir arrastar cada vez mais pessoas para o meu estilo, e, claro, definir cada vez mais minha identidade musical de forma que quando eu toque as pessoas reconheçam de longe quem está tocando, só ouvindo! E, em breve, vem aí. Uma Euro Tour tbm não faz nada mal, né?
Conta para a gente uma curiosidade sobre você e se isso ajuda ou atrapalha no seu processo de produção?
Não ter um lugar fixo é muito bom, mas isso atrapalha o processo de construção, produção, outra coisa que me atrapalha também é que gosto de transformar sentimento em música, então, nem sempre bate aquela vontade de fazer só uma coisa. Uns dias, quero escrever um poema, outro produzir um vídeo e, assim, vou indo. No todo, me considero um artista que sempre está ali vivendo da arte, não só da música.
“Quero agradecer imensamente a todos os meus apoiadores e amigos, nessa jornada que foi todo esse tempo! À toda família Start Bookings, onde construí toda minha carreira e formei minha base sólida, trazendo a mensagem de família pra dentro da agência em conjunto com Theodora, onde sempre reafirmamos nosso compromisso e respeito com a cena! Tentando somar sempre cada vez mais e da melhor forma possível! Espero que cada vez mais a gente cresça essa família e aguardem VEM MUITA COISA BOA! E sim, vamos TRANSGREDIR e revolucionar cada vez mais a cena!!! Eu amo vocês demais!” – LORENZO ZIMON.
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Nota da Colors:
Enquanto preparávamos a edição definitiva desta entrevista, nosso DESTAQUE alcançou mais uma grande conquista: foi vice-campeão do concurso Mister Brasil Trans 2022! Parabéns Lorenzo! Toda a equipe da Colors te felicita e desejamos um novo ano ainda mais repleto de realizações e muito sucesso!